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Maggi vê risco de violência no campo

O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), advertiu ontem que, se o governo federal não resolver a crise da agricultura, a situação no interior do País poderá se agravar, a exemplo do que ocorreu em São Paulo nos últimos dias, numa referência aos problemas causados pelos ataques do PCC.

Maggi lembrou que produtores rurais de seu Estado foram presos e fichados ontem pela Polícia Federal em confrontos durante o bloqueio de rodovias. Espero que o problema seja resolvido no dia 25 para que as coisas não fiquem mais graves.

Precisamos de tranqüilidade para voltar a produzir, caso contrário a situação vai ficar muito crítica, avaliou o governador, em visita ao Agrishow de Ribeirão Preto (SP), principal feira agropecuária do País.

Quinta-feira (25) é o prazo estipulado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para anunciar um novo pacote agrícola, com possíveis medidas de prorrogação de dívidas e um plano de safra com mais dinheiro, mais barato e menos juros, conforme o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Se no dia 25 vier um tirinho de calibre 22, não sei como vai ser. Mas que a situação vai fugir do controle, vai´, preveniu Maggi.

Com o Estado basicamente produtor de grãos, principalmente de soja, Maggi prevê uma queda na arrecadação de impostos de até 15% neste ano e já avalia que, mesmo com as possíveis medidas, já há uma intenção de queda de 10% no recolhimento de impostos ao final de 2006, o que representaria um rombo de R$ 800 milhões, de acordo com o governador, além da perda de 100 mil empregos.

Para o governador, mesmo com a pressão das autoridades públicas ligadas ao agronegócio, como ele próprio, o ministro Rodrigues e o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), quem manda no governo é o ministro da Fazenda e do Planejamento.

´Se no dia 25 vier um tirinho calibre 22, a situação vai fugir do controle´

Ele ironizou o corte no orçamento feito por Lula nesta semana, justamente após a promessa de ajuda aos agricultores. Espero que o dinheiro não saia do orçamento, afirmou.

BIODIESEL

O governador disse que Lula lhe telefonou ontem à noite para comunicar que estava encaminhando o projeto de uma nova mistura de óleo de soja ao diesel. Segundo ele, a ligação foi feita às 19h30, depois da reunião em que foram discutidas alternativas ao uso do gás, dentre elas o uso do óleo vegetal na produção de diesel.

Segundo Maggi, o uso da soja para a produção de combustíveis é uma solução muito interessante para aumentar o consumo do grão na região. Nós temos o óleo diesel mais caro do País. Estamos no centro geodésico da América do Sul. Por exemplo; de um lado, se quisermos trazer petróleo que vem do mar, nós estamos longe; de outro, se quisermos levar o óleo para exportar, também estamos longe, afirmou.

Segundo ele, o Estado tem o óleo de soja mais barato do Brasil e o combustível mais caro. Por isso, se tem lugar que vai dar certo o biodiesel é no Centro-Oeste e, principalmente, em Mato Grosso. De acordo com Maggi, o governo mato-grossense já está trabalhando para promover a produção. Já temos no Estado pequenas fábricas começando a funcionar que têm incentivos tanto do governo local como federal, desde que usem produtos oriundos de agricultura familiar, explicou. GUSTAVO PORTO, FABÍOLA GOMES, FABÍOLA SALVADOR

Produtores reagem às críticas de Lula

Presidente teria dito em Brasília que entre fazendeiros há ´cretinices´

Rubens Santos

ESPECIAL PARA O ESTADO GOIÂNIA

A desconfiança dos produtores rurais de Goiás, de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai empurrar com a barriga a crise no campo, se materializou ontem, com a repercussão das críticas presidenciais aos fazendeiros, feitas a integrantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), na noite de quinta-feira, em reunião no Palácio do Planalto.

Lula teria dito durante o encontro que entre os representantes de fazendeiros, há cretinices e ações oportunistas.

Para o presidente da Federação de Agricultura do Estado de Goías (Faeg), Macel Caixeta, o presidente Lula fez uma afirmação mesquinha. Ele demonstrou que nada sabe sobre os produtores rurais, não tem conhecimento do setor agrícola e desconhece a importância de ambos para o País na geração de empregos e divisas e na produção de alimentos. Caixeta foi além: Nós respeitamos a figura do presidente que, por sua vez, deveria respeitar aqueles que pegam na enxada e trabalham, que é o caso dos produtores rurais, ressaltou.

O consultor de agronegócios, Pedro Ferreira Arantes, acredita que o presidente Lula foi infeliz em suas declarações. Ele demonstrou que está empenhado apenas em agradar a gregos e troianos, talvez por sua clara preocupação com a reeleição. As afirmações do presidente também irritaram os produtores rurais do interior de Goiás.

José Alves Barbosa Neto, produtor de milho no município de Indiara, acredita que o presidente errou feio. Tudo isso nos estimula a não recuar no movimento e nos protestos contra a política agrícola do País, disse Barbosa Neto. Agora, a possibilidade de o presidente nada definir até o dia 25, sobre a crise no campo, é real.