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Nova quebra da safra de cana na Índia pode beneficiar o País

No próximo ano, a Índia mais uma vez deverá sustentar os preços internacionais do açúcar e gerar mercados para o Brasil no segmento sucroalcooleiro. Além da possibilidade de ter uma nova quebra na safra de açúcar local – as chuvas têm sido irregulares na Índia neste ano, o que poderia afetar a próxima safra -, a Shree Renuka Sugars Ltda, maior refinaria do país, anunciou que pretende duplicar as importações em 2010 com o objetivo de elevar sua capacidade e se beneficiar da alta dos preços domésticos.

A empresa irá processar 1,2 milhão de toneladas de cana-de-açúcar importado, no ano-safra que se inicia no dia 1 de outubro, em suas instalações no Haldia, no leste da Índia, e no estado de Karnataka, no sul do país, segundo Narendra Murkumbi. diretor da companhia indiana.

Em nota, Arun Baid, analista da Reliance Equities International Pvt., afirmou q! ue jáé aguardado um déficit de açúcar no próximo ano e os preços devem subir na próxima temporada. “Por concentrar grandes quantidades de açúcar bruto, a empresa colocou-se em uma posição vantajosa”, afirmou.

Na semana passada, a empresa indiana Simbhaoli Sugars Ltda revelou que planeja importar 150 mil toneladas de açúcar demerara até junho de 2010. O aumento nas compras por essas companhias e suas concorrentes deve alimentar o rally da alta do açúcar, que já está em patamares recorde.Desde o início do ano, os preços do açúcar bruto na Bolsa de Nova York registraram alta de 35%.

Para alguns analistas, os contratos futuros do açúcar bruto negociados em Nova York podem ultrapassar a barreira psicológica de 20 centavos de dólar por libra-peso. “Eu vejo os preços apontando para mais altas”, disse Lindsay Jolly, economista sênior da Organização Internacional do Açúcar (OIA). Para a especialista, a barreira dos 20 centavos pode ser quebrada em um curto período, dependendo ! do tamanho dos problemas no Brasil e na Índia.

Sudakshina Unnikrishnan, da Barclays Capital, também avalia que não há razão para os preços não apresentem novas altas. “Você tem sérias questões sobre o nível de sacarose no açúcar, e as usinas brasileiras estão tendo de atrasar a moagem por conta das chuvas”, afirmou.

Segundo a FCStone Group Inc, a demanda mundial de açúcar será superior a produção de 6,1 milhões de toneladas no ano que se encerrará em 30 de setembro, 30% do número inicialmente previsto. “A alta projeção para o final do ano e início do próximo ano não mudou”, disse Jeff Bauml, vice-presidente senior da OBrien & Associates.

Apesar do clima de otimismo despontar em várias regiões, no Brasil também há quem oriente cautela tanto ao produtor, para que não haja uma oferta excessiva, quanto para o investidor já que a tendência no longo prazo começa a apontar para um cenário de reversão. “Os preços já estão em níveis historicamente altos. A melhor estratégia é fixar esse preço”, avalia Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado.

De acordo com Biegai, o futuro do açúcar já se encontra em uma situação de mercado invertido com os preços próximos mais altos que os preços futuros, devido ao problema de oferta no curto e médio prazo. Os contratos futuros do açúcar demerara na Bolsa de Nova York, com vencimento em março de 2010, estão cotados em 19,25 centavos de dólar por libra-peso, enquanto os contratos com vencimento em outubro do mesmo ano estão cotados a 17,96 centavos de dólar por libra-peso.

“Às vezes o mercado exagera e os preços atualmente estão muito bons, mas os preços sobem de escada e descem de elevador”, avaliou Biegai.

No mercado interno brasileiro, tanto produtores independentes quanto as usinas estão aproveitando para escoar a produção sem formar estoques. Segundo Mariana Pessini, pesquisadora da commodity no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), eles estão aproveitando a oportunidade para fechar contratos imediatos de exportação. “A alta dos preços internacionais acaba refletindo no mercado interno e as vendas são feitas com mais interesse na exportação”, disse.

O acréscimo no preço interno é de 1,75% no mês de julho, negociado a R$ 41,75 a saca, com impostos, posto usina.

No próximo ano, a Índia mais uma vez deverá sustentar os preços internacionais do açúcar e gerar mercados para o Brasil ao importar mais cana-de-açúcar para refinarias.