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Murcha, o atual "calcanhar de Aquiles" do setor

A ascensão da doença já afeta o mix da produção de açúcar

Murcha, o atual "calcanhar de Aquiles" do setor

A atual frustração com o mix de produção de açúcar na safra pode ser explicada por uma nova e preocupante ameaça à cana-de-açúcar: a síndrome da murcha do colmo. A análise foi feita por Plinio Nastari, consultor da DATAGRO, durante o XVIII Encontro Anual de Açúcar e Álcool, realizado pelo Citi Brasil em Ribeirão Preto, São Paulo, no dia 3 de outubro.

Durante sua apresentação, Nastari destacou as dificuldades enfrentadas pelo setor, abordando projeções de safra, produção de açúcar e etanol, além dos preços das commodities. Segundo ele, o mix de produção de açúcar na região Centro-Sul ficou 3,2 pontos percentuais abaixo do esperado, atingindo 47,86% na primeira quinzena de setembro. Desde abril, a média é de 48,96%, uma queda de 0,4 ponto percentual em relação ao ano anterior. “Isso é consequência do baixo teor de sacarose, apesar do aumento no nível de açúcares redutores”, explicou.

Além disso, o consultor destacou a importância da síndrome da murcha do colmo como um dos principais fatores responsáveis pela queda na produção de açúcar. “Essa doença é causada por fungos como Colletotrichum falcatum, responsável pela podridão vermelha; Phaeocytostroma sacchari (ou Pleocyta sacchari), que causa a podridão da casca; e Fusarium spp., associado à murcha de Fusarium”, detalhou.

Com a ascensão da doença, a produção no Centro-Sul, que no ano anterior atingiu 43 milhões de toneladas, deverá ser menor em 2024. “Nossas estimativas para o balanço mundial indicam um déficit de 3 pontos em 2023/24 e de 1,5 pontos para 2024/25, marcando o terceiro ano consecutivo de déficit”, afirmou.

Apesar dos desafios, Nastari ressaltou que o consumo mundial de açúcar continua a crescer, com uma demanda anual de 1,8 a 2 milhões de toneladas, o que cria uma oportunidade significativa para o Brasil. “Entre os grandes players do setor, como Índia, Tailândia e União Europeia, o Brasil é o único com potencial de expansão considerável. A Índia está focada em seu programa de etanol, e tanto a Tailândia quanto a União Europeia enfrentam limitações naturais para o aumento da produção”, explicou.

Entretanto, ele salientou que para o Brasil expandir sua capacidade de produção, os preços do açúcar precisam se manter elevados por um período estável. “Não adianta uma alta temporária. O preço precisa subir e se manter em um nível que incentive os investimentos na ampliação da capacidade de cristalização”, alertou.

Nastari também destacou o papel da tecnologia, especialmente no desenvolvimento de sementes de cana, como um fator chave para enfrentar os desafios fitossanitários e aumentar a produtividade. “Essa inovação reduz em 40% o custo de plantio, acelera o processo e melhora o controle de doenças, possibilitando ganhos de produtividade entre 20% e 25%”, afirmou.

Plínio Nastari, presidente da DATAGRO

Ele acredita que essas tecnologias disruptivas têm o potencial de tornar o etanol e o açúcar brasileiros ainda mais competitivos no cenário global, ao reduzir os custos e otimizar o uso das áreas de plantio.