Com previsão de abertura ao público em janeiro de 2025, o Laboratório de Pesquisa em Bioenergia (LABIOEN) do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (NIPE), da Unicamp, já iniciou suas operações. Com uma área de seis mil metros quadrados, dividida entre dois edifícios, o laboratório conta com tecnologias de última geração para o ensino e pesquisa no setor, com foco especial em pesquisas aplicadas.
A estruturação antecipada do LABIOEN tem o objetivo de definir os planos de trabalho para projetos que já estão em fase de contratação ou com previsão de início no próximo ano. Boa parte dos projetos será desenvolvida de forma conjunta com o Centro de Estudos de Energia e Petróleo (CEPETRO), também da Unicamp, cujo foco em energia renováveis tem se ampliado cada vez mais.
A maioria deles está inserida no escopo do futuro Centro Paulista de Estudos em Biogás e Bioprodutos (CP2B), vinculado ao NIPE e fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), além de contar com parceiros do setor público e empresas privadas. “O CP2B é um dos Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) da FAPESP –modalidade de financiamento que busca soluções que beneficiam a sociedade em geral, por meio de diversas parcerias entre poder público, empresas e instituições de pesquisa”, explica a coordenadora do NIPE, Bruna de Souza Moraes.
Outra parte dos projetos será desenvolvida no contexto do E-Renova, um centro de pesquisas em energias renováveis credenciado como Unidade Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) na Unicamp, e que é um dos parceiros no âmbito do CP2B.
“O grande foco dos projetos é a transferência de tecnologia. Ou seja, pretendemos levar soluções inteligentes que sejam aplicáveis na realidade das empresas de nossos parceiros. Para isso, unimos nosso robusto conhecimento teórico e de experimentos de bancada [feitos com equipamentos mais simples, dentro das salas] com experimentos realizados em escala piloto, que visa replicar a engenharia dos processos de uma indústria do setor”, aponta Moraes.
Segundo a pesquisadora, o LABIOEN pode ser considerado uma grande expansão da Planta Piloto para Bioenergia (PPBIOEN), espaço que abriga a parte experimental voltada para a transferência de tecnologia nas pesquisas atuais do NIPE e que opera desde o final de 2023. “Além de abrigar as novas linhas de pesquisa do NIPE, há também a perspectiva de se utilizar o local para dar continuidade às pesquisas vigentes — só que agora em uma área maior, tendo em vista que a área da PPBIOEN é de 400m²”, detalha.
Além dos laboratórios, os seis mil metros quadrados do LABIOEN abrigarão salas de aula e de reuniões, auditórios e uma planta piloto — espaço destinado a testar, em menor escala industrial, equipamentos que lidam tanto com processos biotecnológicos como tecnológicos. “A maior parte da estrutura já está finalizada. O que falta concluir é principalmente a parte da tecnologia necessária para iniciar as pesquisas experimentais. Portanto, estamos atuando no planejamento e no embasamento teórico para os projetos que serão desenvolvidos a partir de parcerias que já foram firmadas”.
Foco em biogás – Fundado em dezembro de 1992, o NIPE atuou, em suas duas primeiras décadas, majoritariamente com parceiros ligados ao setor elétrico — mais especificamente no que diz respeito ao planejamento energético. Em 2015, esse escopo foi ampliado com a criação da linha de pesquisa de bioenergia, que hoje abriga grande parte dos projetos.
“Nesse momento que vivemos, de transição para energias renováveis, começamos a trabalhar principalmente no âmbito da produção de biogás. Nos primeiros anos, tratava-se de uma linha mais teórica, na qual avaliávamos o potencial dessa energia, a viabilidade de construir biorrefinarias [similares às refinarias de petróleo], entre outros tópicos e estratégias. Hoje, estamos caminhando cada vez mais para as pesquisas aplicadas”.
Biogás é um combustível gasoso que pode ser utilizado para a geração de energia elétrica e térmica, ou como um biocombustível (o biometano). É produzido a partir da mistura de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), por meio da decomposição de matéria orgânica (biomassa) por microrganismos. “Em virtude do volume de biomassa, oriunda dos setores agrícola e industrial, o biogás é um dos maiores potenciais energéticos que o Brasil tem, mas ainda é subaproveitado. Para alavancar esse campo, é necessário um melhor planejamento de como utilizar esse recurso e de soluções tecnológicas que facilitem sua aplicação — focos das nossas pesquisas”.
Um exemplo disso, é o projeto que o NIPE desenvolve em conjunto com o CEPETRO sob financiamento da TotalEnergies, multinacional do setor de petróleo. “Buscamos prospectar e desenvolver arranjos tecnológicos inovadores, eficientes e adaptados à realidade brasileira, do que aqueles que vemos a indústria utilizar. Hoje há um bom entendimento da bioquímica do processo, mas há muitos gaps a serem superados do ponto de vista de engenharia”.
Além do biogás, o plano do NIPE é expandir os estudos para os campos da bioenergia e biocombustíveis — produção de energia e de combustíveis exclusivamente oriundos da biomassa.