A região centro-sul do Brasil deve dedicar uma parte maior da safra de cana 2009/10 para produção de açúcar em comparação ao período anterior, com perspectivas de aumento das exportações e dos preços, informaram nesta quinta-feira analistas e fontes da indústria.
Por duas temporadas, o etanol consumiu uma parcela crescente da safra de cana brasileira, devido ao aumento da demanda doméstica pelo biocombustível, às expectativas de exportações maiores e ao excedente mundial de açúcar, que puxou os preços do produto para baixo.
Mas a situação parece estar melhorando para o açúcar no centro-sul, principal área de cultivo de cana no Brasil. “A temporada 2009/10 terá mais açúcar. Nós vemos o volume de cana destinado à produção de etanol no centro-sul caindo para 58,2%, contra 60,2% na safra 2008/09”, afirmou o diretor da consultoria Datagro, Plinio Nastari.
As vendas domésticas de etanol devem crescer em 2,1 bilhões de l na próxima temporada, cuja colheita começará por volta de março. Mas as exportações do biocombustível podem recuar em 1,3 bilhão de l, para 3,75 bilhões de l, segundo projeções da Datagro. Isso significa que o Brasil ainda terá que elevar a produção de etanol em 800 milhões de l, para satisfazer as demandas local e internacional.
Já as exportações de açúcar deverão crescer em volume entre 1,5 de t e 3 milhões de t, encerrando dois anos de estagnação. Produtores no Brasil vêem uma oportunidade na ampliação do déficit global de açúcar, que está elevando os preços. Os valores já subiram neste ano cerca de 7% no contrato março do açúcar bruto e 15% no branco.
“As condições do mercado devem alterar o mix de produção nesta temporada a favor do açúcar. Os preços estão bons atualmente, então o açúcar será uma oportunidade para as usinas, ao contrário das duas últimas temporadas”, declarou o diretor da consultoria Job Economia, Júlio Maria Borges.
De olho nas exportações
A consultoria AgraFNP vê a quota de cana dedicada à produção de açúcar subindo de 43% para 44%, comparado aos 40% em 2007/08. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) concorda que o açúcar tomará parte da moagem de cana para fabricação do etanol, mas afirmou que ainda era muito cedo para estimar em que volume.
“Evidentemente haverá uma mudança no mix, mas não será significativa”, informou o diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues. “Se as usinas produzirem mais açúcar, destilarias autônomas se expandirão. Isso compensará parte da alta na produção de açúcar”.
Segundo estimativas da Unica, as destilarias, que moeram 13,5% da cana disponível em 2008/09, processarão 16% da safra de cana na próxima temporada. A produção nessas unidades, em grande parte construídas nos últimos anos, deve crescer 30% em relação ao período anterior.
Analistas prevêem um aumento na disponibilidade de cana na próxima temporada, mas também uma possível queda na produtividade, já que usinas e fornecedores independentes reduziram o uso de fertilizantes e deixaram de renovar os canaviais devido à crise de crédito.
Uma retração no preço do etanol à base de milho produzido nos Estados Unidos tornou o combustível brasileiro menos competitivo para seu principal comprador. Isso provavelmente diminuirá as exportações, que estão sendo pressionadas pelo forte declínio do petróleo.
“Mas tudo pode mudar se os preços dos grãos começarem a subir, por exemplo. As exportações podem aumentar, como em 2008, dependendo dos preços do etanol aqui e nos Estados Unidos nos próximos meses”, disse Pádua.