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Novo modelo elétrico não inclui setor na matriz energética

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor de 4,5% em 2004. E crescimento econômico pressupõe maior consumo de energia elétrica. “O Brasil precisa expandir sua capacidade de geração em 3.000 MW por ano e as estatais não têm como fazer isto sozinhas. A necessidade de investimento é maior do que a capacidade do Sistema Eletrobrás. Por isso, é preciso a participação da iniciativa privada.” Estas foram palavras do secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, na apresentação, em dezembro, do novo modelo do setor elétrico na Bovespa em São Paulo.

Para o setor sucroalcooleiro, o novo modelo nada trouxe de novidade. “Estamos prontos para implantar um projeto prá cogerar 17 MW que prevê um investimento de R$ 35 milhões, mas a incerteza do mercado de energia elétrica está retardando a implantação desse projeto”, afirma o empresário Jairo Balbo, um dos diretores do Grupo Balbo (usinas Santo Antonio e São Francisco), na região de Ribeirão Preto (SP). Foi ele que há mais de 10 anos aceitou o desafio do governo e comandou um projeto piloto de cogeração que hoje cogera 6 MW para a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz).

Atualmente, o mesmo empresário que se entusiasmou com a produção de energia elétrica a partir da queima do bagaço da cana se transformou num crítico do novo modelo elétrico lançado pelo governo em dezembro. “É uma proposta estatizante e que não levou em consideração o potencial do setor sucroalcooleiro”, afirma Balbo. O setor sucroalcooleiro poderia rapidamente produzir 8 mil mega watts (2/3 de Itaipu), e até mesmo chegar a 15 mil mega watts dependendo do desenvolvimento de novas tecnologias e aproveitamento total da palha da cana hoje queimada.

Segundo relatório da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), existem em operação 34 usinas em cogeração, que totalizam 619.5 MW. Em construção, encontram-se sete usinas, que somam 75 MW. Em outorgas na agência, são mais de 390 MW. Apesar de todo esse potencial, o governo teve que colocar em prática o novo modelo elétrico ainda em dezembro, acionando 14 termoelétricas para resolver o problema de desabastecimento de energia elétrica. Tudo isso aconteceu em plena safra sucroalcooleira do Nordeste.

O presidente do Sindaçúcar/PE (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool em Pernambuco), Renato Cunha, vê com preocupação a ausência do setor sucroalcooleiro no modelo elétrico anunciado pelo governo, apontando para o exemplo do acionamento das termoelétricas para evitar um apagão no Nordeste. “A capacidade de cogeração das usinas e destilarias não foi sido levada em consideração no novo modelo elétrico, como no Nordeste, onde temos condições de cogerar 3 mil MW”, afirma o presidente do Sindaçúcar/PE, que chegou a participar no início de dezembro de uma reunião com a ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, para discutir a participação do setor na reserva técnica de energia para o País. “O setor sucroalcooleiro se constitui em uma grande alternativa quanto a dependência e vulnerabilidade do modelo atual, baseado na hidrologia”, diz Cunha.

No caso do Nordeste, Balbo adverte que “o preço do MW das termoelétricas acionadas no Nordeste foi R$ 300,00, enquanto para o setor sucroalcooleiro esse valor é R$ 80,00”. E o pior é que o novo modelo elétrico não trata desse assunto, reservado para o Proinfa (Programa de Incentivo a Fontes Alternativas), que objetiva estimular a co-geração de energia alternativa. “O que consta é que entre o final deste mês e fevereiro o governo deverá fazer a chamada pública e confirmar a contratação de 1,1 mil MW de energia produzida a partir de biomassa, e o setor sucroalcooleiro responde por 90% desse segmento”, acrescenta Isaias Bernardini, diretor-executivo do Sindálcool/MS (Sindicato da Indústria da Fabricação do Açúcar e do Álcool do Estado do Mato Grosso do Sul).

Leia matéria completa sobre a repercussão no setor do novo modelo elétrico na edição deste mês do JornalCana.