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Nos EUA, Bush, ambientalistas e líderes do Congresso apóiam o álcool

Enquanto no Brasil, o álcool de biomassa continua visto como o patinho feio da matriz energética, nos EUA a história é bem diferente. Isso tudo apesar do enorme peso e importância econômica e política da indústria do petróleo, que vê o etanol mais como competidor do que complemento.

Recentemente, dois grupos ambientalistas divulgaram propostas para reduzir a dependência dos EUA por petróleo importado à metade do que é hoje, até 2020. E olhe que lá eles não estão preocupados com o déficit em contas correntes nem com o saldo da balança comercial.

Uma das cinco propostas oferecidas no relatório é a de se adotar o mandato de uso de combustíveis renováveis (RFS – Renewable Fuels Standard), previsto no Projeto de Lei do Senado Nr. 1766, de autoria de Tom Daschle, líder da maioria no Senado.

O relatório intitulado “Vício perigoso: acabando com a dependência por petróleo da América” foi subscrito pelo Natural Resources Defence Council (NRDC) e pela Union of Concerned Scientists (UCS). O ex-Chief of Staff (cargo que equivale ao de Ministro-Chefe da Casa Civil) da Casa Branca, John Podesta, um dos membros da NRDC, declarou que “esta é a receita para melhorar a nossa segurança nacional, fortalecer a nossa economia e proteger o nosso meio ambiente”. O plano prevê que a aprovação dos dispositivos previstos na S. 1766, elevem o uso de renováveis no consumo de energia utilizada em transporte para 18,9 bilhões de litros em 2012.

De outro lado, durante um tour pelos Estados do Meio-Oeste, o Presidente George W. Bush, em Missouri, indicou que a política energética é essencial para garantir o crescimento econômico. Bush declarou: “Nós estamos muito dependentes de partes do mundo que… podem não gostar de nós por causa de nossas fontes de energia. Parece-me que precisamos trabalhar duramente para ficarmos mais auto-suficientes, menos dependentes, tendo um plano energético que encoraje a conservação, encoraje o uso do etanol, o processamento com agregação do valor e explore a energia em nosso hemisfério e em nossos próprios estados, de uma maneira ambientalmente amigável”.

Em declarações separadas, líder do Partido Democrata na Câmara dos Representantes, Dick Gephardt (D-MO), e o senador John Kerry (D-MA) propugnaram uma redução da dependência por petróleo importado. Segundo Gephart, que já foi pré-candidato à presidência pelo seu partido, “o desenvolvimento de fontes alternativas de energia tem o potencial de se tornar o mercado de maior crescimento e o maior gerador de empregos da América nos próximos 10 anos. No ano de 2020, acredito que 20% de nossa produção de energia possa ser atingida por combustíveis alternativos e renováveis”.

O Brasil já foi visto como modelo, por ter desenvolvido um programa em larga escala de etanol de biomassa, tendo recebido elogios de líderes norte-americanos como Ronald Reagan, George Bush, o pai, e Bill Clinton. Segundo cálculo da Datagro, o etanol já representou 57% do consumo de combustíveis do ciclo Otto em gasolina equivalente, percentual esse que vem caindo rapidamente nos últimos anos, e atualmente se encontra em 36%. Apesar das conquistas já alcançadas, o apoio ao etanol, como produto ambientalmente limpo, poupador de divisas, gerador de empregos, promotor do desenvolvimento, e competitivo com a gasolina a preços de mercado, ainda é, infelizmente, deficiente. Justamente, o produto que foi desenvolvido em nosso país de forma pioneira, com eficiência indiscutível e inigualada até hoje em todo o mundo.

Por enquanto, nas plagas tupiniquins ainda vale o título do famoso livro sobre energia na América do Norte: “The Forbidden Fuel” (O combustível proibido).

Plínio Mário Nastari, presidente do Datagro