A expansão acelerada do mercado livre de eletricidade, no qual empresas podem contratar o suprimento de energia diretamente com geradores e comercializadoras, fez disparar neste ano o prêmio cobrado nas negociações que envolvem a geração de usinas de fontes renováveis, afirmaram especialistas ouvidos pela Reuters.
Esse prêmio, que representa a diferença de preços entre contratos de energia renovável e de energia de outras fontes, convencionais, disparou 50 por cento desde o início de 2016 e alcançou máximas desde agosto de 2014 nos acordos de longo prazo, segundo a consultoria Dcide.
O movimento está ligado às regras do mercado livre, que estabelecem que empresas de médio porte que decidem negociar nesse ambiente, os chamados consumidores especiais, devem comprar contratos apenas de usinas renováveis, como parques eólicos, pequenas hidrelétricas e térmicas à biomassa, conhecidos pelo termo “energia incentivada”.
Atualmente, há mais de mil consumidores especiais em meio ao processo de adesão ao mercado livre, o que representará uma expansão de mais de 70 por cento ante os 1,4 mil clientes da categoria hoje, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
O fluxo está associado ao menor preço dos contratos de energia no mercado livre em relação às tarifas cobradas pelas distribuidoras, que tiveram alta de mais de 50 por cento em 2015.
“Esse aumento (dos prêmios da energia renovável) é claramente puxado pela procura que existe em função da migração dos consumidores especiais, que precisam comprar esse tipo de energia”, disse o diretor da Dcide, Patrick Hansen.
O presidente da comercializadora de energia Comerc, Cristopher Vlavianos, afirmou que o fluxo de clientes especiais em busca do mercado livre teve início na segunda metade de 2015 e intensificou-se fortemente neste ano.
“Isso tem feito com que a energia incentivada tenha uma demanda muito maior que a convencional… é o efeito normal, oferta e demanda… o movimento de migração está bastante intenso”, afirmou.
Segundo a Dcide, o prêmio dos contratos de energia incentivada de longo prazo em relação aos convencionais está em 22,31 reais por megawatt-hora.
O prêmio representa cerca de 18 por cento do preço dos contratos de energia convencional, cotados em 126,35 reais por megawatt-hora, em média.
O sócio da comercializadora Compass, Paulo Mayon, lembrou que prêmios maiores já foram praticados no passado, e disse que o cenário atual representa uma retomada, após o mercado livre de eletricidade ter tido pouca movimentação entre 2013 e meados de 2015, período em que as tarifas das distribuidoras eram mais atrativas.
“Não existe uma explosão do preço, é natural de um ambiente que passou mais de dois anos em que praticamente não existia migração e consumo.”
Um levantamento da CCEE aponta que há cerca de 744 megawatts médios em energia incentivada disponíveis para venda no mercado, o que representa cerca de 12 por cento dos 6.061 megawatts médios em usinas renováveis em operação no país.
GERADORES APROVEITAM
Alguns operadores do mercado de energia têm até mesmo afirmado enfrentar dificuldades para encontrar contratos de energia incentivada à venda, mas o sócio-diretor da comercializadora Ecom, Paulo Toledo, disse que é tudo uma questão de preço, com os geradores buscando se beneficiar dos prêmios mais elevados.
“Não sentimos dificuldade a ponto de não encontrar, o que impacta mais é a diferença de preço… claro que o produtor de energia incentivada percebe esse movimento e acaba também segurando um pouco sua venda, esperando subir um pouco mais.”
A tendência já entrou no radar dos investidores em geração.
A CPFL Renováveis, por exemplo, colocou em operação neste mês duas usinas eólicas que venderão toda a produção no mercado livre para a comercializadora do grupo, a CPFL Brasil, que ficará responsável por revender essa energia no varejo.
“Tem uma migração dos consumidores especiais indo do mercado cativo para o livre e eles só podem comprar energia renovável, o que faz com que tenha uma demanda maior… essa foi a estratégia do negócio com a CPFL Brasil. No curto prazo é cedo para falar, mas no longo prazo temos boas perspectivas de comercialização”, afirmou a superintendente de Relações com Investidores da CPFL Renováveis, Flavia Carvalho.
Fonte: (Reuters)