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Mercado de açúcar: por que os fundos ampliaram posição de venda líquida para o maior nível

Os fundos voltaram a ampliar sua posição de venda líquida no mercado de açúcar bruto de NY, de 125.081 lotes em 29 de julho, para 151.004 lotes em 05 de agosto

Açúcar no Tiplam (Crédito: Jaime Oide-VLI)
Açúcar no Tiplam (Crédito: Jaime Oide-VLI)

Após resistir à pressão de queda no final de junho, quando os preços flertaram rapidamente com patamares abaixo da marca dos 16 centavos, o mercado de açúcar agora começou a enxergar algumas peças que não se encaixam muito bem nesse quebra-cabeça, que é o de decifrar o futuro do comportamento dos preços.

Se de um lado há preocupações sobre o atraso no ritmo de moagem no CS do Brasil, combinado com níveis frustrantes de ATR, o que também tem retardado as entregas de açúcar pelas usinas da região, há do outro lado a comunidade especulativa ainda administrando uma posição razoável de venda líquida em NY. 

Os fundos e os pequenos especuladores voltaram a ampliar sua posição de venda líquida no mercado de açúcar bruto de NY, de 125.081 lotes em 29 de julho, para 151.004 lotes em 05 de agosto, a maior posição de venda líquida desde novembro de 2019. 

A posição baixista dos fundos no mercado de açúcar coincide justamente em um momento em que os estoques estão mais apertados – conforme estimativa da DATAGRO, a relação de estoque/consumo mundial de açúcar deve cair para 41% no final do ano comercial de 24/25 (Out/Set), o menor nível em 15 anos, fruto de três anos consecutivos de déficit no balanço mundial.  

Intuitivamente, somos levados a compreender que o mercado estaria à beira de uma reação mais construtiva para os preços.

Contudo, o mercado segue andando de lado em NY. Esse movimento de zigue-zague sugere que o mercado ainda não encontrou uma nova direção, a despeito dos sinais preocupantes sobre a safra 25/26 no CS do Brasil.  

Dinâmica do Mercado de Açúcar e Commodities

Ocorre que a capacidade do CS do Brasil de exportar açúcar, com embarques mensais de 3 a 3,5 milhões de toneladas, tem acalmado os compradores quanto ao senso de urgência para recompor os estoques.

Porém, quanto mais os preços permanecerem de lado, maior é o risco de que as usinas possam eventualmente mudar de foco no mix de produção.  

Dado o contexto de estoques baixos a nível global, há de reconhecer que o mercado não se pode dar ao luxo de deixar que o mix para a produção de açúcar seja menor em 25/26, sem esquecer das incertezas sobre o desfecho dos níveis de ATR e de produtividade agrícola, o que pode tornar a atual posição vendida dos fundos mais vulnerável à uma corrida de liquidação. 

Os fundos de hedge também não estão nada animados com outras commodities agrícolas em geral. Na semana até 5 de agosto, diversos acontecimentos importantes impulsionaram mudanças de posicionamento em commodities essenciais.

Impacto das Políticas de Trump e Produção da OPEP+

A reversão abrupta das tarifas sobre o cobre por Trump desencadeou uma queda de 22% nos preços em Nova York, levando os fundos a reduzir pela metade suas posições compradas líquidas em cobre.

No setor de energia, os contínuos aumentos de produção da OPEP+ — potencialmente em um período de menor demanda — pressionaram o petróleo, enquanto a redução da pressão no mercado de diesel levou à liquidação de posições compradas em Londres e Nova York, em relação às máximas recentes dos últimos três anos. 

Os grãos permaneceram sob pressão, já que o clima favorável nos EUA, na Europa e no Mar Negro manteve fortes perspectivas para as safras, reforçando as elevadas posições vendidas especulativas em trigo, milho e soja.

Notavelmente, os futuros da soja subiram 2,5% no início do pregão de segunda-feira, depois que Trump instou a China a quadruplicar as compras de soja dos EUA como parte dos esforços para reduzir seu déficit comercial com a China.

No final de julho, dados do governo dos EUA mostravam que a China, maior compradora mundial de soja, ainda não havia reservado nenhum carregamento para a próxima temporada, que começa em setembro, devido à persistência das tensões entre os dois lados. 

No geral, a comunidade especulativa realizou vendas generalizadas, com a maioria dos 13 principais contratos futuros de commodities agrícolas monitorados apresentando aumento nas posições de vendas líquidas. A posição de venda líquida combinada cresceu 12,4% na semana encerada em 5 de agosto, a maior em praticamente um ano.