Um novo, desconhecido e próspero Nordeste, uma nova fronteira agrícola que se consolida ano a ano com a produção de grãos no oeste da Bahia, sul do Maranhão e sudeste do Piauí. É esta a nova aposta da Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN) para tirar do papel o secular projeto da Transnordestina. Com investimentos de R$ 4,5 bilhões em reforma ou ampliação de 1.860 quilômetros de trilhos, o governo federal planeja interligar as áreas produtoras de soja, milho e algodão aos Portos de Suape, em Pernambuco, e de Pecém, no Ceará. A partir de hoje, o JC mergulha em todas as grandes questões que envolvem o novo agronegócio nordestino e a necessidade de se criar uma logística que, no futuro, seja capaz de melhorar a economia da Região e a vida das pessoas. A série segue até o próximo sábado.
JAMILDO MELO
A produção de grãos da nova fronteira agrícola do Nordeste é a principal aposta da Companhia Ferroviária Nacional (CFN) para tirar do papel o secular projeto da Ferrovia Transnordestina, com um investimento de R$ 4,5 bilhões do governo federal. Nesse filão, o alvo é a produção de soja, cujo novo mapa de expansão nacional está sendo desenhado no extremo sul do Maranhão e no eixo Uruçuí-Bom Jesus, no sudeste do Piauí, depois de ter se consolidado no oeste da Bahia, desde o começo da década de 90. A CFN conta com o esgotamento das opções atuais de escoamento da safra para servir de alternativa aos produtores regionais.
A nova fronteira agrícola avança sobre o cerrado da Região Nordeste (veja arte), numa área bastante próxima do Tocantins, no Centro-Oeste. São as únicas regiões do País em que as áreas plantadas continuam crescendo, estimuladas por fatores como o preço baixo das terras e as condições excepcionais de plantio, como chuvas regulares nas chapadas, que têm altitude média de 650 metros. Além disso, terrenos com solo profundo, argilosos e totalmente planos nas chapadas contribuem para a cultura. Tudo isso favorece a mecanização das lavouras.
A área plantada de grãos do Nordeste, segundo dados oficiais da Conab e dos próprios produtores desses três Estados, vai atingir, nesta safra, 1,471 milhão de hectares, registrando crescimento de 420% sobre a área plantada na safra 1990/1991. Naquele ano, o Nordeste dispunha de apenas 282 mil hectares, concentrados quase que exclusivamente na região de Barreiras, no oeste da Bahia. Hoje, só a Bahia soma 870 mil hectares, com alta de 213% no período.
No Piauí, onde a produção é mais recente, já são 224,7 mil hectares, de acordo com a Conab, ou cerca de 250 mil, conforme os produtores. No Maranhão, já existem mais 376,9 mil hectares, segundo a Conab, ou cerca de 430 mil hectares em produção, conforme os empresários. “Já é possível afirmar que a região está consolidada e a tendência é crescer ainda mais. O clima é definido, existem grandes áreas disponíveis e bastante planas, propícias à mecanização, que é fundamental para o aumento da produtividade e redução dos custos para os produtores”, explica Eledon Pereira, analista da Conab.
A Bahia colhe este ano mais uma safra recorde. Segundo a Secretaria de Agricultura do Estado, a safra atual deve atingir cerca de 2,5 milhões de toneladas, superando os números de 2004/2005, de 2,3 milhões de toneladas. Com mais de 50% de toda a área plantada colhida, a média de produtividade da região girava em torno de 48 sacas por hectare, com casos onde se chega a até 70 sacas por hectare, segundo dados do governo estadual.
No total, conforme a Conab, a produção nordestina já atinge 3,713 milhões de toneladas, representando um crescimento de 558% sobre as 564 mil toneladas que eram produzidas na safra 1990/1991. “Entre as seis regiões que operamos no País, o Maranhão e o Piauí são as únicas que registram aumento de área. Hoje, no Sul, por conta da seca, tem muito produtor que continua vendendo as terras, quitando as dívidas e vindo para cá, onde as terras são boas e baratas”, explica o gerente de processo da Bunge em Uruçuí, Wallison Cavazzani. “No Maranhão, por exemplo, há cinco anos, havia 234 mil hectares plantados, com 549 mil toneladas. Agora em 2006, são 410 mil hectares, com 1,058 milhão de toneladas”.
