Acordo com o BID deverá permitir o desenvolvimento de um programa de biodiesel. Concentrando em seu território um dos mais promissores potenciais energéticos do Nordeste, o estado de Alagoas deve concluir, até dezembro, a primeira etapa do mapeamento sobre demanda reprimida de energia. Para formatar essas informações estão sendo investidos mais de R$ 3 milhões no Programa de Desenvolvimento Energético do Estado de Alagoas (PDE), com apoio técnico da Eletrobrás e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Segundo o consultor contratado pela Eletrobrás para coordenar o estudo, Flávio Braz Pires, o mapeamento objetiva não só aprofundar estudos e cadastros sobre o potencial energético alagoano, mas levantar a viabilidade de se utilizar fontes alternativas de energia para agregar a processos de desenvolvimento social, incentivar a agricultura familiar e diminuir a exclusão digital no interior.
“Com essa vertente, podemos recomendar iniciativas, no campo energético, que deverão ser tomadas para estimular o desenvolvimento do estado de Alagoas como um todo”, explica o consultor.
Segundo Pires, o projeto encontra-se em fase inicial, mas os focos mais evidentes do potencial energético do estado já são claros. “Alagoas tem como principais instrumentos o biodiesel, pequenas centrais hidrelétricas e a energia eólica. Mas o que vejo para uso mais imediato é a biomassa (energia gerada por meio do bagaço da cana-de-açúcar). Hoje ela já é utilizada no estado, mas não de forma estruturada”, avalia.
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico do estado, Arnóbio Cavalcanti, o Programa de Desenvolvimento Energético vai colocar Alagoas na rota dos investimentos na área. “Com esse mapeamento definindo as alternativas viáveis, Alagoas passa a ser o foco de investimentos no Nordeste, já que tem um imenso potencial em biomassa: o estado se destaca na produção de cana-de-açúcar e também de energia eólica porque sua posição geográfica concentra três dos dez principais pontos de ventos do Nordeste”, informa.
Segundo Cavalcanti, uma prova do potencial alagoano é que o estado está negociando um acordo de cooperação técnica com o BID para promover o desenvolvimento de um programa de biodiesel. Atualmente, a produção do combustível, a partir da mamona, é realizada em sete municípios de 33 que foram identificados por meio de zoneamento agrícola da Embrapa. A meta do Governo de Alagoas é beneficiar 2 mil famílias com a produção do biodiesel a partir da mamona.
As autoridades e técnicos envolvidos com o tema explicam que, com o mapeamento energético, o estado de Alagoas se habilitou ao Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), que visa diversificar a matriz energética nacional para reforçar a produção e diminuir os níveis de dependência das hidrelétricas.
O programa, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, estabelece a contratação e injeção de 3,3 mil MW de energia no Sistema Interligado Nacional, produzidos por fontes eólicas, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas, sendo 1.100 MW de cada fonte.
Hoje, a Usina Coruripe é a única a vender energia à Eletrobrás por meio desse programa de incentivo, que beneficia as empresas interessadas com financiamentos federais e garantia da compra de toda energia produzida. O empresário que decide investir pode prever, de acordo com produção projetada, quanto vai receber todos os meses.
De olho nessa lei, a Secretaria Coordenadora de Desenvolvimento Econômico buscou mapear as potencialidades alagoanas (requisito básico para entrar no programa). Segundo o secretário Arnóbio Cavalcanti, há boas perspectivas nas áreas de biomassa, gás natural e energia eólica.
As análises recentemente concluídas pelos técnicos alagoanos ressaltam que, graças ao potencial energético, o estado já atrai investimentos nacionais e internacionais.
Desde fevereiro, o grupo espanhol Taim-TFG está investindo no setor de energia eólica. Os empresários escolheram os municípios de Marechal Deodoro e Coruripe para a instalação de duas torres.
Durante 12 meses, serão coletadas informações e, caso seja confirmado a viabilidade energética, Alagoas será o primeiro estado a receber um parque eólico do grupo estrangeiro, decidido a fincar uma operação no Brasil. Somente para a pesquisa, o investimento previsto é de R$ 200 mil por torre. Na construção de um parque, por exemplo, o investimento em cada opção oscila entre 40 milhões e 60 milhões de euros, dependendo do tipo do equipamento em função da intensidade dos ventos na área. Durante a construção serão gerados cerca de 150 empregos diretos.
Pernambuco
Em Pernambuco ainda não existem grupos privados interessados em investir em energia eólica. Em convênio com a Universidade Federal de Pernambuco a distribuidora Celpe mantém um gerador eólico numa praia da cidade de Olinda e outros dois na Ilha de Fernando de Noronha, cujas operações servem de base para estudos de viabilidade com vistas à multiplicação desses equipamentos. Entretanto a queima de bagaço de cana-de-açúcar para geração de energia tem sido adotada por usinas situadas na zona da Mata Norte pernambucana.
As usinas perceberam que o bagaço da cana poderia ser uma fonte extra de renda. No início desta década, pioneiramente, os empresários do setor começaram a investir em tecnologia para aproveitar toneladas de bagaço que eram produzidas a cada safra. Com a queima desse material, as usinas passaram a produzir energia elétrica para consumo próprio e o excedente passou a ser vendido para a concessionária de energia do Estado.
De acordo com Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool (Sindaçúcar), o estado foi pioneiro na geração de bioeletricidade, energia proveniente da queima do bagaço. Os investimentos das usinas aumentaram desde 2001, com a crise do setor elétrico no Nordeste, devido à redução do volume de água no Lago de Sobradinho.
Nesse período, o Sindiaçúcar liderou um pool com cerca de 13 usinas que passaram a fornecer energia elétrica para a concessionária local de distribuição. O estado conta agora com duas grandes térmicas de geração múltipla nas usinas Petribu, no município de Lagoa de Itaenga, e Grupo JB, em Vitória de Santo Antão. Elas fazem parte do Programa de Energia Emergencial e têm capacidade para gerar, cada uma, cerca de 20 megawatts.
A bioleetricidade é resultante da queima/combustão do bagaço da cana, que gera vapor. A força da combustão do vapor é transformada em eletricidade nos turbos alternadores instalados nas usinas térmicas. Um total de 12 usinas de Pernambuco fornece 15 megawatts de energia para a concessionária local, volume suficiente para abastecer uma cidade de 100 mil habitantes.
“As usinas estão consolidando o conceito de centrais integradas de energia e alimentos. Essa prática vem gerando empregos qualificados e colaborando, através do insumo energia, com o desenvolvimento do Estado. O nosso potencial de fornecimento é distribuído geograficamente em vários pontos da rede, pois as usinas se espalham pelo litoral”, explica Renato Cunha.