O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros criticou ontem o governo pela ausência de alternativas para os problemas que podem acontecer devido ao real valorizado, especialmente sobre a indústria nacional. Na sua avaliação, o dólar continuará em desvalorização no mundo com o aumento do déficit fiscal americano depois dos gastos nos pacotes anti-crise.
“A crise traz mudança estrutural muito forte no mundo e o Brasil vai ser arrastado. Minha grande preocupação para os próximos anos é o Brasil se transformar em um país exportador de commodities e perder toda a base industrial que foi criada depois das dificuldades que sabemos”, disse Mendonça de Barros, durante seminário promovido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento, na UFRJ.
O economista, ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso,! não poupa o atual governo na condução da política econômica. Vê a ausência de uma política industrial voltada para absorver os impactos negativos do câmbio valorizado. “Há uma certa euforia, diria até incontida, no governo de que nós estamos a salvo. A ignorância econômica que grassa no governo não nos faz ver os problemas que vamos enfrentar no futuro”, disse.
Na sua avaliação, o governo apenas olha para o passado e vê que a crise não afetou o país como antes, além de o BC ter cortado juros e o real ter se valorizado, ao contrário de outras crises. Não há agenda de propostas, porque o governo não vê nenhuma crise no ar, diz Mendonça de Barros. “Existe um grande oba-oba. Esse pré-sal virou a maconha da festa”, brincou. Segundo ele, a mudança estrutural precisa ter uma ação governamental combinada ao esforço do setor privado em busca de novas oportunidades. “Pela primeira vez, a adaptação brasileira não é mais em crise.”
Mendonça de Barros já vê, por exemplo, um mov! imento claro de troca do dólar pelo real no mercado de câmbio diante da tendência mundial de substituição do dólar por moedas de países emergentes. “O Brasil talvez não será só o espectador nessa discussão, o real hoje é um ator”, afirmou.
Para o economista Carlos Alberto Pacheco, a China pode afetar negativamente o Brasil. E novamente, o foco será na indústria. Devido à desaceleração da demanda interna, a China passará a buscar mais mercados no exterior. Segundo Pacheco, o Brasil sofre com uma capacidade limitada de formular, coordenar e implementar ações entre o governo e as empresas.
No setor agrícola, diz, o Brasil domina toda a cultura da cana-de-açúcar para a produção de álcool combustível e poderia ter uma grande distribuição no mundo, utilizando a estrutura da Petrobras. “O pré-sal vai agravar isso. O esforço de exploração vai consumir os esforços da Petrobras”, disse. “Somos competitivos em etanol, mas é difícil colocar o produto em termos globais.”
Jo! hn Mathews, economista da Macquire University, da Austrália, que já estudou o setor no Brasil, diz faltar uma trabalho de pressão da diplomacia brasileira sobre a Organização Mundial de Comércio (OMC) e a ONU para derrubar as limitações à entrada dos derivados da cana na União Europeia e EUA.