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Lula diz a senadores que alta da Selic acabou

Em jantar anteontem com a bancada de senadores do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que os juros cairão a partir do próximo ano e que a elevação da taxa básica em 0,5 ponto percentual naquele dia seria a última antes do processo de queda. Lula afirmou ainda que ficou contrariado com o aumento dos juros (Selic), hoje em 17,75% ao ano.

A Folha apurou que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já prometeram a Lula retomar a trajetória de queda dos juros em março.

Meirelles, em debates internos do governo, disse que a política monetária busca garantir uma inflação de 5,3% no ano que vem. A meta oficial de 2005 é de 4,5%, mas o próprio BC já a elevou para 5,1%.

O presidente do BC disse nas conversas com Lula e Palocci que tornou público os 5,1% para mostrar maior dureza no combate à inflação, mas admitiu à cúpula do governo que a política monetária vai mirar nos 5,3% ao ano.

“Estou confiante que teremos um bom ano em 2005 e que vamos recuperar a trajetória de queda dos juros”, disse Lula, segundo relato de senadores à Folha.

De acordo com os presentes, o presidente demonstrou confiança no crescimento em 2005. Citou como exemplo dados da indústria paulista, que cresceu cerca de 13% neste ano e que deverá, num ritmo menor, estimular o PIB (Produto Interno Bruto) a crescer.

Ao defender a política econômica, Lula disse que alguns instrumentos já utilizados no combate à inflação se mostraram ineficazes, como congelamento de preços, e que outras opções, como a redução de alíquotas de importação, seriam difíceis de implementar.

Ao expor os obstáculos à redução das alíquotas, ele teria citado o risco de “exagerar na dose” e provocar desestabilização, além das reclamações “dos companheiros sindicalistas” quanto à possibilidade de gerar desemprego.

Lula discursou por quase uma hora, sempre em tom otimista. “Ele estava otimista quanto à capacidade de investimento para 2005 e ao crescimento econômico e disse que o próximo ano vai ser bem melhor que 2004”, afirmou o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

Durante o jantar, Mercadante afirmou que a meta de inflação para o próximo ano está errada, o que provocaria o aumento da taxa de juros. O senador Cristovam Buarque (PT-DF), sentado à mesma mesa que os dois, discordou. Lula não entrou no debate dos senadores, apesar de essa discussão pegar fogo nas reuniões reservadas da cúpula do governo.

Mercadante defendeu publicamente neste ano a elevação da meta de inflação de 2005 de 4,5% ao ano para 5,5%.

Palocci, porém, julgou que seria um sinal ruim para o mercado e articulou com Meirelles uma mudança na prática. Depois de o CMN (Conselho Monetário Nacional) ter confirmado a meta de 4,5%, o Copom (Comitê de Política Monetária) divulgou que se esforçaria para atingir uma inflação de 5,1% no ano que vem.

Os diretores do Banco Central, que integram o Copom, órgão que se reúne mensalmente para fixar os juros, calculam que o recente processo de elevação da Selic levaria a inflação de 2005 a convergir para 5,3%. A meta de inflação tolera um intervalo de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos, o que faz o teto de 2005 ser de 7%.