O mercado livre de energia elétrica registra avanço no País. No primeiro trimestre do ano, o número de processos de adesão de consumidores livres e especiais cresceu 9%. O total chegou a 182 entre janeiro e março últimos.
O aumento foi apurado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e reflete o avanço do nicho de mercado livre em relação ao total de agentes de consumidores livres e especiais em dezembro de 2015.
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O aumento foi apurado mesmo levando-se em conta o desligamento de 16 agentes ao longo do período avaliado.
A alta reflete, segundo a CCEE, o aumento na tarifa da energia no Ambiente de Contratação Regulada (ACR), a queda no Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) e a simplificação no Sistema de Medição e Faturamento impulsionaram o Ambiente de Contratação Livre (ACL).
Adesões
Conforme a CCEE, o grande fluxo migratório é liderado pelos consumidores especiais, que são empresas com demanda entre 500 kW e 3MW e são obrigados a adquirir energia de Pequenas Centrais Hidrelétricas ou de fontes incentivadas especiais (eólica, biomassa ou solar). Nestes três meses, foram feitas 158 adesões, alcançando a marca de 1.348 agentes. Para abril, já estão aprovadas mais 106 adesões.
No caso dos consumidores livres, que são empresas com demanda mínima de 3MW e podem negociar energia com qualquer fornecedor, a evolução ocorreu de maneira atenuada. De janeiro à março foram 24 novos agentes, somando ao final do terceiro mês um total de 644. Para abril, o ritmo é o mesmo e estão validadas 9 adesões.
Como consequência deste crescimento do mercado livre, a Câmara de Comercialização tem aumentado seu número de associados de forma representativa.
Atualmente, 3.429 agentes atuam no mercado de energia (+5,7% em relação à dezembro/15). Além dos 1.348 consumidores especiais e 644 consumidores livres, a CCEE conta com 1.118 produtores independentes, 174 comercializadores, 61 autoprodutores, 49 distribuidoras e 35 geradoras concessionárias de serviço público.
A corrente migratória dos consumidores para o mercado livre deve continuar nos próximos meses. Atualmente, a CCEE tem 1.072 processos de adesão em andamento no sistema, sendo 832 consumidores especiais e 83 consumidores livres. A conclusão destas solicitações deve ocorrer de forma gradativa. Os outros pedidos são de 17 novas comercializadoras e 140 geradoras, autoprodutores e produtores independentes.
E para as usinas?
Mas esse avanço do mercado livre anima investimentos em unidades termelétricas (UTEs) pelas usinas de cana?
O Portal JornalCana apurou, junto a executivos de unidades e agentes do mercado, que será preciso esperar estabilização desse avanço para incentivar as companhias sucroenergéticas a investir em maior produção de eletricidade excedente e entrar no mercado livre.
Os investimentos, no caso, estão longe de ocorrer na ampliação de estrutura de capacidade de cogeração. “Ninguém vai tentar financiamentos cada vez mais restritos nas instituições financeiras, sem saber como estará o mercado de compra de eletricidade nos próximos cinco a dez anos”, relata consultor, especializado em projetos de cogeração.
Segundo ele, a tendência positiva no mercado livre pode incentivar usinas de cana, mas essa alta precisa dar sinais de que irá durar pelo menos nos próximos doze meses. “Assim, uma usina voltaria a empregar biomassa para gerar o máximo de sua capacidade para atender ao mercado livre”, confirma o consultor.
É que com a oferta apertada de cana-de-açúcar, que no Centro-Sul não deverá passar de 620 milhões de toneladas na safra 16/17, conforme estimativas de consultorias, as usinas têm oferta restrita de biomassa e teriam que comprar de outras fontes, ou seja, investir para depois vender.
Na média, em março uma tonelada de biomassa de eucalipto valia entre R$ 80 a R$ 90 na região Noroeste do estado de São Paulo.
Grupo desiste
O Portal JornalCana apurou que pelo menos um grande player sucroenergético, com moagem acima de 30 milhões de toneladas em suas unidades, desistiu de investir em sistema de coleta de palha de cana para fabricar energia excedente.
“Por menos de R$ 50 o MWh não compensa”, afirmou ao Portal JornalCana o presidente dessa companhia, que testou o sistema no segundo semestre de 2015 em uma das unidades de cana-de-açúcar.