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Migrantes "dominam" plantações do Centro-Sul

Quando chegou em Luiz Antônio, na região de Ribeirão Preto, vindo da maranhense Codó, há três safras, Pedro Gilson Silva da Conceição não tinha referências do setor sucroalcooleiro. Indicado por amigos, Conceição, hoje com 21 anos, só tinha a certeza de que poderia ganhar algum dinheiro cortando cana-de-açúcar. De Timbiras, perto de Codó, Francisco Pinto de Souza, aos 30 anos, seguiu o mesmo rumo na última safra, por indicação de seu irmão.

Não é coincidência. Como Conceição e Souza, a maioria dos cortadores de cana que trabalham no Centro-Sul do país é formada atualmente por migrantes nordestinos indicados por amigos e parentes que também trabalham nos canaviais durante a safra e costumam voltar para casa no fim do ano. “É o que chamamos de migração ’temporária-permanente’”, diz a irmã Inês Facioli, coordenadora da equipe da Pastoral do Migrante de Guariba, na região de Ribeirão Preto.

Os cortadores de cana – mais de 90% deles migrantes – atualmente costumam ficar de cinco a oito anos nos canaviais, como trabalhadores temporários contratados. Nos últimos dez anos, a média está caindo. “A média era de 15 a 20 anos. As empresas agora dão prioridade para trabalhadores mais jovens”, afirma a irmã. A faixa etária oscila de 18 a 30 anos, e cortadores de entre 50 e 60 anos são cada vez mais raros, já que sua produtividade é menor.

O movimento migratório para os canaviais paulistas começou na década de 60, principalmente com trabalhadores de Minas Gerais e Bahia. Foi no início deste milênio que o fluxo migratório se diversificou. Mais trabalhadores mineiros passaram a se estabelecer no próprio Estado e uma parte se deslocou para o Centro-Oeste, sobretudo Goiás e Mato Grosso, por conta também da expansão da cana.

Nos arredores de Guariba e Pradópolis, os maranhenses dominam. “Os primeiros migrantes se encarregam de chamar os parentes e amigos. Por isso a concentração de trabalhadores de um mesmo Estado”, observa irmã Inês. Além de Codó e Timbiras, Chapadinha também contribui. Em Sertãozinho, pólo mais desenvolvido da região de Ribeirão, mineiros e baianos ainda prevalecem.

Paradoxalmente, as áreas sucroalcooleiras do Nordeste, concentradas em Alagoas e Pernambuco, não atraem os trabalhadores locais por conta da baixa remuneração. “A expansão da cultura da soja no Maranhão e no Piauí tem deslocado os trabalhadores rurais nordestinos para estas regiões”, afirma a religiosa.

Pedro Conceição acaba de embarcar em um ônibus de volta ao Maranhão, mas estará em São Paulo para pelo mais duas safras. Já Francisco Pinto de Souza desistiu. Antes de pegar a estrada de volta, disse que está com forte dores nos rins. “Não tenho hora para comer. Trabalhamos de sol a sol, chuva a chuva”. Ele não sabia que o trabalho nos canaviais era tão pesado. No Maranhão, trabalhava em uma loja de peças para bicicleta. “Mas a concorrência era grande”. Mesmo assim, vai tentar a vida por lá.

Já Sebastiana Ferreira da Silva, de 59 anos, torce para que sua aposentadoria saia logo. Nascida no interior de São Paulo, ela corta cana há oito anos, mas desde a década de 1970 trabalha na roça. Nos canaviais, Sebastiana é exceção: mulher, mais de 50 anos e paulista. Evangélica, ela ora para pendurar logo o facão.