Pelos dados da Bunge, o Estado do Piauí, onde a companhia conta com uma unidade de processamento com capacidade de armazenagem de 100 mil toneladas, maior do que a unidade de Rondonópolis (no Mato Grosso, 50 mil toneladas), tem potencial para atingir um milhão de toneladas, em cinco anos. “Hoje são 465 mil toneladas em 212 mil hectares. Há cinco anos, eram apenas 92 mil toneladas distribuídas em 87 mil hectares”, compara.
Além do clima, no Nordeste, outros fatores contribuem para o avanço do agronegócio. A proximidade dos portos regionais dos tradicionais mercados importadores, como a Europa, por exemplo, é um grande incentivo para os produtores, por proporcionar uma razoável redução de custos com frete e maior competitividade no mercado internacional. “No Nordeste, as áreas de produção são mais próximas aos terminais portuários, em relação aos produtores do Sul. Assim, o custo de produção é menor e a soja alcança um preço de 8% a 10% melhor”, explica Jorge Rodrigues, presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
“Como estamos a 740 quilômetros do Porto de Itaqui (MA), a melhor localização nos permite ter maior rentabilidade e, com isso, pagar um preço melhor pela saca do produto, estimulando o crescimento da produção”, explicam os gestores da Bunge. Na Bahia, por exemplo, o preço da saca gira em torno de R$ 17 nesta safra. No Piauí, como a empresa tenta estimular o plantio para garantir a produção que será processada, o preço da saca chega a R$ 20.
Na Bahia, o assessor de agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Ivanir Maia, conta que a área total dos 39 municípios do Oeste baiano soma 5,5 milhões de hectares, mas apenas 3 milhões podem ser cultivadas, em função da manutenção de áreas de prevenção permanente. “O potencial de crescimento é grande. Já temos cerca de 1,5 milhão de hectares com grãos”, calcula Ivanir Maia.
Mesmo crescendo em ritmo mais acelerado do que o do resto do País, a produção de grãos ainda se situa distante do projeto da CFN para a ferrovia Transnordestina. No estudo de viabilidade econômica da via, a empresa afirma que será possível captar essas cargas quando a região estiver produzindo cerca de 15 milhões de toneladas, a partir de 2010.
Alta produtividade, o atrativo do Nordeste
Publicado em 14.05.2006
A alta produtividade é uma das explicações para a ampliação das áreas de soja nos cerrados do Nordeste. A situação serve de atrativo na medida em que, no Sul do País, as áreas para plantio já estão esgotadas. “A Serra do Quilombo é uma área especial, de grande produtividade. Obter 70, 75 sacas por hectare é normal aqui, mas tem áreas em que se obtém de 88 a 90 sacas. Este ano não deu porque a seca judiou a plantação”, conta o produtor Idemar Luís Cover, de Bom Jesus (PI). “No Sul o espaço acabou, geograficamente falando. Os municípios são pequenos demais”, compara. O produtor chegou à região há 12 anos e possui hoje 2,5 mil hectares. “Como caçula de uma família de nove irmãos, tive que sair. Não havia mais lugar para plantar lá no Rio Grande do Sul”, revela. No Sul, a produtividade média é de cerca de 45 sacas por hectare.
Também em Bom Jesus, o produtor João Hoppe, sócio de uma propriedade de 30 mil hectares, diz que é normal colher de 60 a 65 sacas ou até mais. Os números são próximos aos do Mato Grosso, onde se concentra a maior parte da safra de grãos do País. No município de Lucas do Rio Verde, por exemplo, são colhidas em média 54 sacas por hectare.
Na Bahia, a Associação dos Agricultores e Irrigantes (Aiba) confirma que a média de produtividade é de 52 sacas por hectare. No entanto, este ano, por causa da seca em janeiro, houve quebra da safra (estimada em 26%). A situação é tida como grave porque a estiagem atingiu a cultura em fase de desenvolvimento vegetativo, além de favorecer ataque de lagartas. A seca também potencializa a ação dos agrotóxicos usados na lavoura.
