Depois da queda de braço em torno de uma fórmula que permita aumentos previsíveis da gasolina e do diesel, envolvendo a direção da Petrobras e o Ministério da Fazenda, a presidente da estatal, Graça Foster, tem um duro caminho a percorrer. O mais eficaz convencimento deve vir se a companhia conseguir um novo reajuste dos combustíveis em 2014. Graça está se esforçando agora para demonstrar que a companhia ganhou, sim, uma metodologia de reajustes e que os aumentos recentes de 4% da gasolina e 8% do diesel não serão os últimos até as eleições de outubro do próximo ano – considerando que ainda existe uma defasagem importante nos preços desses combustíveis (de 17,8% no diesel e de 14% na gasolina) mesmo após toda a discussão.
O primeiro round de tentativas de convencer o mercado começou com um encontro de Graça com o diretor financeiro, Almir Barbassa, e os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, do Itaú BBA. Eles não ficaram convencidos de que a companhia conseguirá aumentar preços sempre que necessário, pois lembraram que a composição do conselho de administração permanece inalterada. Isso porque é ao conselho que a Petrobras terá de mostrar sempre a necessidade de novos reajustes, levando em conta os preços internacionais, a produção de petróleo e os investimentos.
Os analistas passaram a acreditar, no entanto, na possibilidade de novos aumentos de preços daqui por diante, mesmo lembrando o fato de a Petrobras ser uma estatal com todas as limitações que esse tipo de controle acarreta.
“Saímos da reunião convencidos de que a sra. Foster e sua equipe estabeleceram um processo que obriga o conselho a avaliar de forma mais objetiva o impacto dos preços do diesel e da gasolina no balanço patrimonial da empresa”, dizem os analistas, em relatório. Segundo eles, a empresa destacou especificamente o último parágrafo do comunicado de imprensa de 30 de novembro, que estabelece que é da responsabilidade do conselho de administração da empresa avaliar a eficácia da política de preços por meio da análise da evolução dos índices de endividamento e alavancagem.
“Na prática, isto significa que, em cada reunião do conselho, a Petrobras apresentará as perspectivas para os preços e o desconto em relação à paridade [internacional], bem como os investimentos [o que não estava tão claro no release], indicando que os reajustes são necessários para diminuir a razão dívida líquida/Ebitda para o patamar acordado de 2,5 vezes dentro de dois anos, e tornando o conselho responsável pela aprovação [ou não] dos aumentos de preços necessários”.
O relatório observa que a Petrobras precisará de investimento adicional para o campo de Libra, mas os analistas dizem esperar que o novo plano se mantenha com aportes da ordem de US$ 208 bilhões, mantendo outros projetos como as refinarias Premium na lista de empreendimentos em análise, como acontece atualmente, o que na prática significa que o plano de investimentos de US$ 236,7 bilhões está sendo executado em etapas.
Paula escreveu que, apesar de não ter conseguido a aprovação de um gatilho automático, a Petrobras criou uma política comercial para os preços do diesel e da gasolina que não existia antes, ao contrário de outros combustíveis como o QAV (querosene de aviação), nafta, óleo combustível e gás natural, que são corrigidos de acordo com os preços dos mercados internacionais.
Os analistas do Itaú BBA lembram que a estatal não divulgou os parâmetros exatos da metodologia que será usada como referência para os aumentos de preços futuros, uma vez aprovados pelo conselho. Mas dizem que Graça Foster deixou claro que “a metodologia é de paridade internacional simples e objetiva, com base nos preços do petróleo e do câmbio, incluindo os custos de importação, quando aplicáveis”.
Paula encerra o relatório do banco dizendo que ainda mantém uma postura cautelosa sobre a aprovação, pelo conselho, de uma metodologia clara ao longo de todo o processo, e que seria contraditório mudar de ideia agora. Mas ressalta que a administração da Petrobras provou que merece confiança.
A analista diz que sentiu um pragmatismo considerável da presidente da Petrobras sobre o conteúdo local, notando que a estatal vai entregar os seus compromissos, mas nada além disso. O Itaú BBA mantém a recomendação “market perform” (desempenho em linha com o mercado, equivalente a neutra) e valor justo, no fim de 2014, em R$ 23,6 para papéis da companhia na bolsa brasileira e de US$ 18,5 para os ADRs (recibos de ações negociados em Nova York).
“Antes do anúncio em 30 de novembro, nós acreditamos que o mercado estava precificando altas expectativas de um diesel e gasolina com uma clara fórmula de preço, seja devido a uma verdadeira convicção ou apenas porque ninguém queria correr o risco de ser pego desprevenido em caso de um resultado positivo”, afirma o relatório do banco.
Os analistas observam que a ação da Petrobras está quase 20% abaixo da alta em 18 de outubro e 15% abaixo do pico que se seguiu à declaração formal sobre a fórmula de reajustes, em 28 de outubro. “Depois das mensagens confusas do governo ao longo do processo, acreditamos que os investidores estarão mais relutantes em pagar adiantado. Além disso, 2014 é um ano eleitoral. No entanto, poderíamos afirmar que o balanço de riscos pode parecer mais favorável, se e quando os aumentos de preços adicionais forem concedidos, especialmente se a produção começar a crescer no próximo ano, o que acreditamos que irá acontecer”, diz o relatório da instituição.