Mercado

Nem seca, nem preço afetam usineiros

Empresários dizem que queda de preços afasta concorrência indesejada e estiagem acelera a produção. A queda dos preços internacionais do açúcar, em mais de 30% desde fevereiro, não preocupa os usineiros. Tampouco a estiagem prolongada na região Centro-Sul deve atrapalhar os negócios das empresas do setor sucroalcooleiro. Numa situação em que quase tudo favorece as atividades dos produtores brasileiros de açúcar e álcool, os usineiros comemoram até a drástica redução dos preços ocorrida desde fevereiro na Bolsa de Nova York.

Para o diretor financeiro do Grupo Cosan, Paulo Diniz, o maior neste setor no País, a queda nas cotações desde fevereiro ajuda a afugentar a concorrência despreparada e aventureira que, atraída pela receita proporcionada pela comercialização do produto cotado a até 19 centavos de dólar a libra-peso, decide investir no setor. Isso, segundo acredita, contribuiria para tumultuar o mercado. Com a queda drástica dos preços, muitos projetos no Brasil e no exterior foram adiados ou cancelados, afirmou.

Já ausência de chuvas, embora prejudique o desenvolvimento das lavouras plantadas no início do ano e que deverão ser colhidas a partir de abril de 2007, tem contribuído para melhorar a qualidade da cana-de-açúcar, além de acelerar a produção neste ano safra. A última chuva de boa qualidade na região Noroeste do estado, segundo o presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), José Carlos Toledo, foi em 24 de março. Desde então, só houve precipitações de baixa qualidade do ponto de vista agronômico. Em contrapartida, o índice de sacarose foi extremamente favorável à produção de açúcar e de álcool, afirmou.

O tempo seco também reduziu o tempo do transporte da cana entre as lavouras e as usinas, explica Diniz. Não houve dificuldade para o trânsito dos caminhões e isso ajudou a elevar a velocidade da produção. O diretor da Cosan informou que a safra 2006/07 para o Grupo deverá se encerrar no mais tardar em meados de novembro, já que o processo foi facilitado pelas boas condições climáticas.

A estiagem no entanto poderá prejudicar a expansão das lavouras de cana e oferta de matéria-prima na safra 2007/08. Diniz explicou que os planos de expansão das lavouras do Grupo até agora foram prejudicados. Sem chuva, não há plantio de lavouras novas e isso poderá afetar a meta da Cosan em ocupar mais 70 mil hectares de cana para atender à produção. A capacidade instalada do Grupo é para moer 40 milhões de toneladas de cana, mas suas lavouras produzem 35 milhões de toneladas por ano.

Demanda atendida

“Mesmo que a seca no Centro-Sul do País afete a produtividade das lavouras no último terço desta safra e da próxima safra canavieira, o aumento da produção de cana e o abastecimento de álcool nos postos estão garantidos”, afirmou ontem, o chefe do escritório da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) em Ribeirão Preto, Sérgio Prado.

Segundo informou, as 12 novas usinas que entraram em operação nesta safra – o que eleva para 344 unidades em operação no Brasil – e as 19 que começam a operar no ano que vem garantem a expansão do setor sucroalcooleiro neste e no próximo ano e o atendimento da demanda.

Essas novas unidades fazem parte de um total de 90 usinas de açúcar e de álcool projetadas no País, que demandarão investimentos equivalentes a US$ 14 bilhões nos próximos anos. Prado afirma que, das 90 unidades projetadas, 45 começaram a ser construídas ou já entraram em operação.

Para a atual safra, a Unica projeta uma produção de 370,6 milhões de toneladas de cana, o que representa um crescimento de 10% sobre a anterior. A entidade espera a produção de 26,17 milhões de toneladas de açúcar e de 15,75 bilhões de litros de álcool, um crescimento combinado de 13,5% em relação à safra passada, graças ao aumento do teor de sacarose neste ano.

A Única prevê ainda vendas no mercado interno de 9 milhões de toneladas de açúcar e exportações de 17 milhões de toneladas da commodity. Em álcool, o mercado interno absorverá 13 bilhões de litros e o externo, 2,7 bilhões de litros, segundo as projeções da entidade.

Para Prado, as 19 usinas que entrarão em operação no Centro-Sul no próximo ano garantem um crescimento mínimo de 10% na próxima safra. “Pelos números consolidados e projetados, é possível ampliar a mistura de álcool na gasolina de 20% para 25%”, diz ele. A Unica reivindica o retorno da mistura, na proporção de 25%, mas a expectativa é de a decisão de Brasília só será conhecida depois do final safra de cana.