Mercado

Mercado de combustível

Há cerca de dez anos, quando houve uma imensa crise no setor sucroalcooleiro, houve um evento na Usina Santa Elisa, de Ribeirão Preto. Presentes, a diretoria do Bradesco, da usina e usineiros da região. Os Biagi, controladores da Usina, tinham sido escolhidos pelo Bradesco para um trabalho de consolidação, que permitisse recuperar usinas e os empréstimos efetuados.

As usinas se converteriam em verdadeiros centrais alcoolquímicas. Produziriam não apenas açúcar, como energia e, com o tempo, seria uma central alcoolquímica. O setor ainda não estava preparado para processos de fusão. Imperava ainda a visão patriarcal, de cada empresário tocar seu próprio negócio.

Ontem, dois lances selaram definitivamente a entrada do setor no mercado de energia, em sentido amplo. Em um deles, a Cosan – o maior grupo sucroalcooleiro, que tem origem na família Ometto – anunciou a compra da rede de distribuição da Exxon no Brasil por US$ 826 milhões.

No outro, a Tropical Bioenergia – joint venture do grupo Santa Elisa (escolhida Empresa do Ano pelas publicação Melhores e Maiores da Exame) e Grupo Maeda – informou ter vendido 50% de seu capital para a British Petroleum por US$ 100 milhões.

O que está acontecendo são os primeiros movimentos de uma mudança radical no mercado brasileiro de energia. Até agora, a Petrobras dominava toda a cadeia por dominar o mercado de refino. Passavam por ela o petróleo interno, o importado, o refino, a mistura com álcool, a produção de produtos petroquímicos. Agora, o jogo se sofistica.

De um lado, a nova civilização da bioenergia permite a criação de outros grupos controlando todo o processo produtivo. Estabelece-se uma competição maior no mercado interno. De outro, a própria Petrobras já fincou o pé no setor e, somadas às novas descobertas de petróleo, caminha para ser das maiores do mundo.

A primeira vez que o álcool passou a gasolina foi no final dos anos 1980. Mas tudo passava pelo IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool). Não havia garantia de pagamento, de liberação de recursos. E os usineiros eram meros plantadores de cana e produtores de álcool. Não tinham controle da comercialização.

Agora o jogo é mais amplo, permitindo o aparecimento de novos grandes players no mercado. A Cosan adquire a rede de 1.500 postos da Esso em 20 Estados brasileiros. Respondem por 9% do etanol comercializado e 9,7% da gasolina comercializada, entre as redes filiadas ao Sinduscom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes).

E aí se cria um campo interessante para futuros acordos. Com o crescimento do álcool, será vendida menos gasolina. Como as refinarias têm pouca flexibilidade para o craqueamento, para que houvesse um equilíbrio maior, teria que ser aumentada a produção de biodiesel – programa que depende mais da Petrobras. Além disso, há um bom campo para melhorar as exportações de gasolina, que é a mistura de álcool para consolidar a imagem de gasolina verde.

Em suma, há um jogo de gente grande a ser jogado agora, permitindo ao país ter grandes players no mercado global de energia. (Artigo publicado no Diário do Grande ABC)