A primeira iniciativa prática depois do acordo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, assinaram no Japão para cooperação no setor energético, há pouco mais de um mês, ocorreu ontem à noite, em São Paulo. Numa reunião fechada, Yorihiko Kojima, presidente mundial do grupo Mitsubishi Corporation, um dos maiores conglomerados do Japão, jantou com representantes de 20 empresas brasileiras para discutir novos negócios. A importação de etanol é um dos principais objetivos da companhia.
Com negócios no Brasil há cinco décadas, a Mitsubishi atua como trading e investe em várias empresas. Ela opera na intermediação da importação de parte do etanol que o Brasil vende para o mercado japonês. A direção da Mitsubishi diz que a empresa é responsável por 25% do etanol brasileiro que chega ao Japão. Mas a idéia de Kojima, no comando da companhia há um ano, é aumentar os volumes. Segundo ele, o grupo pode ampliar a participação na infra-estrutura do transporte do produto.
A direção do grupo aposta no aumento do uso do álcool na mistura com a gasolina. Há até pouco tempo os japoneses resistiam ao uso desse combustível. Mas o quadro começou a mudar com o aumento no preço do petróleo e o protocolo de Kyoto.
Segundo Kojima, além do etanol, o grupo tem interesse nos setores de gás natural, níquel, alumínio, minério, siderurgia, geração de energia, soja, frango e laranja.
Em proporções variadas, o grupo japonês já participa em boa parte desses setores. A Mitsubishi Corporation tem participação acionária na Rio Negro e empresas menores. Na carteira de clientes, estão empresas do porte da Petrobras e Vale do Rio Doce. Atuando na venda de equipamentos, logística e serviços financeiros, entre outros, o grupo obtém faturamento anual de US$ 1 bilhão apenas com negócios gerados no Brasil.
Parte desse montante vem da exportação de motores e transmissões do Japão para o grupo Souza Ramos, que produz os veículos da marca Mitsubishi no Brasil.
Segundo Kojima, ao lado de Rússia e Índia, o Brasil está nos planos de crescimento da companhia, que incluem, sobretudo, ampliação de negócios em países emergentes. Sem contar a China, que, segundo o executivo, consegue crescer como nenhum outro país. “Produtos chineses como tecidos e brinquedos estão invadindo o Japão”, afirma. “Mas o Brasil é bastante competitivo graças aos seus recursos naturais”, destaca.
Ao falar com o Valor antes do encontro, o executivo não quis revelar as empresas que participariam da reunião. Existe a possibilidade de alianças com empresas ou de participações da Mitsubishi em algumas. “Não temos ainda nada decidido e vamos estudar caso a caso”, disse.
Ao assumir, Kojima lançou um plano de ampliação de negócios por meio do qual ele quer praticamente dobrar o lucro do conglomerado. A companhia fechou o ano fiscal de 2004 com lucro líquido de 115,4 bilhões de ienes (US$ 1,03 bilhão), quer chegar a 180 bilhões de ienes em 2008.
O executivo disse, ainda, que a companhia não tem intenções de investir na operação de veículos da marca no Brasil. Aqui, o investimento vem sendo todo feito pelo grupo brasileiro.