Correspondente GENEBRA – Ainda sem um acordo com o Mercosul sobre a liberalização do comércio agrícola para fechar um acordo geral aduaneiro
até 31 de outubro, a União Européia (UE) vai empossar, no dia 1.º de novembro, uma comissária de Agricultura com uma ficha no mínimo curiosa para quem terá de lidar com a demanda dos países emergentes por uma abertura de mercado: uma das fazendas da nova comissária,
Mariann Fischer Boel, recebe da Europa US$ 70 mil anuais em subsídios para
produzir frutas e flores. Mariann, ex-ministra da Dinamarca, é neta e filha de agricultores num dos países mais protecionistas da Europa. Ontem, ao ser sabatinada pelo Parlamento Europeu, ela disse: “Devemos manter um espaço para a agricultura familiar”. Questionada sobre os subsídios à sua fazenda, a oeste de Copenhague, a comissária respondeu que era o seu marido quem cuidava da produção. Mariann também disse que esforçará para reformar o sistema de subsídios agrícolas da UE, que já começou a ser debatido na atual administração. Mas em nenhum momento indicou que a eliminação da subvenção seria maior do que o que já está sendo proposto. Para países
como o Brasil, a reforma ainda é tímida e deixa muito espaço para políticas desleais, principalmente em setores como o de açúcar. Já sobre as negociações
com o Mercosul, Mariann disse que a UE não deve sacrificar o conteúdo do acordo apenas para cumprir o prazo de 31 de outubro. Essa posição foi adotada por praticamente todos os novos comissários que tomamposse no próximo mês e que citaram as negociações com o bloco sul-americano.
Enquanto a futura comissária era sabatinada, a Comissão Européia continuava
a insistir em que poderia apresentar uma oferta mais interessante ao Mercosul,
com a ressalva de que não o faria de forma unilateral. “Trata-se de uma negociação bilateral. Portanto, uma nova oferta de nossa parte depende de uma oferta melhorada por parte do Mercosul”, afirmou Arancha Gonzalez, porta-voz do comissário de Comércio da UE, Pascal Lamy.