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Nova safra deve começar em tom de lamento por perda de oportunidade

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Unica

A nova safra terá início com a boa notícia que todo o setor sucroenergético queria ouvir há anos: o fim dos subsídios aos produtores de etanol à base de milho dos Estados Unidos e a eliminação da sobretaxa de US$ 0,54 sobre cada galão de 3,78 litros do etanol brasileiro pelo Congresso norte-americano. Tudo isso seria ótimo se o setor estivesse produzindo o suficiente para abastecer o mercado interno e ainda tivesse volume sobrando para exportar. A realidade, porém, é outra: a safra 2011/2012 que se encerrou em março deste ano teve uma quebra de cerca de 18% na produção, passando de 24,7 bilhões de litros em 2010/2011 para 20,3 bilhões de litros de etanol.

Foi uma redução impensável para um setor que estava acostumado a crescer a taxas de 10% ao ano, em média, de 2003 a 2008. Além da falta de chuvas e o ressurgimento de pragas nas lavouras, o fraco desempenho é resultado da falta de investimentos no setor à partir da crise internacional de 2008. “Não temos excedente para exportar, portanto, nada será alterado no curto prazo”, assegura Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica).

Embora muitas unidades estejam desengavetando projetos de expansão e outras se recuperando financeiramente, os efeitos disso só serão sentidos à partir de 2013/2014. Para citar dois exemplos do oeste paulista: a Branco Peres Açúcar e Álcool, situada em Adamantina, planeja ampliar sua produção e já realizou audiência pública para discutir possíveis impactos ambientais. O Grupo Bertolo, por sua vez, dono de duas usinas localizadas em Flórida Paulista e Pirangi, está conseguindo sanear suas finanças para voltar a investir. “Esse é um processo demorado e com diversos obstáculos pelo caminho”, explica Pádua. Por conta disso, diversos analistas acreditam que a próxima safra deverá ficar no mesmo patamar que a anterior.

Ao menos, demanda por etanol não faltará, apesar da redução do consumo em 13,8% em 2011 por causa da alta dos preços. O mercado interno continua aquecido pelo contínuo aumento das vendas de automóveis flex. A previsão é de que até 2020 será necessário um volume de 40 bilhões de litros do biocombustível para suprir a demanda interna. O que se espera é que não seja necessário apelar ao etanol americano – no ano passado foram importados 1,4 bilhão de litros daquele país.