A crise de oferta de etanol chegou ao seu auge. A partir de agora, boa parte das usinas entra em operação e aumenta a oferta do produto para os consumidores, baixando os preços e abastecendo a rede de distribuição.
Porém, crises mais fortes virão nas duas próximas entressafras. Mas, se forem tomadas agora decisões adequadas e emergenciais, é possível evitar um apagão já na Copa do Mundo de 2014.
Errou-se feio nas previsões de aceitação do carro flex e da venda de carros novos, que gerou esse tsunami de consumo. Em 2010, faltavam 15 usinas em operação. No final deste ano faltarão 36. Até 1995, eram vendidos 800 mil carros flex por ano.
De 1995 a 2005, atingiu-se a média de 1,3 milhão. Após 2005, a média passou para 2,2 milhões. Quem acertaria que em 2010 seriam vendidos mais 2,9 milhões?
Projeção conservadora para 2020 -apenas com o etanol hidratado- mostra que será necessário produzir 53,6 bilhões de litros, ante os 16 bilhões de litros atuais, em mais 5,1 milhões de hectares convertidos de pastagens degradadas.
Nesse cenário, a produção de cana atingiria 430 milhões de toneladas, processadas em 143 novas usinas, com demanda de US$ 62 bilhões em investimentos industriais e agrícolas.
A cadeia sucroenergética não precisa de retrocessos, como tributar mais o açúcar e muito menos reduzir a mistura do anidro na gasolina. É preciso um choque de oferta para que todos ganhem.
Algumas sugestões para esse choque são a retomada de investimentos em usinas novas (greenfields) com recursos privados e do BNDES, por meio de um pacote envolvendo recursos, licenças e outros, para que, em dois anos, existam mais usinas distribuídas pelo país, suprindo localmente etanol e energia elétrica.
É urgente a desoneração tributária do setor de bens de capital, tal como foi feito com automóveis, com eletrodomésticos e com a construção, além da maior e mais rápida participação da Petrobras no financiamento à expansão de grupos existentes, por meio de participações minoritárias nas empresas.
Deve-se expandir e facilitar o financiamento de estoques na safra, e o preço da gasolina não deve ser artificialmente controlado, ao contrário do diesel, que é custo produtivo.
Finalmente, as montadoras ainda estão devendo, e já faz tempo, maior eficiência dos motores flex a etanol.
A grande estratégia do Brasil nesta década, em que o mundo demanda energia e o petróleo tem preços recordes, é investir na cana para ocupar o mercado interno com o etanol e ser um grande exportador de petróleo, produto que não enfrenta barreiras no seu comércio.
Se esse plano de expansão começar imediatamente e os investimentos atingirem US$ 30 bilhões, na Copa de 2014 não existirá mais crise.
Dessa forma, também será possível criar um faturamento adicional anual de R$ 35 bilhões à cadeia sucroenergética, que gerará empregos, efeito multiplicador, excedente energético e países dependentes do petróleo brasileiro. A hora é agora.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento na FEA/USP (Campus Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat.