O grupo Cosan, um dos maiores produtores mundiais de açúcar e álcool, se notabilizou nos últimos anos pelo crescimento rápido, sustentado principalmente por grandes aquisições. Em março, por exemplo, assumiu o controle da rival NovAmérica, dona da marca de açúcar União, num negócio fechado via troca de ações. Em abril de 2008, fechou a compra da rede de postos Esso no Brasil por US$ 826 milhões, negócio que transformou o grupo num dos mais importantes do País também no setor de combustíveis. No mês passado, aumentou sua participação nesse mercado, com a aquisição da rede de postos Petrosul, por um valor estimado de cerca de R$ 70 milhões (o número não foi revelado). Apesar desse histórico recente, o novo presidente executivo do grupo, Marcos Lutz, diz que, em 2010, a estratégia de expansão será diferente – a meta é aprofundar o crescimento orgânico. “O que posso dizer é que no momento monitoramos negócios que nos proporcionem muita sinergia e gerem fluxo de caixa. Mas é importante que fique claro que não estamos aqui para comprar, comprar e comprar”, disse. Lutz assumiu o cargo em 1º de novembro, no lugar do controlador do grupo, Rubens Ometto, agora presidente do conselho de administração e o responsável pela prospecção de novas oportunidades. A empresa, nascida na década de 30, atua também nas áreas de produção de energia, compra e venda de áreas agricultáveis e em logística, e conta com 23 unidades de produção de açúcar e álcool, 4 refinarias e 2 terminais portuários. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Nos últimos anos, a Cosan investiu alto em aquisições. Essa estratégia será mantida?
O Rubens (Ometto) vê de forma muito clara a consolidação do setor sucroalcooleiro. Mas não fará aquisições a qualquer preço. Existe um valor a ser pago, ou seja, não se compra uma usina a qualquer preço. Não temos de correr atrás desesperadamente. Somos um player importante, com muitos negócios que já fazem parte do grupo. Só fazemos negócio no preço certo. Algumas usinas, por exemplo, são muito boas, mas têm um endividamento muito alto. Aí não compensa. Perseguimos um jeito eficiente de ser. E se não fosse a atuação em várias, áreas como nós temos, talvez estivéssemos com os mesmos problemas das usinas que estão à venda. O que posso dizer é que, no momento, monitoramos negócios que nos proporcionem muita sinergia e gerem fluxo de caixa. Mas é importante que fique claro que não estamos aqui para comprar, comprar e comprar. O que fizemos com a aquisição da Esso deixa bem claro que podemos melhorar o resultado das operações que temos em mão, não apenas comprar. Agora ! queremos nos aprofundar no crescimento orgânico.
O setor de combustíveis tem atraído grupos dos mais diversos perfis. Além da Cosan, também entraram nesse mercado companhias como o Grupo Pão de Açúcar e a empresa de investimentos BTG. Por que a área é tão atraente?
Essa área vai crescer bastante dentro da Cosan, não só com a aquisição de pequenos grupos que podem ser administrados por nós, mas também pela aquisição de redes de bandeira branca e pela construção de postos. A tendência de concentração nesse mercado de distribuição de combustíveis não é nova, começou na Europa e chegou ao Brasil tanto para o varejo quanto para as redes de combustíveis. Atuar no ponto de venda é um produto a mais que podemos ter e, assim, agregar valor ao negócio. Nada mais lógico para uma empresa que produz álcool, que tem uma logística forte, também atuar na distribuição de combustíveis. Além disso, a participação do álcool na frota brasileira não para de crescer.
Como é a gestão de! um grupo com tantos ramos de negócios? Ainda há concentração de decisões nas mãos do Rubens Ometto?
O foco da companhia é na gestão. Foi feita uma nova estrutura com executivos de qualidade, com uma definição muito clara de qual é o papel de cada um. Temos muito valor para ser gerado na empresa. Agora em 2010 queremos implementar a remuneração dos executivos a partir do valor gerado. O Rubens teve um sucesso esplendoroso no que fez até agora. Basta lembrar que o grupo começou com uma usina em Piracicaba (SP). Nós nos falamos praticamente todos os dias e ele tem uma participação importante na companhia. Além de presidente do conselho, ele é o controlador. Sua visão do negócio é de longo prazo. Ele não vai desenvolver um modelo de análise de negócios ou cuidar dos documentos e da due dilligence no caso de uma aquisição, mas a palavra final será sempre dele.
E a divisão de compra e venda de terra, como se comportou após a crise internacional?
A Radar tem US$ 600 milhões em terras e a empresa teve oportunidades de comprar terra barata durante a crise. É uma empresa bem posicionada, que pode crescer bem mais. O Brasil é muito competitivo e tem destaque na área de biocombustíveis. O etanol tem se mostrado a única solução encontrada até agora nessa área. Já o açúcar tem crescido a uma média de 2% ao ano no mundo. Ou seja, é uma commodity estável.
O fato de o Brasil ainda estar na mira de mercados internacionais, que acusam o País pelas condições degradantes de trabalho no campo, não interfere no fechamento de contratos da Cosan com os importadores?
O que há de mais parecido com trabalho escravo na empresa sou eu, que fico aqui todos os dias até às 9 da noite (risos). Fizemos um investimento grande na mecanização e no treinamneto da mão de obra para poder trabalhar nas máquinas. O trabalho que temos com a Fundação Cosan, por exemplo, atinge milhares de pessoas. O setor pode até gerar dúvidas, mas quando o negócio é com a Cosan a conversa é outra. Foi assim com os contratos de exportação de etanol com a Suécia e o Japão, por exemplo. Esses importadores sabem que as cláusulas de sustentabilidade são atendidas por nós.