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Musharraf busca abrir novos horizontes diplomáticos e comerciais no Brasil

O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, inicia nesta segunda-feira uma visita oficial de dois dias ao Brasil, que deve servir para projetar uma nova imagem da diplomacia de Islamabad e para identificar áreas de intercâmbios comerciais e de cooperação econômica.

Musharraf chega sábado à noite ao Rio de Janeiro e viaja no domingo para Brasília, onde será recebido no dia seguinte pelo presidente Lula.

O presidente do Paquistão estará acompanhado de quatro ministros – Relações Exteriores, Comércio, Privatizações e Informação – e de uma grande delegação de empresários. Na terça, a delegação seguirá para São Paulo a fim de ter contato com homens de negócios e visitar a sede da Embraer, quarto fabricante mundial de aviões civis.

Está prevista assinatura de quatro documentos, de combate ao narcotráfico, de segurança alimentar (técnicas agropecuárias), exoneração de vistos e criação de mecanismos de consultas políticas regulares, indicou o diretor do Departamento Ásia-Oceania do Itamaraty, Edmundo Fujita.

“O Paquistão quer ampliar seus horizontes diplomáticos com a América Latina e em particular com o Brasil”, disse Fujita. O diplomata comentou que os dois países são atualmente membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU e, nesse âmbito, vêm tendo uma “convergência de posições muito elevada”.

“Esperamos uma intensificação deste diálogo com países asiáticos em geral e com o sul da Ásia em particular”, acrescentou o diplomata.

O Brasil descarta, no entanto, obter apoio de Islamabad para sua ambição de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança no caso de uma reforma na ONU.

“O Paquistão reconhece a necessidade de ampliar o Conselho, mas com membros não-permanentes”, disse Fujita. É comentado nos meios diplomáticos que essa reticência de Islamabad se deve ao fato de a Índia, seu inimigo tradicional, ser um dos mais firmes candidatos a ingressar num Conselho ampliado, ao lado de Brasil, Alemanha e Japão.

O comércio entre Brasil e Paquistão é quase insignificante (50 milhões de dólares em 2003). Segundo Fausto Godoy, embaixador brasileiro em Islamabad, “falta uma política para definir as áreas de cooperação”, e esta visita deve começar a preencher esta carência.

O Brasil está interessado na exploração do petróleo paquistanês em águas profundas e no processo de automação dos bancos paquistaneses, detalhou Godoy.

Já o Paquistão tem interesse em colocar produtos têxteis de qualidade e também na tecnologia brasileira para fabricar etanol, dado que possui cana-de-açúcar, matéria-prima deste álcool usado para combustível.

O Paquistão esteve nos últimos anos no centro da luta contra o terrorismo, numa região que é também grande produtora de narcóticos.

“Musharraf vem ao Brasil para expor o Paquistão para o mundo. O país precisa de nova visibilidade, quer sair do âmbito regional e se integrar num processo global”, afirmou Godoy.

O mandatário irá também a Argentina e México, além de Estados Unidos, Grã Bretanha e França.