Entre as incertezas geradas pela mudança de governo e as dúvidas em relação ao preço e ao volume de produção do álcool, as principais empresas de veículos automotores do País mantém uma posição discreta em relação às perspectivas de produção e aos lançamentos de novos modelos a álcool ou do carro bicombustível (o flex fuel) para 2003. Apesar do discurso otimista existe, ainda, desconfiança em relação ao abastecimento e a diferença de preço entre álcool e gasolina. “O mercado ainda se ressente do trauma criado pela crise de abastecimento ocorrida no final da década de 80”, admite o diretor de Marketing da Volkswagen, Paulo Sérgio Kakinoff.
Para ele, o atual cenário de regularidade na produção e fornecimento desse combustível possibilita que a demanda por carros a álcool permaneça aquecida. Nem mesmo o aumento do preço do litro e a cogitada redução da mistura do álcool na gasolina, em novembro, afetaram o mercado. Dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores — Anfavea mostram que a procura por modelos a álcool tem crescido. De janeiro a novembro de 2002, as vendas atingiram 49.321 veículos, o que representa 4,2% do total de automóveis vendidos no País. No ano de 2001, as vendas ficaram em 18.335 unidades e em 2000,. 10.292 veículos.
A Volkswagen planeja o lançamento das versões a álcool para o Polo (Hatch e Sedan) e para o Golf. Segundo Kakinoff, o projeto para o lançamento do carro flex fuel ainda está em desenvolvimento e não há definição quanto aos modelos que incorporarão essa nova tecnologia.
A Fiat Automóveis aguarda um posicionamento do novo governo sobre a reimplantação do programa brasileiro do álcool para fazer qualquer análise mais profunda sobre as perspectivas de produção, nessa área, para 2003, diz Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da Fiat. Ele informa que a empresa não tem previsão de lançamento de carros movidos, exclusivamente, a álcool para 2003.
Atentas às políticas de incentivo ao emprego de novas fontes energéticas, as montadoras não escondem o interesse nesse mercado. A própria General Motors, que evita qualquer divulgação sobre novos lançamentos e projetos, admite que o flex fuel já está a caminho. A Ford chegou a apresentar, em maio, três protótipos do Novo Fiesta, concebidos no Brasil dentro do conceito de multiuso de combustíveis. Os modelos, com motores Zetec RoCam 1.6 litro são: o flex-fuel, ou combustível flexível, que pode ser abastecido com álcool hidratado, gasolina ou gasolina misturada com álcool em qualquer proporção; o bicombustível, alimentado a álcool ou gás natural, e o movido a álcool hidratado.
(JornalCana – Mercados & Cotações – Janeiro/2003 – Ed. 109)