Com o aumento do preço do petróleo e a demanda crescente de açúcar e álcool, o setor sucroalcooleiro do País expandiu-se fortemente no último biênio, ampliando sua participação nos mercados interno e externo. Cabe reconhecer o acerto dos que viram no Proálcool, lançado nos anos 70, um projeto promissor, ainda que o êxito do programa não baste para transformar o Brasil no líder de uma nova Opep – a Opep da energia renovável –, como sugeriu o secretário do Meio Ambiente de São Paulo, José Goldemberg. O artigo de Goldemberg, publicado na última terça-feira no Estado, mostra que o Brasil já produz 250 mil barris de álcool por dia e poderá aumentar sua produção para 1 milhão de barris por dia. A produção atual de álcool no País, nota Goldemberg, corresponde a 3% da produção de petróleo do maior produtor, a Arábia Saudita, de 8 milhões de barris/dia. Entre os maiores desafios do Brasil está o de firmar sua reputação como fornecedor confiável. Deve, para isso, oferecer aos consumidores dos países importadores “garantia de continuidade de abastecimento a longo prazo”. Os produtores não tiveram essa capacidade, no passado, acrescentou Goldemberg, o que “afetou seriamente a credibilidade da venda de automóveis que usavam álcool puro no início da década de 90”, pois houve “falta deste combustível, já que muitos usineiros preferiram usar a canade- açúcar para produzir açúcar para a exportação”. Os riscos que abalaram a confiança no Proálcool parecem ser bem menores, hoje. OBrasil tem se mostrado um exportador confiável de manufaturados e de commodities, sem o que não ocuparia posição de liderança em itens como carnes, suco de laranja, soja, açúcar e café, além de ser grande exportador de veículos e máquinas. A estrutura de comercialização é decisiva para atingir o mercado internacional. Como sugeriu Goldemberg, companhias trading de grande porte e prestígio externo, como a Petrobrás, terão de assumir compromissos de fornecimento com os importadores. Isto é possível porque há escala de produção e demanda interna e externa. Numano de recorde na produção de veículos, os autos movidos a álcool ou flex-fuel (que usam gasolina ou álcool) responderam por 25,9% das vendas totais no mercado interno brasileiro, em 2004, contra 6,9%, em 2003, e 4,3%, em 2002. Em dezembro, essa participação chegou a 33,2%, a maior do ano. A exportação de álcool está crescendo com o aumento da área plantada. As vendas externas foram de 800 milhões de litros, em 2003, e de 2 bilhões de litros, em 2004. A demanda por álcool da União Européia e de países como o Japão, a China e os Estados Unidos torna provável um aumento substancial das exportações de álcool, nos próximos anos, pois as legislações ambientais desses países ou regiões impõem a ampliação do uso de combustíveis menos poluentes. O álcool tende a substituir outros aditivos, como o MTBE. O Japão já adotou legislação que permite adicionar 3% de álcool à gasolina. O etanol tende a se tornar, no exterior, aditivo preferencial da gasolina, a ela sendo adicionado numa proporção entre 5% e 10%, que é bastante significativa na perspectiva do comércio internacional de álcool, embora inferior à proporção de 24% aplicável no Brasil. As projeções para o aumento da produção e das exportações brasileiras de álcool não são uniformes. O diretor do Instituto de Economia Agrícola (IEA) Nelson Batista Martin acredita que o Brasil, até 2010, estará produzindo anualmente 20 bilhões de litros de álcool e exportando 5 bilhões de litros. Outros especialistas prevêem que a produção poderá atingir 30 bilhões de litros – cerca do dobro dos 14,8 bilhões produzidos na safra 2003/2004 – e as exportações chegarão a 12 bilhões de litros por ano, podendo render, aos preços atuais, US$ 3 bilhões. Isto faria do álcool um dos principais itens da pauta de exportações. A meta de liderar uma Opep do álcool parece ser mais um sonho do que uma possibilidade concreta, pois o etanol não poderá substituir o petróleo como principal fonte de combustíveis do mundo. O que não resta dúvida é que o mercado do álcool tende a adquirir grandes dimensões e pode ser conquistado pelo Brasil, que reúne condições favoráveis, tais como a extensão de terras agricultáveis, clima e empreendedores que conhecem perfeitamente esse potencial.
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