O mês passado foi o melhor janeiro da história da indústria automobilística em termos de produção e exportação. Foi também o melhor janeiro para as vendas desde 1997, como foi noticiado na semana passada. Ao todo, foram produzidas 198,4 mil unidades no País, 20,5% a mais que em janeiro de 2005.
Na comparação com dezembro, contudo, houve uma queda de 3,6%.
Apesar das queixas em relação ao dólar fraco, o setor exportou US$ 740 milhões, 16,8% mais que em janeiro de 2005. Trata-se, no entanto, de um valor 16% menor que o de dezembro. Foram exportados 57,9 mi veículos no mês, 33% da produção. “Começamos o ano com bastante força no mercado interno e nas exportações”, afirmou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogélio Golfarb, ao divulgar os números do setor. Ele atribui o desempenho ao “cenário de tranqüilidade” no ambiente macroeconômico, com juro e risco país em queda, inflação controlada e exportações em alta. “Isso deixa o consumidor mais confortável para comprar um carro novo”, disse. A competição entre as montadoras também ajudou: “Em janeiro, tradicionalmente, os descontos costumam aparecer com mais intensidade no final do mês. Mas os descontos apareceram desde o início do mês.” Apesar do crescimento das exportações, a Anfavea acredita que os efeitos do câmbio valorizado já começam a ser sentidos. “O crescimento das exportações está se desacelerando”, disse Golfarb. “O que se vê hoje nas vendas externas é resultado de um esforço feito no passado.” Depois de registrar crescimento de 33,5% nas exportações em 2005 (US$ 11,187 bilhões), a indústria prevê um incremento de apenas 2,7% este ano. A Argentina é o principal mercado, seguida do México.
Apesar das incertezas em relação ao acordo automotivo com a Argentina, a Anfavea prevê um aumento da participação do país vizinho no total das exportações, de 9,6% para 11%.
FLEX
De acordo com o presidente da Anfavea, a recente alta do álcool não afetou as vendas dos veículos bicombustíveis (flex).
Ao contrário, a participação deles sobre o total das vendas de veículos em janeiro atingiu o recorde de 72,8%. Em dezembro, a participação foi de 68,6%. Os carros flex ultrapassaram os modelos a gasolina em junho, superando a marca de 1 milhão em novembro. “Caminhamos para chegar a 85%, que é o teto, pois sempre sobrarão uns 10% ou 15% de modelos a gasolina ou a diesel”, afirmou Golfarb.
Depois do crescimento recorde de 10,7% na produção de veículos no ano passado, a Anfavea prevê uma expansão de apenas 4,5% este ano, para 2,640 milhões. Com as vendas, a expectativa é de um crescimento de 7,1%, para 1,840 milhão.
Para responder ao aumento da demanda, diversas montadoras aumentaram a capacidade de produção em 2005. A indústria como um todo fechou o ano passado com uma capacidade de 3,5 milhões de veículos, 9% a mais que há dois anos. A ociosidade, que naquele ano foi de 40%, caiu para 30%.
Apesar dos bons resultados do setor, a General Motors anunciou ontem um Programa de Demissão Voluntária (PDV) nas fábricas de São Caetano do Sul e São José dos Campos (ver página B16).
MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Menos animadoras foram as vendas máquinas agrícolas e caminhões, embora o desempenho tenha ficado acima das expectativas do setor.
Em janeiro, as vendas de máquinas agrícolas caíram 1,3% para 1.687 unidades, na comparação com janeiro do ano passado. Já a venda de caminhões recuou 5,8%, para 5.940 unidades. “Esperávamos uma queda muito grande. O pequeno recuo indica que a tendência do setor, por ora, é de se estabilizar no patamar de queda, para depois se recuperar”, afirmou Golfarb.
Diante disso, a Anfavea mantém a projeção de aumento das vendas de máquinas agrícolas de 16,4% em 2006, para 27 mil unidades.
Para o vice-presidente da Anfavea, Pérsio Luiz Pastre, as empresas têm potencial para superar a crise no mercado interno, mas o setor necessitará de tempo, alguns meses ou até dois anos. As fracas vendas, segundo Pastre, refletem a situação do setor, “ainda afetado por um real valorizado e por perdas provocadas pela seca”.