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"O álcool é e sempre será coadjuvante em relação ao petróleo"

"O álcool é e sempre será coadjuvante em relação ao petróleo"

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Biagi é um sobrenome emblemático no setor sucroenergético. Um de seus portadores, o Luiz, falou com exclusividade ao JornalCana sobre o atual cenário do segmento. No bate-papo, o empresário fez uma análise crítica sobre crise industrial, em especial, na região de Sertãozinho, interior de São Paulo, considerada um polo canavieiro.

Com experiência suficiente para apontar caminhos, Luiz Biagi, formado em economia, revela, entre outras coisas, que o etanol nasceu para ser coadjuvante em relação à gasolina, além de apostar na biomassa como importante fonte financeira para setor sucroenergético.

Confira a entrevista exclusiva:

JornalCana: O setor sucroenergético passou por um período de retração em 2012, sendo que a crise afetou diretamente a área industrial. Como enxerga o atual cenário?

Luiz Biagi: Existem muitos projetos e investimentos pontuais, o que é um fator positivo diante desta situação. Com o mercado de cogeração se aquecendo, muitas usinas estão reformando seus equipamentos, quando não comprando novos. Acredito que no futuro essa área deva movimentar bastante a economia, já que o Brasil precisa de energia limpa. Hoje começamos a ter dificuldade no suprimento de energia elétrica, o que me deixa otimista em relação a biomassa.

Todos os problemas se resumem a falta de políticas públicas?

Não, claro que não. Muitos são decorrentes da falta de visão dos empresários. O Brasil ainda não encontrou o acolhimento verdadeiro para o etanol, isso é verdade. Certo momento a Petrobras é onerada, outrora o produtor de etanol, ou seja, não há um caminho definido. Por essas dificuldades, acredito que no futuro teremos o modelo ideal de negócio, que favoreça todas as partes, inclusive ao país. Mas esse não é um problema recente. Desde que surgiu o Proálcool, há 40 anos, convivemos com essas alterações.

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E o que o setor deve fazer?

Temos muitas coisas para realizar. Existem muitos pontos que estão sendo deixados de lado. É primordial termos produtividades agrícola e industrial melhores. Mas, para isso, são necessários aprimoramentos que tornem o setor mais competitivo. O desafio é esse. Precisamos ter, por exemplo, o etanol competitivo em função do aumento de produtividade, não apenas do preço. Infelizmente, essa é a realidade, não fazemos nossa parte.

Antes desta crise, o segmento vinha crescendo continuamente, o que deixou os empresários relaxados. A queda fez com que eles retomassem o trabalho adequado?

Acredito que sim. Passamos também por um período de transição em relação a mecanização, tanto no plantio quanto na colheita. Isso logicamente cria problemas que dificultam a evolução. Passado esse período, tenho certeza que retomaremos a linha de crescimento mais fortes.

O senhor falou em um modelo ideal na política de combustíveis. Qual sua opinião sobre tal assunto?

É evidente que precisamos de uma estrutura melhor neste sentido. O álcool é e sempre será coadjuvante em relação ao petróleo. Não devemos ter a pretensão de ser a estrela, mas sim, sermos humildes e aceitar o papel de coadjuvantes. O etanol nasceu para ser um aditivo no mundo todo. Mas, hoje, já é possível ver muitos países utilizando etanol, o que gera um conceito mundial, fortalecendo o biocombustível.

E o açúcar, onde entra nesta história toda?

A produção de açúcar está crescendo no mundo todo. África, Tailândia, entre outros, estão evoluindo a cada ano nessa área. Para nós, o açúcar tem sua grande parcela de importância. Mas, na minha opinião, ele não vai valorizar a cana. Esse papel é do etanol, então, temos que caprichar na sua produção.

Sobre biomassa, que o senhor já disse estar crescendo. Qual o futuro brasileiro?

Nas usinas, temos que melhorar o gasto de vapor. As unidades gastam em torno de 400 kg de vapor/tonelada de cana, valor alto e que pode ser reduzido com os aprimoramentos existentes. Com isso, teremos mais vapor para cogeração. Costumo dizer que este processo é um soro na veia do empresário, ou seja, renda que paga parte expressiva do custo fixo. Além de melhorias na área agrícola, investir em cogeração é um ponto fundamental.

Com relação aos preços nos leilões de energia elétrica. Qual sua avaliação?

Precisa aumentar para o empresário voltar a investir. Pensar em energia eólica, como o governo tem feito, é uma falha de visão que muito em breve deve ser corrigida.