Ainda sob efeito dos estragos causados no Vale do Açu – região que concentra produção de frutas e camarão no Rio Grande do Norte -, as exportações do estado acumularam US$ 185,6 milhões, queda de 2,2%, de acordo com os dados de julho, enquanto nos números do primeiro semestre, a retração havia sido de 1,3%. De acordo com as informações divulgadas ontem pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec), um dos itens que chamou a atenção no mês passado foi “alimentos para cães e gatos”, que não tinha registro de vendas para outros países até 2007.
O aumento da queda com os dados de julho se dá porque, quando isolado, o resultado do mês passado apresenta uma redução de 9%. A Sedec ainda está avaliando os motivos desse encolhimento.
Em relação aos valores de janeiro a julho, a castanha de caju continua na liderança da pauta, com US$ 29,2 milhões, representando um aumento de 31,1% em relação às exportações em 2007. O produto se destaca também em outro item, “outros sucos/extratos vegetais”, que registrou o maior aumento entre os principais itens, de 103%. De acordo com o coordenador de Comércio Exterior da Sedec, Otomar Lopes Júnior, essa mercadoria tem forte presença de líquido de castanha de caju (LCC), retirado da casca do fruto e que é útil a indústrias, em usos como combustível para transformadores e lubrificante para máquinas.
Com o melão em segundo lugar, a fruticultura continua puxando as exportações do estado. A safra da fruta deste ano ainda não começou a ser vendida – o que, para a Sedec, indica que os próximos meses deverão trazer bons números para a pauta. O açúcar também se manteve na posição de junho, em terceiro lugar. Com incremento de 62%, o produto rendeu US$ 15,8 milhões aos exportadores entre janeiro e julho. Ocupando o quarto lugar e mantendo o movimento de queda, o camarão somou US$ 15,7 milhões em vendas para outros países. Porém, apesar da redução de 25,7% entre janeiro e julho, teve incremento de 35% quando comparados apenas os resultados de julho deste ano e de julho de 2007.
Outras informações trazidas pela compilação da Sedec mostram que as importações mantém o crescimento, atingindo US$ 129,2 milhões, 61,9% a mais do que os sete primeiros meses de 2007.
Ração
De acordo com a Sedec, a venda de produtos destinados à alimentação de cães e gatos era inédita no estado até o ano passado. Otomar Lopes explica que ela vem acontecendo discretamente desde o início do ano, mas no mês passado houve um salto, com US$ 705 mil, 30% dos US$ 2,3 milhões negociados desde janeiro.
Esse material – partes como fígados e rins – pode ter sido vendido como matéria-prima para rações de animais domésticos. A Sedec ainda está apurando detalhes junto à empresa exportadora, de São Paulo, para identificar, por exemplo, quem são os fornecedores potiguares.
Retomada requer atenção do governo
A cultura de banana foi uma das maiores prejudicadas pelas chuvas que inundaram o Vale do Açu em abril. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, a principal exportadora da fruta no estado, a Del Monte, registrou queda de 44,9% em suas exportações no acumulado de janeiro a julho – ela representa quase 100% da banana exportada no estado. Um cenário que deverá se manter, uma vez que a empresa não tem planos de replantar a área devastada – 35% do total. Segundo informações da Del Monte, isso seria possível se o governo estadual cumprisse a promessa de autorizá-la a vender os créditos da Lei Kandir (que ressarce exportadores do ICMS gasto com insumos). A empresa alega ter R$ 10 milhões em créditos. Sem reativar os campos, as 1,4 mil pessoas dispensadas também não voltam ao trabalho e o prejuízo na produção, em volume, chega a 60%, o equivalente a 54 mil toneladas.
Outro segmento do agronegócio que se sente prejudicado pela ausência do governo é a carcinicultura. O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, reclama que, se não fosse a iniciativa de empresários da região, sequer os acessos às fazendas e comunidades teriam sido restaurados. “Pedi por escrito uma audiência com a governadora há mais de um mês e não obtive resposta”.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa do vice-governador, Iberê Ferreira de Souza – que tem cuidado do assunto – mas não obteve resposta.