O investimento em tecnologia será um dos fatores preponderantes para a sobrevivência das montadoras de veículos em todo o mundo, acreditam as produtoras e especialistas que acompanham o setor. Apesar do fluxo de caixa das montadoras estar mais reduzido, principalmente pela forte queda da demanda por autoveículos, aportes em novos produtos e em veículos menos poluidores e menos dependentes de combustíveis serão necessários, mesmo com os consumidores não estando dispostos a gastarem mais por um automóvel “ecologicamente correto”. No Brasil, no entanto, essa tecnologia pode demorar para chegar comercialmente, principalmente pelo sucesso do etanol no País.
A General Motors (GM), que já possui oito veículos híbridos em seu portfólio – todos fora do Brasil -, estima que em 2014 esse número chegará a 26. “No Brasil, a tecnologia flex fluel é altamente competitiva, por causa da produção do etanol”, afirmou o presidente da GM do Mercosul, Jaime Ardila. No mês passado, 89% dos automóveis e comerciais leves licenciados no País eram flex fluel, segundo dados da Anfavea (associação das montadoras).
A exportação de tecnologia brasileira para o exterior vale-se, principalmente, do sucesso do trabalho dos centros de desenvolvimento das montadoras instaladas no Brasil. Apesar do etanol ainda não ser muito competitivo em países como os Estados Unidos, a projeção é que ocorra uma inversão. “A nossa expectativa é que o custo do etanol caia drasticamente nos próximos anos nos EUA, aí a tecnologia brasileira será atrativa para eles”, afirmou Ardila.
Por outro lado, a vinda de carros híbridos – que pode rodar tanto por combustão como por energia elétrica e funciona com um motor elétrico acoplado a um propulsor a gasolina – ao Brasil está ainda longe de acontecer. Não só devido ao sucesso dos carros flex fluel, que já distanciou os veículos da total dependência do combustível fóssil, mas, principalmente, pelo alto custo.
Mesmo que não comercialmente, os centros de desenvolvimento das montadoras no Brasil já começam a se movimentar para buscar novas tecnologias. Segundo pesquisa realizada pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PWC) realizada com CEOs do setor automotivo, 92% concordam que a inovação é um fator crítico para a sobrevivência no longo prazo. “No futuro pode ser um diferencial conseguir atravessar com investimentos em tecnologia”, afirmou o analista e sócio da PWC, Marcelo Cioffi
A Fiat , por exemplo, trabalha no projeto do Pálio elétrico, que envolve a produção de 50 modelos em parceria com concessionárias de energia até 2010. Os investimentos para o projeto somam US$ 15 milhões. “Apesar de ainda não ser viável a fabricação em larga escala, já que ele custaria cerca de R$ 80 mil, o programa permite o desenvolvimento de tecnologias”, explicou o diretor de Planejamento e Estratégia de Produto da Fiat Automóveis, Carlos Eugênio Fonseca Dutra. O executivo afirmou que a queda do preço do automóvel dependeria da escala de produção. O preço de cerca de R$ 80 mil, segundo o diretor da Fiat, não engloba o valor de impostos e nem mesmo algum lucro para a montadora.
“O custo é muito alto. Eu não vejo um mercado de híbrido no Brasil a médio prazo. Apenas se o híbrido se evoluir e o custo cair”, afirmou Fonseca Dutra. No caso dos carros flex, o executivo lembrou que o Brasil “possui excelência em combustíveis alternativos e que o País ajuda a Itália nesse sentido”.
Enquanto não é a realidade brasileira, os EUA anunciaram, neste mês um programa de concessão de US$ 2,4 bilhões para estimular o desenvolvimento de carros híbridos. O objetivo é ter um milhão de veículos híbridos nas ruas em 2015.
Para 92% das montadoras, a inovação é fator crítico para a sobrevivência. “No Brasil, a tecnologia flex fluel é altamente competitiva”, disse o presidente da GM, Jaime Ardila.