O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca hoje para o Japão disposto a inserir na agenda da reunião do G-8 (EUA, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália, Reino Unido e Rússia) a inflação global de alimentos, a alta do petróleo e os biocombustíveis.
Articulado com os colegas do G-5 (Brasil, África do Sul, Índia, China e México), Lula quer ampliar o leque de assuntos a serem tratados no encontro entre emergentes e desenvolvidos, na quarta-feira.
— Não queremos só a sobremesa — resumiu uma fonte do governo brasileiro.
O G-8 se reúne num luxuoso hotel na ilha de Hokkaido, a 70 quilômetros da cidade de Sapporo, entre os dias 7 e 9. Desta vez, as conversas entre G-8 e G5 — normalmente restritas a um almoço — durarão seis horas, um recorde. O desafio é ampliar a agenda do Processo de Heiligendamm, que estabeleceu como temas desenvolvimento, energia, inovação e investimentos.
— Lula e os demais líderes do G-5 desejam dar ênfase às questões do aumento dos preços dos alimentos e dos biocombustíveis — disse, na quintafeira, o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach.
O presidente quer transmitir a mensagem de que os biocombustíveis não podem ser culpados pela inflação dos alimentos.
Além da forte demanda global, Lula destacará a especulação nas bolsas decorrente da crise imobiliária americano e a desvalorização do dólar. Países pobres e em desenvolvimento acabaram sendo afetados e, no caso do Brasil, criticados por buscarem fontes de energia limpa, explicaram fontes.
Sobre a inflação de alimentos e petróleo, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o Brasil “é parte da solução, não do problema”: — Temos de desmascarar os interesses em jogo. Todos sabem que o etanol é necessário.
Lula defenderá, mais uma vez, o fim dos subsídios agrícolas nos países ricos. Sua estratégia é fazer com que o G-5 cobre de europeus, americanos e japoneses um acordo, até o fim de julho, na Rodada de Doha.
A articulação do G-5 ocorrerá na terça-feira, véspera do encontro com o G-8. Os chefes de Estado dos países emergentes vão discutir situação econômica internacional, segurança alimentar, energia, aquecimento global e desenvolvimento.
— O G-5 pode incluir esses temas na agenda, mas não será fácil — disse Denise Gregory, diretora do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Milhares protestam e quatro são presos no Japão O presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, enviou na semana passada uma carta ao G-8 alertando para os efeitos dessa crise nos países mais pobres. Ele pediu uma ajuda imediata de US$ 10 bilhões dos ricos para evitar a fome e a instabilidade política nos países mais afetados. Zoellick disse que a crise não é uma “tsunami silenciosa”, mas “uma catástrofe produzida pelo homem”.
Já as ONGs vão mirar os programas de biocombustíveis de União Européia e EUA, baseados em milho e outros alimentos, além dos subsídios à produção de etanol. Estudo da ONG inglesa ActionAid afirma que a alta de 82% nos preços das commodities agrícolas desde 2006 empurrou 260 milhões de pessoas para a fome. Segundo o estudo, os subsídios agrícolas de EUA e Europa para o etanol variam entre US$ 16 bilhões e US$ 18 bilhões ao ano, quatro vezes mais do que a ajuda alimentar dos países pobres.
— A alta na produção de biocombustíveis e o maior impacto das mudanças climáticas se somaram a uma incomparável redução da ajuda agrícola dada pelos ricos e representam uma enorme ameaça aos países pobres — disse Tom Sharman, diretor da ActionAid.
Lula também terá vários encontros bilaterais. Estão previstas audiências com os presidentes George W. Bush (EUA), Hu Jintao (China) e Dmitri Medvedev (Rússia); e com os primeirosministros Silvio Berlusconi (Itália), Stephen Harper (Canadá) e Yasuo Fukuda (Japão).
Ontem, manifestantes contrários à globalização tomaram as ruas de Sapporo, em protesto contra a reunião do G-8. Quatro japoneses foram presos, segundo a polícia local.