O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje na Argélia para tratar com as autoridades locais de um tema diplomaticamente delicado – a oposição de Argel à expansão do número de membros permanentes no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Contornar esse dilema será crucial para a ambição brasileira de obter uma cadeira permanente no Conselho. Em agosto de 2005, a posição argelina influenciou a decisão da União Africana de apresentar uma proposta diferente daquela defendida pelo Brasil, o Japão, a Alemanha e a Índia, o chamado G-4. O resultado foi o esvaziamento dos projetos do grupo.
Neste início de 2006, Brasília retomou sua intenção de levar adiante sua proposta de reforma do Conselho – agora, sem o apoio direto de Tóquio.
Mudar a posição africana será um dos itens centrais da estratégia brasileira em 2006. Para tanto, será preciso convencer os líderes regionais, em especial o presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika. O tema fará parte da conversa privada entre Lula e Bouteflika, esta tarde, no Palácio Presidencial.
Antes, o presidente brasileiro passará por duas cerimônias pomposas ao lado do colega argelino – a chegada no aeroporto, prevista para as 9 horas (de Brasília) e em seguida uma reunião de trabalho dos presidentes e seus ministros, no Palácio.
Bouteflika foi eleito em 1999, com apoio militar, e reeleito em 2002. Nomeou os presidentes do Conselho Nacional da Nação (Senado), Abdel Kader Bensalah, e da Assembléia Popular Nacional (Câmara dos Deputados), Amar Saadani, e o chefe de governo (primeiro-ministro), Ahmed Ouyhia – as autoridades que Lula receberá na manhã de quinta-feira, na Residência Oficial de Zeralda, onde estará hospedado.
O presidente leva consigo seis ministros – Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Saraiva Felipe (Saúde), Silas Rondeau (Minas e Energia), Agnelo Queiroz (Esportes) e Ciro Gomes (Integração Nacional). Amanhã ele segue para o Benin e, depois, para Botsuana e África do Sul.
O desnível no comércio Brasil-Argélia será outro dos assuntos em pauta. No ano passado, o Brasil registrou déficit de US$ 2,454 bilhões nas trocas com a Argélia, valor inflado pelos preços internacionais do petróleo.
Em 2004, o saldo negativo já era preocupante, de US$ 1,59 bilhão. O petróleo correspondeu a 83% das vendas argelinas em 2005. As exportações brasileiras, de US$ 381 milhões, concentraram-se em três itens – açúcar em bruto, carne bovina congelada e óleo de soja.