Mais do que reforçar o caixa da Petrobrás, o reajuste dos preços dos combustíveis a partir de hoje é positivo porque transmite ao mercado a mensagem de segurança de que pelo menos um aumento de preço ocorrerá a cada ano, em linha com a promessa do governo, afirma o professor do Instituto de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Edmar Almeida.
Ainda assim, ele defende a adoção pelo governo de uma política de reajuste mais previsível para reduzir as incertezas dos investidores. “A incerteza é um grande empecilho ao investimento privado no segmento de combustíveis no Brasil. Não é apenas um reajuste que vai resolver esse problema estrutural”, afirma.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Reajustes nas proporções de 3% e 5% para a gasolina e o diesel, respectivamente, vão resolver o problema de caixa da Petrobrás?
É importante ter o reajuste, porque mostra que a regra de ter ao menos um aumento por ano, como prometeu o governo, continua valendo. Havia muita preocupação em razão da inflação. Os porcentuais são pequenos, porque a defasagem entre os preços internos e externos foi reduzida. Mas afirmar que esses reajustes não contribuem em nada para a empresa não é certo. Gasolina e diesel são os seus principais produtos. Se os preços, daqui para a frente, continuarão ou não alinhados com o mercado externo, vai depender do câmbio e do preço do petróleo nas próximas semanas, que estão mais voláteis.
Qual o impacto desses reajustes na capacidade de investimento da Petrobrás?
Qualquer aumento de preço é positivo. Além de gerar mais caixa com a venda de combustíveis, reduz as perdas com a importação de derivados de petróleo. É claro que o plano de investimento da Petrobrás é muito grande. O seu financiamento não depende só de aumento de preços, mas de uma série de fatores, como de caixa livre.
Como o mercado deve perceber esses porcentuais de reajustes?
O mercado já não aguardava um aumento muito grande, porque sabe que a defasagem diminuiu. O importante para o mercado é que houve reajuste. Isso dá uma esperança de que haverá outros daqui em diante. No longo prazo, é importante rediscutir a política de alinhamento dos preços que torne o processo mais previsível. Isso é mais importante do que reajustar preços em um curto período de tempo. A incerteza é um grande empecilho ao investimento privado no segmento de combustíveis no Brasil. Não é apenas um reajuste que vai resolver esse problema estrutural.
O anúncio de alta dos preços dos combustíveis será suficiente para melhorar o humor dos investidores com a estatal?
É um começo. A empresa ainda tem muitos problemas a enfrentar relacionados à governança corporativa. É evidente que as atenções se voltam, neste momento de denúncias de corrupção, para a governança da companhia. O reajuste tem efeito positivo, mas a empresa ainda tem muitos desafios pela frente.
Fonte: O Estado de São Paulo