Matéria publicada pelo JC abordou um recente acordo firmado, em Tóquio, entre uma trading japonesa e a Petrobras, que pode viabilizar o Canal do Sertão em seu futuro percurso no extremo oeste de Pernambuco, contribuindo, dessa forma, para incentivar a produção de álcool no Vale do São Francisco. Ali, já existe uma usina, mas no lado da Bahia, que é por sinal a que apresenta maior rentabilidade entre os produtores de açúcar, no Brasil.
Como estão começando, agora, através do Batalhão de Engenharia do Exército, os trabalhos preparatórios para dar início à abertura de outro canal, mais grandioso e polêmico, que pretende levar água, a partir de Cabrobó-PE, até o Ceará, a um custo avaliado em R$ 4 bilhões, é conveniente esclarecer que a matéria publicada em nosso caderno de Economia, no sábado, 9 de junho, refere-se a uma linha d’água a céu aberto, cujo ramal baiano já existe há décadas, a partir da cidade de Casa Nova. Ali é que foi instalada uma usina de açúcar, por um tradicional grupo produtor pernambucano.
Seguindo o mesmo modelo, há expectativa de que se inicie a produção de cana e outros produtos agrícolas em grande escala no Sertão do nosso Estado, com vistas à produção de bioenergia. O novo canal previsto, segundo a reportagem publicada em Economia, terá mais de 500 quilômetros de extensão, levando água do São Francisco a mais 16 municípios, o mais distante dos quais será Araripina, nos limites com o Ceará e o Piauí.
Na realidade, o que foi assinado na quinta-feira, 7 de junho, foi um protocolo de intenções, com a Itochu Corporation, para avaliar o potencial de produção de etanol, biodiesel e bioeletricidade, tendo como matérias-primas a cana-de-açúcar e várias oleaginosas, inclusive o dendê, que poderão ser produzidas nas proximidades do trecho futuro do Canal do Sertão.
A empresa japonesa é uma das líderes das companhias de trading, em todo o mundo, com mais de uma centena de associadas. Ela atua em campos que incluem infra-estrutura e construção, serviços financeiros, desenvolvimento de recursos naturais e mercado. Já a Petrobrás, maior empresa brasileira, originalmente orientada apenas para a exploração do petróleo, como se sabe está pretendendo investir pesadamente na área de biocombustíveis.
O texto jornalístico lembra que o trecho a ser beneficiado pela construção do canal fica muito distante dos principais portos da Região. Isso, certamente, reforçará a necessidade de acelerar as obras da ferrovia Transnordestina, capacitando-a a fazer escoar a produção para Suape, bem como os ancoradouros da Bahia e do Ceará.
Para Pernambuco, essa associação é da maior importância, podendo modificar inteiramente o perfil econômico do Estado. O setor sucroalcooleiro vê-se há bastante tempo limitado pela inexistência de novas áreas de exploração da cana-de-açúcar na Zona da Mata, e até mesmo pela ondulação dos terrenos na área, o que dificulta o plantio e, principalmente, a colheita, que não pode ser mecanizada. Uma das conseqüências desses fatos foi a migração de produtores locais para outras unidades da federação, como no caso citado da usina sertaneja que tem os campos irrigados com a água do São Francisco, na Bahia. Usinas de grupos pernambucanos também foram instalasdas em lugares mais distantes, como Mato Grosso.
Agora, surge a oportunidade única de expandir usinas, ou criar outras, voltadas principalmente para a produção de álcool etílico, em terras planas do Sertão pernambucano, ficando os problemas logísticos de escoamento da produção a cargo da própria Petrobras e da companhia com quem a empresa brasileira assinou acordo, já que o produto se destinará inicialmente, por contrato, para o abastecimento do Japão, grande importador de combustíveis líquidos.
No final do ano passado, a Petrobras havia assinado convênio com a Comissão de Desenvolvimento do Vale do São Francisco – Codevasf – para identificar oportunidades de produção de biocombustíveis. Resultou disso a escolha da cana e outros vegetais como matéria-prima para a produção de carburantes.