O mercado de distribuição de combustíveis vive o melhor momento dos últimos anos, ambiente que deve contribuir para a retomada dos investimentos, em banho-maria desde que as liminares contra o recolhimento de impostos passaram a dominar o setor. As vendas aumentaram 5,7% de janeiro a julho, depois de dois anos de retração e, desde dezembro de 2003, não há mais liminares. O setor, que passou por um período de enxugamento e saída de multinacionais, pode estar atraindo de volta o interesse de gigantes mundiais.
“Estamos na época de fazer os orçamentos para o ano que vem e, certamente, as empresas terão um quadro muito melhor para apresentar aos acionistas”, avalia o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz. “Ainda não fechamos os números, mas imagino que teremos um plano ambicioso para crescer em tamanho de rede e em volume de vendas”, confirma o diretor-presidente da Ale Combustíveis, sexta maior do País, Cláudio Zattar.
Em 2004, conta Zattar, a companhia decidiu frear o ritmo de crescimento, apostando na abertura de apenas 14 novos postos, além da substituição de pontos-de-venda menos rentáveis. “Costumávamos ser mais agressivos, mas o mercado estava muito ruim na época em que discutimos o orçamento para este ano”, explica. A empresa, que tem 450 postos em seis Estados, separou R$ 28 milhões para o ano, a maior parte destinada a abertura de uma base de tancagem de produtos em São Paulo.
Dados do Sindicom já apontam uma recuperação do mercado perdido pelas grandes distribuidoras nos tempos de guerra de liminares, quando dezenas de empresas compravam combustíveis sem pagar impostos. Segundo os cálculos da entidade, suas filiadas – BR, Ipiranga, Esso, Shell, Texaco e Repsol – registraram crescimento de vendas de 9,4% até julho, contra os 5,7% verificados pela ANP para o mercado total. Isso significa que as grandes empresas, além de acompanhar o crescimento do mercado, estão abocanhando fatias que antes pertenciam a distribuidoras menores.
Nos últimos anos, o movimento era no sentido oposto: as grandes companhias perdiam espaço para empresas com liminares ou que vendiam produtos adulterados. Esse cenário levou a Shell a reduzir sua participação no mercado com a venda de cerca de 250 postos para a italiana Agip. Dois anos depois, a Agip desistiu do negócio e repassou toda a sua rede, junto com ativos de distribuição de gás de cozinha, para a Petrobrás.
O Sindicom credita a melhora no quadro a três fatores: fim das liminares; desestímulo às importações irregulares e adulteração devido à defasagem dos preços dos combustíveis e redução do ICMS do álcool em São Paulo, que trouxe o produto de volta para o mercado formal. Segundo Vaz, as vendas de álcool registradas pela ANP cresceram 40,6% de janeiro a julho. “A questão da desfasagem nos preços é uma distorção do mercado, mas vem provocando efeitos positivos, já que desestimula a mistura irregular de produtos à gasolina, que está mais barata do que no mercado externo”, avalia o executivo.
Essa situação pode ter efeito direto na Shell, segundo especialistas do setor. A multinacional passa por uma profunda reestruturação de seus negócios mundiais e a área de distribuição é uma das mais suscetíveis a cortes. No Brasil, porém, o negócio voltou a dar resultado, o que pode ser usado como argumento para convencer a matriz a não se desfazer dos ativos.
Há, no entanto, quem acredite que o bom momento ainda está a caminho. “É fato que as vendas estão crescendo e que as liminares acabaram, mas a rentabilidade do setor ainda está muito baixa”, avalia o presidente da Petrobrás Distribuidora (BR), Rodolfo Landim. Segundo ele, o retorno dos investimentos só vai acontecer, de fato, quando a remuneração dos acionistas for maior. A BR investe, em média, R$ 200 milhões por ano.
O vice-presidente de abastecimento da Esso, Leonardo Gadotti Filho, lembra ainda que a adulteração de combustíveis continua sendo um problema. “Em São Paulo, por exemplo 10% do mercado é composto por mistura irregular de produtos”, aponta. Ele admite, porém, que o mercado de combustíveis já passou pela faze turbulenta das liminares. “O investidor está começando a recuperar a confiança”.
Nesse ponto, avaliam analistas, grandes empresas mundiais, como a espanhola Repsol, podem voltar a considerar investimentos no Brasil. A multinacional opera no País uma rede de postos de gasolina considerada pequena para o porte que costuma manter nos países em que atua e já anunciou que separou US$ 6 bilhões para sua filial brasileira investir nos próximos aos. A empresa detém ainda participação em duas refinarias no País – Manguinhos, no Rio, e Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul – o que aumenta as chances de investimentos para integrar mais suas atividades.