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Minoritários se mobilizam para deixar a LDC-SEV a partir de 2012

Os acionistas minoritários da LDC-SEV, braço sucroalcooleiro da francesa Louis Dreyfus Commodities, contrataram há um pouco mais de um mês empresas de consultoria financeira para assessorá-los no processo de saída do negócio, que deve ocorrer já a partir do ano que vem.

O grupo de minoritários basicamente é dividido em dois blocos, que somam participação acionária entre 25% e 27%. O primeiro deles é formado pelos integrantes das famílias Biagi e Junqueira Franco – com 14% de participação -, antigas controladoras da Santelisa Vale, incorporada pela Louis Dreyfus em 2009.

O outro bloco é constituído por acionistas estrangeiros, que detêm aproximadamente 13% da LDC-SEV e estavam no negócio de açúcar e álcool da multinacional francesa antes da compra da companhia paulista, em 2009.

Não há uma estimativa atual de quanto vale a fatia de cerca de 25% dos acionistas minoritários que querem deixar a empresa. Mas há dois anos, quando a Santelisa foi incorporada, a LDC-SEV foi avaliada pela própria Dreyfus em R$ 8 bilhões. Naquela época, o braço sucroalcooleiro da multinacional francesa tinha – e ainda tem – como acionistas os bancos credores, com cerca de 9% (ações preferenciais), além do BNDES e do Goldman Sachs. Estes dois últimos não estão mais no negócio, segundo apurou o Valor. A participação da Louis Dreyfus na LDC-SEV é estimada em 60%.

Fontes afirmam que o bloco de minoritários estrangeiros contratou o BR Partners para assessorá-lo no negócio. As famílias sócias também contrataram um assessor financeiro para acompanhar a solução que a Dreyfus encontrará para viabilizar a saída dos sócios.

Procurada, o BR Partners não comentou. Membros da família Biagi também foram procurados, mas não retornaram. A Louis Dreyfus optou por não se pronunciar sobre o assunto.

Fontes próximas ao negócio explicam que, no acordo de compra da Santelisa Vale, a Dreyfus se comprometeu, em contrato, a oferecer liquidez aos papéis dos acionistas minoritários, ou seja, criar condição para que eles possam exercer a opção de venda de suas ações. No caso das famílias Biagi e Junqueira Franco, o prazo vence no segundo semestre de 2012. Aos investidores estrangeiros, esse prazo é 2013.

Assim, segundo fontes, neste momento a LDC-SEV trabalha em duas frentes para cumprir o estabelecido no contrato. A primeira delas é a abertura de capital na BM&FBovespa. Segundo apurou o Valor, a múlti está trabalhando de forma intensa para deixar toda a documentação pronta para que, em surgindo uma “janela” no mercado de capitais, realizar a Oferta Inicial de Ações (IPO, na sigla em inglês) em 2012.

A menos que não haja condição de mercado alguma para o IPO, e os bancos credores atestem a impossibilidade da operação, a cláusula de liquidez pode ser prorrogada por mais dois anos, segundo afirmaram fontes.

A outra alternativa que está sendo posta em prática pela Dreyfus é a procura de um investidor disposto a comprar a participação dos minoritários, o que pode ser um fundo de investimento ou uma companhia já presente no setor, ou disposta a entrar.

O fato é que, segundo fontes consultadas pelo Valor, os dois blocos de acionistas querem exercer o direito de venda de suas ações nos prazos estabelecidos em contrato. Boa parte desse movimento estaria fundamentado nos constantes rumores de dificuldade operacional da LDC-SEV, que se aprofundaram após a divulgação dos primeiros resultados de sinergia com a Santelisa Vale (os R$ 190 milhões de sinergia foram considerados aquém do potencial).

A LDC-SEV teria também, segundo fontes, dificuldades de lidar com fornecedores de cana, e teria perdido importantes parceiros quando assumiu as sete usinas da Santelisa Vale. Também pelas intempéries do clima, que afetou canaviais de todo Centro-Sul, a LDC-SEV deve encerrar o ciclo 2011/12, com moagem próxima de 28 milhões de toneladas de cana, bem abaixo da capacidade industrial (40 milhões de toneladas) e do realizado na safra 2010/11 (33,7 milhões de toneladas).