A crise do petróleo, o interesse por energias alternativas, o aumento do consumo de açúcar e o boom dos carros bicombustíveis estão transformando o setor canavieiro no negócio mais promissor da agroindústria brasileira. O setor, que gera mais de um milhão de empregos e movimenta algo em torno de 40 bilhões de reais, tem vivido um crescimento surpreendente. Estão sendo construídas, hoje, pelo menos 40 novas indústrias de açúcar e de álcool no país e boa parte das 300 usinas que já existem está sendo ampliada ou aperfeiçoada.
O açúcar brasileiro movimenta, em média, 70% dos contratos na bolsa de mercadorias de Nova York e o preço do produto tem sido animador, no mercado internacional. A expectativa é que, nos próximos dez anos, as exportações brasileiras de açúcar cheguem à casa das 20,5 milhões de toneladas.
Mas a euforia no setor é puxada, mesmo, pelo álcool. A alta dos preços do petróleo e a busca por energias renováveis têm colocado o Brasil no centro das atenções mundiais. Com o Proálcool, da década de 80, saímos na frente e desenvolvemos uma tecnologia e um know how hoje cobiçados por países de Primeiro Mundo. O Brasil também domina a tecnologia para produção de veículos bicombustíveis, capazes de rodar tanto com álcool quanto com gasolina. Não é à toa que franceses, alemães, americanos e japoneses, entre outros, estão de olho no álcool brasileiro e que o país, de um tempo para cá, vem assinando vários acordos internacionais tanto para a cooperação tecnológica quanto para exportação do combustível.
O resultado já é visível: no ano passado, mais de 16 bilhões de litros de álcool saíram das usinas brasileiras, o dobro da produção no auge do Proálcool. Na ultima década, o Brasil exportou uma média de 100 milhões a 120 milhões de litros de álcool por ano. Em 2003, as exportações pularam para 700 milhões de litros e, em 2004, para 2,321 bilhões de litros. A expectativa, para a próxima década, é que as exportações de álcool cresçam em média 12,6% ao ano. Os mais eufóricos apostam que o Brasil pode se transformar na maior potência energética do planeta.
Tanto otimismo, no entanto, tem que ser dosado com planejamento estratégico e políticas públicas capazes de dar ao setor sucroalcooleiro o suporte que merece. É bom lembrar que o Proálcool, tão festejado nos anos 80, foi por água abaixo quando o governo cortou o financiamento aos pequenos produtores e faltou combustível nos postos, com enormes prejuízos para os consumidores. Dessa vez, o programa brasileiro de combustível alternativo ao petróleo precisa de fôlego suficiente para, ao mesmo tempo, aumentar o ritmo das exportações e segurar o abastecimento interno.
O acordo firmado na última semana entre o governo e o setor é um primeiro sinal de alívio para os consumidores, escaldados pelo desabastecimento na década de 80 e assustados com a recente escalada de preços do combustível. A redução do preço nas bombas vai ficar abaixo da expectativa, mas a promessa de antecipação da próxima safra no Sul, Sudeste e Centro-Oeste espanta o fantasma de que o álcool possa desaparecer dos postos de uma hora para outra.
Nessa nova fase, existe uma grande vantagem: o setor sucroalcooleiro tem uma visão muito mais profissional, guia-se pelas regras de mercado e aposta cada vez mais em tecnologia e inovação. Mais: não precisa estar limitado à regulamentação do Estado, que antes determinava onde e quanto plantar, quando e por quanto vender.
Seria ilusão, no entanto, acreditar que o setor prescinde do apoio governamental. Sem uma reforma tributária consistente, sem uma queda mais substancial das taxas de juros, sem a redução da burocracia, a equalização de custos e um investimento reforçado em infra-estrutura, nossos produtores vão ter dificuldades para competir com as grandes multinacionais, cada vez mais interessadas nas nossas usinas. A atual política cambial é outra pedra complicada no caminho do setor sucroalcooleiro. Um setor estratégico para o Brasil. E é assim, efetivamente, que precisa ser tratado.