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Novo desafio profissional dos Gradin

Envolvido todo este ano em uma disputa judicial com a Odebrecht, o empresário Bernardo Gradin está virando a página de sua vida profissional. À frente da GraalBio, do grupo Graal, a empresa recém-criada pelo ex-principal executivo da petroquímica nacional Braskem , e por seu irmão Miguel Gradin, vai investir em inovação voltada para as áreas de bioquímicos e biocombustíveis.

“Estamos desenhando um projeto para se tornar uma plataforma para pesquisa, desenvolvimento e industrialização de biotecnologias para converter biomassa em bioquímicos e biocombustíveis”, disse Gradin ao Valor.

Os novos desafios de Gradin passam pela biotecnologia. “Vai englobar desde tecnologia para aplicação e melhoria da biomassa, encontrar matérias-primas mais produtivas, até tecnologias de fermentação e gaseificação”, disse o mais novo empresário desse ramo. As matérias-primas que serão alvo da nova companhia são a cana e eucaliptos.

A GraalBio foi estruturada como uma S.A. (Sociedade Anônima). Debaixo dessa companhia foram criadas outras cinco, as quais deverão atuar em diferentes áreas de negócio, todas voltadas para inovação. A plataforma da GraalBio será construída por meio de aquisições e associações com empresas detentoras de tecnologia de ponta. O empresário vai anunciar hoje uma parceria com a italiana Mossi & Guisolfi (M&G) nesse segmento.

A nova companhia de Gradin busca transformar biomassa em bioquímicos, que podem englobar futuramente fármacos e até bionafta, além de soluções tecnológicas para a produção de biocombustíveis de segunda geração, explicou. A GraalBio poderá participar de parte ou de todas as etapas de um projeto. Isso vai depender de como irá analisar a oportunidade do negócio e da possível aliança que poderá ser formada para tocar o negócio.

Na primeira etapa, a GraalBio deverá investir com futuros parceiros, até março de 2012, em uma unidade-piloto para testar a tecnologia. Esse investimento ficará entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões, que deverá ser instalada em São Paulo. A segunda etapa prevê a construção de uma planta “demo”, com aportes que poderão chegar a US$ 75 milhões, em local ainda não definido. “Estou disposto a correr risco tecnológico que outras empresas não estão dispostas”, disse. Gradin está conversando com empresas visando firmar parcerias para desenvolvimento tecnológicos de biocombustíveis e químicos.

A área de biocombustíveis é vista pelo empresário com grande potencial de expansão. Segundo ele, a GraalBio poderá complementar a produção convencional de etanol, por exemplo.

Hoje, a produção de etanol no Brasil está estimada em 24 bilhões de litros, mas os volumes na atual safra não são suficientes para atender à demanda no mercado interno, o que levou o governo federal a reduzir a alíquota do álcool anidro na gasolina para evitar o desabastecimento. O Brasil também está importando álcool combustível dos EUA, país que superou há pouco tempo a produção brasileira e que está investindo pesado em biocombustíveis de segunda geração. Tradicionais produtores de etanol do Brasil ainda são céticos sobre a produção de etanol de segunda geração e as poucas pesquisas nesse caminho não avançam na mesma velocidade das realizadas no território americano.

Uma agenda complementar da GraalBio é desenvolver também centros avançados de pesquisas no Brasil. A empresa está contratando dois acadêmicos – um da USP (Universidade de São Paulo) e outro da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) – para desenvolver pesquisas que vão da biogenia (modificação de microorganismos) até tecnologias aplicadas a materiais especiais.

Os planos de Gradin são ambiciosos. Como aluno aplicado, ele participou nos últimos meses de reuniões, fóruns e palestras para entender desse novo segmento. E seu discurso já se assemelha a de um veterano nesse campo.

Desde o fim de 2010, a família Gradin está envolvida em uma disputa judicial com os controladores do conglomerado Odebrecht, na qual são acionistas minoritários. A família Gradin, representada pela Graal Participações, detém 20,6% das ações da Odbinv, holding que controla a Odebrecht S.A.

Com a carreira toda dedicada ao grupo Odebrecht, Bernardo Gradin, engenheiro civil com MBA na Wharton (EUA), quer mudar o rumo de sua história profissional. Na Odebrecht, atuou na construtora (CNO), foi para a Trikem, que originou a Braskem. Presidiu a companhia de 2008 ao fim de 2010.