Produção aumenta 7 vezes em 10 anos
Publicado em 14.05.2006
A região de Balsas, no sul do Maranhão, é um exemplo do crescimento vigoroso do setor de grãos no Nordeste. Em dez anos, a área plantada cresceu sete vezes, mantendo a tendência de expansão. O secretário de Agricultura do município, Márcio Montechese, conta que, em 1995, eram apenas 60 mil hectares plantados com soja. Nesta safra de 2006, a área plantada já chega aos 430 mil hectares e pode crescer para 460 mil, já em 2007, com a absorção de áreas abertas com arroz. “Felizmente, todo ano temos áreas novas sendo abertas. O arroz é a primeira opção do empresário porque o custo de produção é menor, no primeiro ano, antes do início do plantio da soja”, explica. Segundo os produtores, se não fosse a desvalorização do dólar, o número de novas áreas poderia ser mais do que o dobro (70 mil hectares). “Muitos também estão endividados com as tradings e usam as áreas com arroz para pagar as dívidas.”
A região parece ser tão promissora que até o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, está investindo no município de São Raimundo das Mangabeiras, vizinho a Balsas. A Fazenda Serra Vermelha tem 6 mil hectares, sendo 5 mil com soja e mil com milho. “Os gaúchos chegaram primeiro, mas hoje tem gente do Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo, como o próprio ministro Rodrigues. Estamos em uma fronteira agrícola. Também temos amplo potencial para indústria avícola, plantando milho que pode ser vendido no Nordeste com mais facilidade que o importado”, conta o secretário de Agricultura de Balsas.
Como cerca de 80% da produção da região é exportada pelo Porto de Itaqui, no Maranhão, a cidade acaba atraindo novos investimentos para esmagamento da soja, que posteriormente é vendida à Europa, virando óleo ou farelo. O grupo ABC Algarve, com sede em Minas, está se instalando em Porto Franco, no sul do Maranhão, para comprar produção da região e exportar por Itaqui, usando a Ferrovia Norte-Sul e Carajás. A multinacional americana ADM também está chegando à cidade de Balsas, cujo município, de olho na melhoria da infra-estrutura, trabalha para trazer a indústria de soja de Uruçuí (PI) para seus domínios. Localizada no sul do Piauí, a unidade da Bunge de fato não produziria se dependesse apenas da produção do Estado e tem que importar grãos de outras regiões, como o Maranhão.
BNB garante que a obra é viável
Publicado em 14.05.2006
O Banco do Nordeste (BNB), que analisará a viabilidade econômica do projeto da Companhia Ferroviária do Nordeste, já defende antecipadamente a economicidade da obra, antes mesmo de receber qualquer detalhamento do projeto. “Se (a região produtora de grãos do Nordeste) fosse o deserto do Saara é que não haveria condições de ter nada. A ferrovia vai ser uma alternativa à Norte-Sul. Tudo indica que dê viabilidade. É uma decisão estratégica do governo federal, para ter um escoamento no sentido leste-oeste. Se a Norte-Sul for concluída e não tivermos a opção de uma linha transversal é que não sai mesmo”, afirma o ex-diretor de Desenvolvimento do BNB, Pedro Eugênio.
A instituição reconhece que a demanda atual de cargas ainda não é grande, mas sustenta que a própria obra criará demanda. “Uma ferrovia não é como uma indústria, que desenha sua produção e depois vai disputar mercado. Um projeto estruturante gera mercado para o futuro, induzindo o desenvolvimento” diz Fernando Passos, gerente-executivo do Ambiente de Análise do BNB.
Com essa disposição, o projeto da Nova Transnordestina é visto com boa vontade pelo banco, por ser uma obra de interesse pessoal do presidente Lula. “Se os produtores de soja tiverem essa ferrovia, não estariam rodando nas condições atuais. Não temos o detalhamento, mas acreditamos que só com as cargas do Piauí, Maranhão e parte da Bahia já se justifica. Não haverá só a soja, mas outros produtos, como gesso, frutas. Na volta (ao campo), o trem não volta batendo (vazio), pois existem insumos como fertilizantes e combustíveis. A Petrobras é uma das principais beneficiárias, com o fornecimento de diesel, gasolina e álcool”, acrescenta Antônio Carlos Rodrigues de Souza, gerente de Ambiente de Análise e Acompanhamento de Operações de crédito do BNB.
