Em seu já assumido papel de “embaixador” dos biocombustíveis, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca, na noite desta terça-feira, na Alemanha, onde participa, como convidado, da cúpula do G8, o grupo das sete nações mais industrializadas do mundo, mais a Rússia.
Assim como já vem fazendo há tempos em todas as reuniões do tipo de que participa, Lula deve procurar convencer os países ricos a adotarem os biocombustíveis como forma de ajudar no combate ao aquecimento global e também permitir que países mais pobres com áreas agriculturáveis se beneficiem.
O palco deverá ser propício para a pregação de Lula, já que a questão ambiental e a preocupação com o aquecimento global deverá ser um dos temas principais na agenda da cúpula do G8, que começa na noite da quarta-feira na cidade costeira de Heiligendamm.
Apesar do apoio que Lula deve ter do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, outro defensor do etanol e dos biocombustíveis, o Brasil deve ser cobrado por conta das preocupações com o suposto desmatamento da Amazônia para permitir o avanço das plantações de cana-de-açúcar, matéria-prima para o álcool combustível.
Rodada Doha
Lula também deve aproveitar sua presença em meio aos oito líderes do G8 para insistir em concessões que permitam um acordo na chamada Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).
As negociações da Rodada Doha, que pretendem um acordo para a liberalização do comércio global, se arrastam desde 2001 sem que os impasses criados nas discussões sejam resolvidos.
Os países ricos relutam em reduzir barreiras alfandegárias e subsídios agrícolas, enquanto os países em desenvolvimento exigem uma oferta mais generosa dos países desenvolvidos para abrirem seus mercados de serviços e produtos industrializados.
As negociações deveriam ter sido concluídas no início do ano passado, mas os impasses impediram um acordo dentro do prazo.
No mês passado, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, prometeu que o Brasil adotaria “fórmulas criativas” para garantir uma “abertura real” de seu mercado de serviços.
Proposta comum
Durante sua passagem pela Índia, onde esteve antes de seguir à Alemanha, Lula afirmou que os cinco países convivados à cúpúla do G8 (Brasil, México, Índia, China e África do Sul) discutirão propostas comuns para serem levadas aos líderes dos oito países do grupo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia).
O presidente brasileiro deve manter na quinta-feira, em Berlim, uma série de reuniões bilaterais com os demais líderes convidados, além de participar de uma reunião conjunta entre os cinco países para definirem suas propostas ao G8.
O governo brasileiro ainda tenta confirmar, para a sexta-feira, encontros bilaterais do presidente com alguns dos líderes dos países do G8.
A agenda preliminar de Lula previa encontros com Bush, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e com a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, além do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, que participa da cúpula como observador.
Chegada antecipada
A chegada de Lula à Alemanha, prevista inicialmente para a tarde de quinta-feira, acabou sendo antecipada em dois dias por conta do cancelamento de sua visita ao Marrocos.
Nesta quarta-feira, o presidente deve se reunir em Berlim com executivos de empresas alemãs e personalidades do mundo político.
Segundo diplomatas brasileiros, estes encontros, sem relação direta com as discussões da cúpula do G8, foram marcados para aproveitar a presença do presidente no país antes do previsto.
O presidente viaja à Alemanha acompanhado de Celso Amorim e também do ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge.