Diante da necessidade mundial de conciliar crescimento econômico com preservação ambiental, a transição da economia brasileira para uma economia verde, isto é, com baixos níveis de poluição e de consumo de recursos naturais, entra na agenda política e empresarial do País como um dos principais desafios a ser encarado nesta década. Assim, o Brasil chega a mais um Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado neste domingo, bem adiantado em sustentabilidade apesar dos conhecidos problemas relativos a desmatamentos.
Segundo especialistas ouvidos pelo Jornal do Commercio, apesar de urgente, o caminho rumo a esse novo modelo de desenvolvimento ainda se encontra em fase inicial de exploração no País.
Eles avaliam, contudo, que a experiência brasileira nos biocombustíveis, somada à grande disponibilidade de recursos naturais e à matriz energética limpa, não emissora de gases-estufa, contribui para tornar o Brasil um protagonista global na convergência para uma economia verde, credenciando o País a liderar mundialmente essa oportunidade única da história.
Estimativas apontam que a demanda global por recursos naturais praticamente dobrou nos últimos 40 anos e já excede em 30% a capacidade do planeta de recuperá-los.
Para o professor da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP), Isak Kruglianskas, a economia verde não é uma alternativa para o futuro da humanidade, mas, sim, a única solução possível.
“Esverdear a economia já não é mais uma opção. Vejo um movimento de pressão acontecendo por parte da sociedade, que começa a dar preferência a produtos ambientalmente sustentáveis, e do próprio mercado , que pede certificação da procedência daquilo que importa”, afirma.
“Quem não se adaptar a esse novo padrão certamente não conseguirá acompanhar o mercado”, acrescenta.
Estudo divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) afirma que são necessários US$ 1,3 trilhão por ano para transformar a economia mundial em uma economia verde. A quantia equivale a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global e deveria ser destinada a dez setores estratégicos, como energia, transportes, construção e agricultura, entre outros.
De acordo com o relatório Rumo a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza”, a maior parte dos recursos a ser investida anualmente, US$ 362 bilhões, ou cerca de 27% do total, deve ser direcionado ao setor de energia.
Pioneiro no uso de biocombustíveis em larga escala e o maior produtor de etanol de cana-de-açúcar do mundo, o desempenho do Brasil na área dos combustíveis limpos ganha destaque nesse contexto. De acordo com o coordenador do Programa de Direito do Meio Ambiente da Fundação Getulio Vargas (FGV ) Direito Rio, Rômulo Sampaio, o Brasil está conseguindo cumprir com a economia verde em diversos setores e o energético é um deles.
“O setor energético vem puxando essa tentativa do Brasil de esverdear sua economia, processo liderado pelo sucesso da produção brasileira de combustíveis para transporte baseados em etanol”, enfatiza.
O segmento de energia renovável vem, de fato, ganhando cada vez mais destaque no âmbito econômico, tendo empregado, direta ou indiretamente, mais de 2,3 milhões de pessoas no planeta, ainda segundo o relatório da ONU. O Brasil é o segundo país que mais emprega nesse setor, com cerca de 500 mil trabalhadores, ou 20,7% de toda a mão de obra envolvida na atividade no mundo.
Outro exemplo importante que o Brasil dá em direção à economia verde, segundo o coordenador da FGV, diz respeito à reciclagem. São recic ladas no País aproximadamente 95% das latas de alumínio e 55% das garrafas PET.
Ainda segundo o relatório da ONU, a atividade gera recursos de US$ 2 bilhões e emprega mais de 500 mil pessoas, ajudando a erradicar a pobreza no País, ao mesmo tempo que evita a emissão de 10 milhões de toneladas de gases de efeito estufa.
Embora esse novo modelo de desenvolvimento seja do interesse de todos os países, a mudança para uma economia verde é uma enorme oportunidade, principalmente, para as nações emergentes. Kruglianskas, da USP, explica que, enquanto os países desenvolvidos já satisfizeram suas necessidades em termos de infraestrutura, países emergentes poderão criar as bases de seu desenvolvimento em novos padrões. Daí a grande oportunidade vislumbrada pelos especialistas para o Brasil uma democracia de dimensões continentais, que colhe êxitos no combate à pobreza e tem matriz energética renovável avançar também em outras áreas e protagonizar, assim, a transição para um desenvolvimento, de fato, sustentável.
“O Brasil não tem como fugir do papel de protagonista dessa transição em âmbito internacional.
É o país que tem a mais rica biodiversidade do mundo e, sozinho, possui 13% de toda a água potável do planeta.
Tem a maior reserva de floresta tropical do globo e é também um dos maiores produtores mundiais de alimentos”, afirma Sampaio, da FGV.
“Essas características já dão voz ao País para liderar qualquer discussão sobre a questão”, complementa.
Pesa, contudo, o sério desmatamento na Amazônia, a maior floresta do planeta. Na avaliação do professor da USP, esse é o mais iminente desafio a ser resolvido. Ele explica que 75% das nossas emissões de dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa, são decorrentes das queimadas que ocorrem no País.
“Para que o Brasil se transforme, de fato, em uma economia verde, é preciso atacar prioritariamente esse problema”, afirma, lembrando que o País é hoje um dos dez maiores emissores de gases de efeito estufa na atmosfera.
Kruglianskas avalia que as ações tomadas no Brasil rumo a uma economia mais verde ainda se encontram em fase inicial de exploração, mas ele é bem mais otimista em relação ao futuro. “O Brasil é uma potência ambiental e tem vocação para ser um exemplo da economia do futuro, mais verde e sustentável”, enfatiza.
“Embora ainda ocorra de forma inicial, já vejo um movimento autêntico liderado por muitas empresas brasileiras nesse sentido”, comenta o professor.
O movimento, de fato, começou a ganhar ainda mais força recentemente. Segundo um estudo da consultoria alemã Roland Berger a pedido da organização não governamental WWF, o Brasil é hoje o quinto maior investidor do mundo em tecnologia verde, incluindo energias renováveis e desenvolvimento de produtos que melhorem o meio ambiente, com investimentos de R$ 18 bilhões.
De 2008 para 2010, o País ultrapassou a Dinamarca, hoje na sexta colocação, e m um ranking liderado pela China, que investiu cerca de R$ 100 bilhões. Na lista dos que mais investiram em tecnologia verde, os Estados Unidos aparecem na segunda posição, seguidos pelo Japão e Alemanha.