Os técnicos contam que o banco tem 120 dias para analisar o projeto. “Em um mês podemos aprovar. Temos interesse em dar uma resposta logo”, diz Pedro Eugênio. No Recife, o escritório regional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi procurado pelo JC para explicar a viabilidade econômica do projeto, mas recusou-se a prestar informações. O diretor-geral da Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene, substituta da Sudene), Zenóbio Vasconcelos, também não deu detalhes sobre o projeto.
Ferrovia pode trazer integração regional
Publicado em 14.05.2006
Hoje, o escoamento da produção dos cerrados nordestinos até os consumidores do Nordeste e para os portos, visando às exportações, sofre com sérios entraves de cunho logístico. A rede ferroviária é reduzida e carece de interligações fundamentais para o desenvolvimento da região. Com a perspectiva de realizar elevados investimentos em uma nova malha, mais moderna e mais produtiva, o plano da Companhia Ferroviária Nacional (CFN) é transformar a região em um novo corredor de exportações alternativo para a saída de produtos, com destaque para grãos como soja e milho.
Além desses produtos, a obra possibilitaria o escoamento da produção do algodão cultivado em larga escala no Centro-Oeste e na Bahia, além da mamona, para a fabricação de biodiesel. “A obra vai permitir que se leve milho e farelo de soja da região produtora, eliminando a importação e impulsionando a produção da avicultura, suinocultura e aqüicultura. O projeto também cria uma nova alternativa logística para o algodão do Centro-Oeste, importante para o aumento da competitividade do setor têxtil do Nordeste”, prevê Jorge Mello, diretor da CFN.
Caso os estudos de viabilidade econômica se concretizem, em um horizonte de dez anos a Transnordestina formaria um dos principais eixos de integração entre a malha existente e o Centro-Sul e o Sudeste. “A produção do sul do Maranhão e sul do Piauí tem boa possibilidade de sair pelo Nordeste porque está mais próxima da Europa e Ásia. Como as estradas são ruins, o frete é encarecido. Com a ferrovia, para os produtores, seria uma mão na roda”, explica Eledon Pereira, da Conab.
Atualmente, a produção de soja para exportação sai pelo Porto de Ilhéus, no caso da Bahia, e pelo Porto de Itaqui, no caso do Maranhão. Nos dois casos, o transporte ferroviário é monopólio da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que opera a Ferrovia Carajás (Maranhão) e Ferrovia Centro-Atlântica (FCA, na Bahia). Neste novo cenário, os portos localizados no Nordeste, como Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará, seriam transformados imediatamente no caminho mais adequado para a integração produtiva regional e até mesmo nacional, quando do esgotamento da capacidade dos principais corredores de exportação, como Santos, em São Paulo, e Paranaguá, no Paraná.
Sem condições ideais de operação, os produtores regionais apóiam a iniciativa, embora sejam reticentes quanto a sua realização. “A obra pode viabilizar a região. Com uma boa logística, podemos entregar nossas cargas em Eliseu Martins (PI). A China vai ficar mais perto para quem atua no mercado internacional. Não falta cliente chinês querendo comprar essa produção. No caso dos produtores que trabalham no mercado regional, as cargas poderiam ser levadas mais facilmente para o Ceará, Pernambuco, Alagoas e Paraíba”, defende o produtor João Hoppe, que planta 30 mil hectares de soja e algodão em Bom Jesus, no sul do Piauí.
Na avaliação dos produtores regionais, com a Transnordestina seria possível diminuir os custos de produção, uma vez que os insumos chegarão com mais facilidade e menor custo. Como a estação de transbordo para captação de cargas, prevista para Eliseu Martins, ficará em uma localização eqüidistante do Porto de Itaqui, a cerca de 960 quilômetros, os produtores ganharão uma opção real para não vender a produção para as multinacionais do agronegócio que já operam na região, como a Cargil e a Bunge.
A própria unidade de esmagamento de soja da Bunge em Uruçuí, no Sul do Piauí, também aguarda a implantação do projeto com expectativa, de olho nas facilidades de escoamento da produção. Hoje, o grupo usa carretas-tanque para trazer o óleo que abastece a unidade de Suape, que fabrica margarinas e óleo de soja, informa o gerente de Silos da Bunge, Olavo Colet.
