Mercado

Nova classe média muda mercados

Uma revolução está prestes a ocorrer no equilíbrio dos mercados mundiais. Estudo publicado ontem pelo Banco Goldman Sachs aponta que o surgimento de uma nova classe média no Brasil, na China, Índia e Rússia vai transformar o comportamento de empresas no mundo.

Segundo o levantamento, o número de pessoas vivendo com mais de US$ 3 mil por ano vai dobrar no Brasil e na Rússia até 2015. Na China, essa camada da população vai se multiplicar por dez. Na avaliação do Goldman Sachs, em 2030 os grandes países emergentes vão se equiparar ao mundo desenvolvido em termos de Produto Interno Bruto (PIB) .

Economistas apontam que, de fato, o peso das economias emergentes vem crescendo. Em 1991, os países ricos representavam 89% do PIB mundial. Em 2007, essa proporção já caiu para 75%. Entre 2000 e 2005, o PIB do grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) subiu de US$ 3,6 trilhões para US$ 4,9 trilhões, 15% do PIB dos países ricos.

A projeção é de que, até 2010, a economia dos países emergentes chegue a US$ 8,6 trilhões. Já em 2030, a paridade entre ricos e emergentes ocorreria, com a superação já prevista para 2035. Na realidade, a China já começa a superar algumas das economias tradicionais. Em 2007, terá um PIB superior ao da Alemanha; em 2015, superior ao do Japão; em 2039, superará os Estados Unidos.

PRIORIDADES

Paralelamente a esse crescimento, o Goldman Sachs prevê um aumento exponencial da classe media nos mercados emergentes. Segundo o estudo, o maior aumento ocorrerá na Índia, onde o número de pessoas ganhando acima de US$ 3 mil por ano será multiplicado por 14 até 2015. Na China, o aumento será de dez vezes. Brasil e Rússia terão um aumento menor, mas ainda assim a classe média deve dobrar até 2015.

No total, 2 bilhões de pessoas vão passar a ganhar acima de US$ 3 mil nos próximos 20 anos, o que exigirá que multinacionais redefinam as suas prioridades. Hoje, o total de consumidores com renda superior a US$ 3 mil não passa de 200 milhões de pessoas nos países emergentes. Além disso, a população que ganha menos de dois dólares por dia ainda chega a 2 bilhões de pessoas.

O impacto no consumo será significativo. No setor de alimentos, o Brasil e a China não serão apenas os maiores produtores de carne, mas também serão importantes consumidores. Hoje, os dois países, juntos, já produzem 43% da carne mundial.

O consumo também deve ser afetado pelo uso do milho na fabricação de etanol nos Estados Unidos. A demanda por minérios da China está entre as maiores do mundo. O país já o maior consumidor de ferro, de zinco, alumínio, cobre, aço e níquel.

O cenário corporativo também promete mudar bastante. Hoje, a indústria de energia no mundo já é dominada pelos países do Bric. O Goldman Sachs indica que as empresas desses países emergentes já superam as empresas americanas no setor energético.

Segundo o estudo, em 1991, 55% das 20 maiores companhias do setor de energia no mundo eram americanas e 45%, européias. Hoje, porém, 35% dessas 20 maiores empresas são dos países emergentes. A mesma proporção é atingida pelos europeus, enquanto 30% dessas companhias são americanas.

No setor energético, a maior empresa do planeta continua sendo a americana Exxon Mobil. Mas agora é seguida não de muito longe por companhias como as chinesas Sinopec e PetroChina, as russas Gazprom e Lukoil, a Indiana ONGC e a brasileira Petrobrás.

O estudo aponta que os avanços das empresas dos emergentes não ocorre apenas no setor de energia. Na mineração, 20% das 20 maiores empresas são dos países emergentes. No setor de seguros, o Bric representa 10%, ante 5% no setor de bebidas, entre elas a Imbev.