Mercado

Nova safra deve aliviar reajuste do álcool

O aumento no preço do álcool combustível nas últimas semanas não deve se sustentar por muito tempo. A justificativa dos usineiros para os reajustes nos preços em plena safra de cana-de-açúcar – chuvas em excesso que atrasaram a colheita na região Sudeste – deve perder força. Apesar do que fontes ligadas às distribuidoras chamam de “um esforço dos usineiros” para elevar os preços, não há muitas alternativas de mercado para a safra de cana esperada e, com o inevitável aumento da oferta nas próximas semanas, os preços do álcool devem cair.

O executivo de uma distribuidora disse que as usinas já vinham tentando aumentar os preços há algum tempo, mas encontravam resistência. “Enquanto as distribuidoras tinham estoques, recusavam pagar o aumento, mas com a diminuição das reservas isto não foi mais possível”, disse. “Parece que foi um movimento orquestrado, já que o aumento ocorreu no momento da safra, quando o preço deveria cair, e em um ano que as usinas tinham um estoque de passagem elevado.”

O chamado estoque de passagem é a reserva que as usinas têm para o período de entressafra, que terminou em abril. Segundo dados da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica), as reservas para a última entressafra eram de 1,4 bilhão de litros de álcool, mais que o dobro das reservas para a entressafra anterior, que foram de 600 milhões de litros. A reserva deste ano seria suficiente para, segundo a Unica, abastecer o mercado por 40 dias com zero de produção por parte das usinas.

A Unica ainda não tem dados consolidados sobre quanto da reserva foi usada na entressafra. Segundo a entidade, os números sobre o volume atual armazenado ainda estão sendo levantados. A produção de álcool prevista para a safra 2004/2005 é de 13,3 bilhões de litros, um crescimento de 1,7% sobre o período anterior.

As justificativas usadas pelos usineiros para os reajustes do álcool – escassez do produto por conta das chuvas que retardaram a colheita da cana – são os mesmos que sustentam as previsões otimistas de que a tendência no curto espaço de tempo é de queda nas próximas semanas. Para o diretor superintendente da Ale Combustíveis, Cláudio Zattar, não há como manter os preços atuais com a safra esperada.

“É estranho que o aumento dos preços tenha vindo na entressafra, mas de qualquer forma ele é insustentável”, garantiu. “A expectativa, dos próprios usineiros, é de que haja muito álcool no mercado e isto vai ocorrer em algumas semanas.” A Ale reajustou o preço do álcool para os postos que atende em 24%. No caso da gasolina, por conta da adição de 25% de álcool, o reajuste praticado pela Ale ficou em 2,2%.

De acordo com o diretor do Sindicato das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz, o aumento não passa de uma bolha. “Os reajustes ocorreram por um pequeno atraso na produção e não vão se sustentar”, disse. “Em algumas semanas a produção de álcool aumenta e os preços recuam.”

O único fator que pode impedir o esperado recuo nos preços do álcool é o comportamento do mercado internacional de açúcar. Segundo o sócio-diretor da MS Consult, Fábio Silveira, uma alta dos preços do açúcar pode desviar parte da safra de cana que seria usada para o álcool. “Se os preços melhorarem no exterior, muitos usineiros, como já fizeram no passado, podem optar por reduzir a produção de álcool e aumentar a de açúcar para exportação”, alerta. “Fora essa hipótese, a safra de cana deve ser muito boa e produção de álcool também, colaborando para a estabilidade de preços.”

Enquanto a colheita da safra de cana-de-açúcar não deslancha, os aumentos no preço do combustível no atacado já chegam ao consumidor. O Sindicato do Comércio Varejista de Derivado de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), representante dos postos, estima que os preços nas bombas já estejam mais caros entre R$ 0,10 e R$ 0,12 no caso do álcool. Já na gasolina, os aumentos para o consumidor ficam entre R$ 0,03 e R$ 0,04 o litro.

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