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O brasil e os biocombustíveis

O pronunciamento da comunidade científica internacional feito neste ano, alertando os países industrializados sobre a veracidade do aquecimento global, pelos gases de CO2, pode ajudar o Brasil a ocupar lugar de destaque nos negócios externos, sobretudo na área de energia, mais precisamente, nos biocombustíveis.

Mais de 80% da economia internacional depende amplamente do uso do petróleo para mover a economia dos países; e o Brasil é um dos poucos exemplos a ser mencionado para diminuir o peso que o ouro negro apresenta atualmente. Se a emergência de novos combustíveis renováveis é salutar para dirimir os efeitos do aquecimento global isso significa, então, que o Brasil terá de ser ouvido no concerto dos países industrializados ou aqueles em desenvolvimento.

Isto porque, em se tratando de calor e de combustão, o Brasil tem papel de destaque nos assuntos energéticos porque sua economia não depende, antes de tudo, dos elementos fósseis, a exemplo dos Estados Unidos e do Japão. O País conseguiu desenvolver, no decorrer de 30 anos, significativa tecnologia para o desenvolvimento de insumos renováveis, os biocombustíveis, cujo mais conhecido tem sido o etanol, o álcool hidratado, em uso desde 1979.

A fórmula brasileira é relativamente simples, tropical, e por ser assim é de difícil reprodução em âmbito global, ambientado em grande parte na economia petrolífera, mais adaptável à realidade européia e japonesa. Trata-se da biomassa, plantação de cana-de-açúcar em que o suco fermentado se transforma em combustível a partir de variados processos.

À primeira vista a presença do etanol na pesquisa brasileira é uma benção que pode transformar o País em uma espécie de emirado canavieiro, fornecedor de uma energia, cujo papel é ser cada vez mais relevante na economia internacional. Mas não podemos deixar de ser implicantes, mesmo em uma situação de positivo destaque do Brasil, como há muito não se via. Não podemos perder de vista que há questões ainda muito sérias na vida socioeconômica nacional. Não faz tanto tempo havia reclamações prementes sobre as maneiras morosas de dar escoamento à produção de soja das regiões mais distantes. Havia a queixa da má qualidade das ferrovias e estradas de rodagens. A questão ainda não se calou.

Há algumas implicações da economia e política internacionais que não suportam vacilo. Se é verdade que não é conveniente um país depender de um único fornecedor de energia, o Oriente Médio para o petróleo, como bem frisou o presidente norte-americano, George Bush, em sua visita ao Brasil, também deve ser verdade que não é lícito um país prometer fornecimento de energia e não cumpri-lo por falta de condições básicas, como a existência de ferrovias eficientes e condições econômicas.

Faz-se necessário deixar claro que não se trata da reedição do antigo Instituto do Açúcar e Álcool (IAA) de ampla presença na vida brasileira, durante a década de 1970, que centralizava os assuntos relacionados ao Programa Nacional do Álcool (Proalcool). Contudo, a fórmula desenhada nos primeiros anos da década de 1990 também não parece ser pertinente. O papel que se espera dos governos federal e estaduais, é de ser um aliado do setor específico, não com políticas sufocantes, mas sim com meios de fazer com que o produtor seja atendido com medidas concernentes para o fim que se espera dele: de transformar o Brasil em um verdadeiro global player em uma área que, definitivamente, o País tem lugar ímpar.