Os preços internacionais do açúcar estão em um movimento de alta, com poucas perspectivas de ser interrompido no curto e médio prazo. Os volumes recordes de açúcar que deverão ser produzidos pelo Brasil novamente nesta safra, a 2006/07, não terão força para pressionar as cotações, uma vez que os estoques em importantes países produtores ainda estão baixos.
O setor sucroalcooleiro vive uma das suas melhores fases. As projeções de investimentos para os próximos anos indicam que o horizonte para o setor é positivo e que esses aportes se encaixam em perfeita medida para atender a uma crescente demanda.
As expectativas são de que o faturamento do setor deverá alcançar R$ 43,2 bilhões na safra 2006/07, pelo menos 10% mais que no ciclo anterior, de acordo com a Procana Informações Sucroalcooleiras.
As exportações seguirão firmes. No ano passado, os volumes embarcados foram de 18,14 milhões de toneladas, 15,1% maior que no ano anterior, com receita de US$ 3,9 bilhões, aumento de 48,3%.
Os investimentos em novas usinas estão projetados em US$ 10,5 bilhões até 2010, para 89 unidades, de acordo com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). Essas projeções são para que a produção salte das atuais 386 milhões de toneladas para cerca de 535 milhões de toneladas.
Os principais investimentos são feitos por usinas nacionais que já estão instaladas no país e que estão em franca expansão. A internacionalização do setor deverá ocorrer, mas ainda em ritmo menos intenso. A chegada dos grupos estrangeiros ao país ocorreu a partir de 2000. Os grupos franceses Tereos e Louis Dreyfus possuem cada um duas e três usinas, respectivamente, e projetam expansão. Atraídos pelos baixos custos de produção do mundo, ainda há forte interesse de grupos internacionais em entrar no Brasil e também de fundos de private equity. “Há vários grupos interessados em investir no país”, afirma Josias Messias, presidente do Procana.
Os grupos Cosan e J. Pessoa, nos últimos anos, são os que têm encabeçado a concentração do setor. O grupo Cosan possui 16 unidades produtoras, com capacidade de moagem para 39 milhões de toneladas. No ano passado, abriu seu capital e não descarta parcerias futuras com estrangeiros. O grupo J. Pessoa, com dez usinas no país, foi o segundo maior comprador de concorrentes nos últimos anos, e estuda se armar para enfrentar a crescente concorrência também por meio da abertura do capital.
No mercado internacional, a expectativa é de que os preços continuem firmes e se sustentem com o maior interesse pelos países produtores de cana no álcool. Nos últimos doze meses, a commodity acumula alta superior na bolsa de Nova York a 90%. Nos últimos 24 meses, a valorização já ultrapassa 215%. No mesmo período, o petróleo subiu 30,3% e 83%, respectivamente.
“Os excedentes de produção do Brasil não crescerão na mesma proporção da queda da participação da União Européia”, afirma Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro. A UE deve reduzir entre 3 e 4 milhões de toneladas suas exportações de açúcar por determinação da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Segundo a International Sugar Organization (ISO), com sede em Londres, os projetos para a construção de novas usinas de álcool em países como Estados Unidos, Tailândia e Índia, deverão inibir a oferta mundial de açúcar.
“A produção deverá crescer, mas o mercado encontrará um equilíbrio”, diz Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job Economia e Planejamento. Para ele, esse equilíbrio virá da maior procura por energia renovável em países consumidores muito dependentes do petróleo.