O diretor da Trading Mercado Externo, da Bunge, Charles Von Der Heyde, explica que, atualmente, a Europa é o principal destino da soja em grãos, do farelo de soja e do óleo de soja bruto da empresa, mas a tendência é que cresçam os valores exportados para a Ásia. “A previsão é que, em 10 anos, 60% do aumento do consumo mundial de produtos de soja será unicamente da China”, afirma.
No aspecto social, o projeto ainda beneficiará o Semi-Árido do Nordeste, criando condições para o desenvolvimento de uma ampla faixa do território nordestino, hoje carente de uma infra-estrutura mínima. “Com a nova opção logística, os produtores do Maranhão e do Piauí podem abastecer todo o Nordeste”, diz Eledon Pereira. “Não conheço o projeto, mas acho a obra importante. Se aumenta o preço para nós aqui, é possível baratear o custo dos produtos avícolas para o povo”, corrobora Gilberto Rúpulo, dono de 500 hectares no oeste da Bahia na Fazenda Paraná.
“Brasil e Rússia serão supridores de alimentos”
Publicado em 14.05.2006
O empresário Benjamim Steinbruch, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – controladora da CFN –, defende que o Brasil e a Rússia serão os dois países que terão a tarefa de supridores mundiais de alimentos, considerando que os emergentes contam com recursos naturais abundantes e com grandes áreas disponíveis para a agricultura e para a produção de proteína animal.
“China e Índia são os dois países mais populosos da terra, ambos com mais de um bilhão de habitantes. Estão predeterminados, portanto, a serem os grandes consumidores do século 21. Os dois países terão de importar um volume cada vez maior de alimentos por causa do esgotamento de suas áreas de produção agrícola. No Brasil, os limites ainda estão muito distantes”, afirmou em artigo publicado na Folha de S.Paulo.
Um estudo do Ministério da Agricultura mostra que existe uma área cultivada de 62 milhões de hectares no Brasil e outros 200 milhões de hectares estão ocupados com pastagem. Destes, 90 milhões de hectares estão aptos à agricultura. Ou seja: o País tem um potencial agrícola enorme, sem que se precise avançar sobre áreas de florestas. Steinbruch observa que a falta de água é um dos problemas que podem segurar o crescimento econômico da Índia, China e da Ásia em geral, nas próximas décadas. “Pela escassez de terras férteis e até pela exaustão de recursos hídricos, os dois países não podem ser pensados como supridores mundiais de alimentos e de produtos naturais”, acredita.
Segundo estudo do ministério, em menos de dez anos, o País estará produzindo 170 milhões de grãos, cerca de 30 milhões de toneladas de carne de boi e frango e 24 milhões de toneladas de açúcar. “Os números são conservadores, na minha opinião”, diz o empresário, que defende uma nova mentalidade, mais desenvolvimentista. “Se o Brasil der prioridade a políticas de crescimento e a planos que resgatem uma mentalidade desenvolvimentista, o País terá condições de crescer de forma tão sustentada quanto China, Índia ou Rússia ou mesmo ganhar esta corrida ao longo das próximas décadas.”
EXCLUSIVO ONLINE Projeto vem sendo discutido há mais de um século
Publicado em 14.05.2006
Se sair mesmo do papel, a Ferrovia Transnordestina – no trecho entre Salgueiro (PE) e Missão Velha (CE) – vai concretizar um sonho secular da Região Nordeste e encerrar uma novela de vários anos. Mas precisamente mais de sete anos, desde que a Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN) adquiriu o direito de explorar a antiga Malha Nordeste – até então pertencente à União.
As primeiras notícias sobre o projeto de construção de uma ferrovia que ligasse o Sertão ao Litoral é datada da época do Brasil Império. Oficialmente, o projeto começou a ser executado em 1990 e foi paralisado em 1992 por falta de recursos. Na época da privatização da Malha Nordeste, o governo federal optou por não incluir o empreendimento entre as obrigações contratuais dos novos controladores.
