O estreitamento das relações entre Brasil e Estados Unidos foi o destaque da política externa no começo do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula e George W. Bush se reuniram duas vezes no mês passado. Nada mau para um governo acusado pela oposição de ser antiamericano, ironizam fontes do Palácio do Planalto. O principal resultado foi um termo de cooperação na área de biocombustíveis.
Os EUA querem aprender a tecnologia desenvolvida pelo Brasil para a produção de etanol. Já ao Brasil interessa o crescimento do mercado internacional de energia renovável. Só com um mercado global fortalecido e transparente, discursa o governo, o etanol brasileiro enfrentará menos barreiras comerciais. Segundo especialistas, as ações diplomáticas demonstram que a política externa do País não deve mudar até 2010. Ou seja, o Brasil continuará ampliando as relações com países em desenvolvimento, sem prejudicar os laços com países ricos.
“Não haverá mudança de rota”, diz Alcides Costa Vaz, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). “A política continuará a ser pragmática. O Brasil quer ter relações com todos os países e com isso obteve resultados positivos” declara Tullo Vigevani, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Vigevani acrescenta que outro destaque do segundo governo Lula é a melhora das relações com a Argentina. Dados divulgados na semana passada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior revelam que as importações de produtos argentinos cresceram 40,5% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado, atingindo US$ 2,28 bilhões.
Já as exportações brasileiras para o principal parceiro do Mercosul totalizaram US$ 2,86 bilhões, alta de 15,5% em relação ao mesmo período de 2006. O superávit do País com a Argentina foi, portanto, de US$ 581 milhões no primeiro trimestre, ante saldo positivo de US$ 855 milhões registrado nos três primeiros meses do ano passado. Vigevani ressalta que o Brasil terá de fazer o mesmo com os demais países do Mercosul.
A insatisfação com os resultados do bloco regional têm levado o Uruguai e o Paraguai a buscarem maior aproximação dos EUA. Se conseguiu selar parceria estratégica com os EUA na área de energia renovável, o Brasil recebeu críticas de tradicionais aliados pelo empenho em transformar o etanol numa commodity energética. Venezuela e Cuba disseram que a produção de etanol reduzirá a oferta de alimentos no mundo, já que o combustível é derivado da cana-de-açúcar e do milho.
Amorim tentou minimizar a crítica. Disse que é natural a Venezuela tentar prejudicar a imagem do álcool, pois é um dos principais produtores de petróleo, concorrente do etanol.
kicker: Analistas não prevêem mudança de rota na política externa, que deverá continuar sendo norteada pelo pragmatismo