O presidente da Bolívia, Evo Morales, reacendeu ontem as críticas aos biocombustíveis e ao etanol, carro-chefe da política externa brasileira.
Em seu discurso na reunião de chefes de Estado do Mercosul, Morales citou um artigo da revista britânica “The Economist”, sob o título “Fidel tinha razão”.
O texto destaca a alta dos preços das terras, do milho e das carnes por conta da expansão desse mercado.
— Quando (Fidel Castro) se levantou da cama para escrever um artigo criticando o entusiasmo nocivo de George W.
Bush pelo etanol, ele tinha razão — disse Morales.
A declaração do líder boliviano foi feita pouco depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer uma defesa veemente dos biocombustíveis. Em referência às críticas feitas há alguns meses pelos presidentes de Cuba, Fidel Castro, e Venezuela, Hugo Chávez, Lula disse que a experiência brasileira na produção de biocombustíveis “não compromete em nada a segurança alimentar”.
Lula: é hora de buscar acordos com outros mercados Segundo o presidente da Bolívia, é “sinistra” a idéia de converter alimentos em combustíveis para “famintos automóveis americanos”: — Os biocombustíveis fizeram subir o preço do milho (a partir do qual se produz etanol), que é mais usado para alimentar animais e, com isso, o preço das carnes também aumentou.
Lula — que se reuniu depois com Morales a portas fechadas e evitou comentar as declarações do boliviano — pediu, em seu discurso, soluções criativas para fortalecer o Mercosul. Ele enfatizou que houve avanços com as medidas de redução das assimetrias econômicas entre os países da região e disse que é hora de buscar acordos comerciais com outros mercados: — Está claro que o Mercosul deve aprofundar a parceria com outros países e blocos desenvolvidos e em desenvolvimento.
Isso fará com que o bloco se fortaleça como interlocutor internacional.
Uma semana após se juntar a um grupo de nações latino-americanas e apresentar uma proposta de redução das tarifas de produtos industrializados na Organização Mundial de Comércio (OMC), o Chile voltou atrás e reiterou, ontem, seu apoio ao Brasil nas negociações da Rodada de Doha. A informação foi dada pela presidente do país, Michelle Bachelet, a Lula, em um encontro realizado pela manhã: — Meu país, como associado ao Mercosul, expressa todo o seu apoio às gestões realizadas pelo Brasil em representação ao G-20.
O uruguaio Tabaré Vázquez, que assumiu ontem a presidência do Mercosul por seis meses, disse que dará atenção especial ao livre comércio, à criação do Banco do Sul, à integração energética e às questões ambientais.
Preocupado com a repercussão negativa provocada pela ausência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que está em viagem à Rússia, o vicepresidente venezuelano, Jorge Rodriguez, assegurou ontem que seu país jamais pensou em desistir de ser membro do Mercosul. Ele criticou os meios de comunicação, afirmando que a imprensa “criou um fato” que não é verdadeiro.