NEGOCIAÇÃO – Posteriormente, o próprio governo acordou com a CFN a viabilização da Transnordestina, que receberá recursos do antigo Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor) e do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), além da própria controladora. A engenharia financeira acertada entre os interessados fez com o que o maior investidor do projeto seja o governo federal, que vai entrar com R$ 3,55 bilhões de todo o empreendimento. Desse total, o Finor entrará com R$ 1,5 bilhão e o FDNE com R$ 2,05 bilhões. Ou seja, restou ao controlador o menor investimento para viabilizar o projeto.
O projeto sempre foi considerado um dos instrumentos alavancadores da economia da região, principalmente, a pernambucana. A própria malha ferroviária do Nordeste foi construída há mais de 100 anos com o objetivo de servir ao comércio da região, tanto na exportação como na importação de produtos. A expectativa é que a ferrovia permitirá o escoamento, de forma mais barata das produções dos pólos produtores do Vale do São Francisco e do Araripe.
EXCLUSIVO ONLINE Empresa que nunca deu lucro , CFN vai receber R$ 4,5 bilhões de Lula
Publicado em 14.05.2006
Candidata a receber investimentos da ordem de 4,5 bilhões, do governo Federal, para construir cerca de 2 mil quilômetros de trilhos, ligando a área de produção de grãos aos portos e ao mercado regional, a Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN) registra prejuízo ano após ano. Nos últimos cinco anos, não foi diferente, de acordo com dados das demonstrações financeiras da empresa.
No ano de 2004, último ano disponível, a empresa teve um prejuízo de R$ 39,2 milhões. No ano anterior, 2003, foram outros R$ 39,4 milhões. No entanto, de um ano para outro as receitas da empresa chegaram a registrar ampliação, de 38%, passando de R$ 37 milhões para R$ 51,2 milhões. Em 2000, o prejuízo havia sido de R$ 32,3 milhões, para uma receita de R$ 21 milhões. Em 2001, praticamente com a mesma receita, o prejuízo subiu novamente, para R$ 32,8 milhões. Em 2002, com uma ampliação das receitas para R$ 27,3 milhões, o prejuízo somou R$ 32,5 milhões.
No caso de 2004, o crescimento das receitas deveu-se basicamente ao crescimento do transporte de produtos siderúrgicos, que cresceu cerca de 40%, atingindo 443 mil toneladas. As cargas agrícolas, o filão que a CFN busca crescer, teve redução de 35%, no mesmo exercício. Os dados de 2005 ainda não estão disponíveis.
Em Pernambuco, a empresa acaba de receber isenção no pagamento de ICMS. Até aqui, pagava 17% de imposto. Vai pagar zero. Na compra de insumos, como dormentes de concreto ou aço, trilhos e brita, a CFN também será isenta, com a figura do diferimento de impostos.
EXCLUSIVO ONLINE Benjamim Steinbruch diz que obra é viável e vai mudar a cara do Nordeste
No final de abril, quando recebeu o título de Cidadão Cearense da Assembléia Legislativa do Estado, o dono da Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), o diretor presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), empresário Benjamin Steinbruch, comparou a transnordestina ao projeto da transposição do São Francisco.
Ambos os projetos são patrocinados pelo presidente Lula, com recursos a fundo perdido. “Trata-se de um importante projeto estruturante. Junto com a transposição das águas do Rio São Francisco, é um projeto que mudaria para sempre a cara (situação sócio-econômica) da Região Nordeste”. De olho nos R$ 4,5 bilhões que o governo Federal planeja despejar na obra, Steinbruch disse que o empreendimento era factível do ponto de vista empresarial. “O que viabiliza o transporte ferroviário é a carga cativa”, afirmou “Existe uma área nobre com potencial para produzir 30 milhões de toneladas de grãos (soja e milho) na região que vai do sul do Piauí ao norte da Bahia”.
Mais uma vez, como tem feito seus executivos, o empresário disse que o primeiro trecho das obras da ferrovia será Missão Velha-Salgueiro. Localizada entre os estados do Ceará e Pernambuco, essa parte tem 100 quilômetros de extensão e está orçada em cerca de US$ 200 milhões. A ferrovia Transnordestina já tem sua questão financeira equacionada desde o final do ano passado, com a ajuda do ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Os recursos para a construção dos mil quilômetros da obra toda, em quatro anos, virão do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), do Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor) e da iniciativa privada. Cada um com US$ 1,5 bilhão.