Mercado

Ministros da Opep devem manter cotas de produção

Alguns ministros de países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) mostraram-se contrários a elevar as cotas de produção na reunião do grupo marcada para hoje, apesar dos receios de que o alto preço do produto possa estar prejudicando a economia mundial.

Os ministros do Petróleo da Nigéria e Kuait e uma alta autoridade do setor petrolífero na Líbia deram sinais de que a Opep está satisfeita com os atuais níveis dos preços.

Ainda assim, os declínios nos mercados acionários verificados nas últimas semanas levantaram dúvidas sobre o vigor das economias mundiais e sobre as perspectivas de continuidade na forte demanda por petróleo, apesar das projeções predominantes mostrarem que o apetite mundial pelo produto será cada vez maior.

As ações das principais bolsas européias e asiáticas fecharam em queda ontem, depois de Wall Street registrar sua segunda maior queda em pontos nos últimos quatro anos e sacudir os já cautelosos demais mercados mundiais. A nova onda de queda chegou justo quando os mercados internacionais começavam a recuperar-se dos declínios do início do mês, provocados pelos receios com a sobrevalorização das ações e a desaceleração da economia americana.

“Argumentaria fortemente contra isso, ainda não chegamos lá”, disse o ministro do Petróleo da Nigéria, Edmund Daukoru, ao ser perguntado se a organização de 12 países contemplaria definir na reunião uma elevação da produção antes da temporada de viagens de férias na América do Norte, quando a demanda é alta.

Os dois cortes nas cotas promovidos nos últimos quatro meses contribuíram para a relativa estabilidade que manteve o preço referencial do petróleo bruto entre US$ 50 e US$ 60 por barril – abaixo do recorde de mais de US$ 78 atingido no terceiro trimestre do ano passado, mas ainda 40% acima dos níveis de 2004.

Ontem, os preços do petróleo não apresentavam tendência definida, depois de os dados semanais sobre os estoques nos EUA terem mostrado aumento na reserva de petróleo bruto, mas queda nas de gasolina e derivados, como o diesel e óleo para aquecimento. O contrato do WTI para entrega em abril subiu 23 centavos de dólar, para US$ 58,16 em Nova York . O tipo Brent também para abril subiu 16 centavos de dólar, para US$ 61,06, em Londres.

Os preços atuais além de permitirem confortáveis margens de lucro tanto para os países produtores como para as grandes petrolíferas, também estão abaixo das altas marcas que poderiam levar a uma queda no consumo mundial e a mais interesse em combustíveis alternativos como etanol, energia eólica e nuclear. Parece estar dentro dos interesses da Opep continuar extraindo petróleo aos preços atuais, mas ficando atenta para elevar ou reduzir as cotas, caso os preços caiam ou subam muito.

As cotações atuais estão abaixo das altas marcas que poderiam levar a uma queda no consumo mundial

Com a aproximação da temporada de viagens na América do Norte, há pouca probabilidade de que os preços continuem em queda ou de conseqüentes cortes nas cotas, pelo menos no curto prazo. Nas vésperas de sua reunião seguinte, em junho, poderia até estar sofrendo pressões para aumentar as cotas na reunião seguinte.

O ministro do Petróleo do Kuait, xeque Ali Al Jarrah Al Sabah, afirmou que apóia a manutenção das cotas. Shokri M. Ghanem, diretor da National Oil, da Líbia, sugeriu que a Opep deveria manter a atual situação. “Não creio que haja uma necessidade real de se fazer algo.” Perguntado se e quando a Opep poderia elevar as cotas antes da temporada de viagens, afirmou que “se houver necessidade de mais petróleo”, produzirão mais.

Al Sabah também indicou que o grupo poderia agir caso a oferta fique escassa. “Se ficar em falta, a Opep preencherá qualquer vazio.”

O analista independente do setor petrolífero Kamel A. Al-Harami, ex-presidente da Q8, braço varejista da Kuwait Petroleum também acredita na manutenção das cotas. “Acho que eles estão confortáveis (…) porque os preços estão em seu nível aceitável”, afirmou.

Os dez países da Opep que operaram por meio de cotas acertaram cortes em outubro e fevereiro, em um total de 1,7 milhão de barris. Embora analistas digam que, na prática, a redução não foi cumprida integralmente, foi suficiente para manter os preços em níveis que a Opep considera satisfatórios.

O Iraque não participa do regime de cotas. O ministro do Petróleo do país, Hussein al- Shahristani, afirmou à agência Dow Jones Newswires que houve negociações com a Royal Dutch Shell e com a Total para desenvolver vastas reservas do país e que ele espera ofertar vários projetos neste ano.

Autoridades do governo dos EUA e políticos iraquianos elogiaram um projeto de lei que permitirá investimentos estrangeiros para reconstruir o setor, atualmente dilapidado pela guerra. Também esperam que a nova receita com o petróleo, distribuída eqüitativamente entre os grupos étnicos, religiosos e regionais no fragmentado país, ajude a sustentar o instável governo central de Bagdá.

Executivos de petrolíferas, no entanto, afirmaram que a lei ainda é muito ambígua para desencadear negociações significativas entre empresas e representantes do governo. Caso aprovada, a participação estrangeira seria um grande passo, porque as riquezas petrolíferas do país são politicamente quase sagradas.