Mercado

Mais de 70 usinas continuam a moer cana no Centro-Sul

O excesso de chuvas registradas no segundo semestre de 2009 fez com que parte das usinas e destilarias da região Centro-Sul do Brasil esticasse a safra para 2010. Mais de 70 unidades estão em pleno vapor para compensar o tempo perdido, recuperar o fôlego financeiro e suprir a demanda. Na primeira quinzena de janeiro, a moagem acumulada da safra 2009/10 superou 527 milhões de toneladas.

O volume processado até o dia 16 de janeiro foi suficiente para a produção de 28,37 milhões de toneladas de açúcar e 22,9 bilhões de litros de etanol. Segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), em condições climáticas normais, a moagem poderia ter alcançado 580 milhões de toneladas, com produção estimada em 33 milhões de toneladas de açúcar e mais de 27 bilhões de litros de etanol.

Seriedade

Em nota, a Unica afirma que os números iniciais projetados para a atual safra traduzem a seriedade e responsabilidade dos produtores em ofertar açúcar e etanol tanto para o mercado interno como para o externo. Foi um claro recado para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na semana passada criticou os usineiros porque o álcool subiu.

Na inauguração de um laboratório de bioetanol (CTBE), dia 22, em Campinas, SP, Lula disse: “Se quisermos fazer do etanol a matriz energética deste País, precisamos ter seriedade”. O presidente criticou principalmente o aumento na produção de açúcar em detrimento do biocombustível da cana. No entanto, a Unica, em reunião realizada ontem (26) com ministros do Governo, em São Paulo, negou que o aumento de preços do etanol tenha relação com a estratégia de comercialização do açúcar.

As surpresas de 2009

No balanço parcial do ciclo 2009/10, divulgado nesta terça-feira, a Unica informou que “o início da safra 2009/10 era, de certa forma, o período mais preocupante devido a um excesso de produto mesmo com uma demanda interna crescente, reflexo do crescimento da frota de veículos flexfuel e das incertezas do mercado externo”.

A partir de julho do ano passado, a colheita passou a prejudicada pelas chuvas, resultando na redução da oferta em mais de 4 bilhões de litros de etanol e 5 milhões de toneladas de açúcar. Desde setembro, a entidade vem indicando que o desequilíbrio entre oferta demanda provocaria um ajuste no mercado, o que resultaria em um novo patamar de preços compatível com a oferta mais baixa do que o esperado.

De janeiro a março do ano passado, 18 estados brasileiros registravam média de preços do etanol inferior a 70% do preço da gasolina – limite para que o etanol seja competitivo em relação à gasolina. Já na semana passada, apenas o Mato Grosso registrava preços do etanol mais competitivo, abaixo dos 70% do preço da gasolina.

Mesmo com os valores nos atuais patamares, a Unica afirma que os níveis de preços praticados nesta safra estão entre os quatro menores preços praticados nos últimos 10 anos, considerando-se a média de preço ao longo de toda a safra.

Puxando as rédeas

O preço do etanol, menos competitivo na maior parte do Brasil em janeiro, fez com que os donos de veículos flexfuel optassem pela gasolina na hora de abastecer. Esse movimento fez com que o valor do combustível caísse em alguns locais. Nesta semana, em Ribeirão Preto, SP, o valor médio do etanol recuou R$ 0,10 nas bombas.

A decisão do Governo de reduzir a mistura de etanol na gasolina, de 25% para 20%, durante 90 dias, a partir de 1º de fevereiro, também deve pressionar o preço do biocombustível da cana. Já o valor médio da gasolina, segundo especialistas, deve aumentar 2% a partir da semana que vem. O valor do litro do etanol deve cair efetivamente a partir de abril, por conta do início da safra 2010/11 e o aumento da oferta.