Mercado

Lula afirma que Brasil não aceitará cartel dos poderosos contra biodiesel

Em campanha para tornar o álcool uma alternativa internacional aos combustíveis fósseis, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou ontem o programa semanal de rádio “Café com o Presidente” para avisar que o Brasil não aceitará que seu desenvolvimento seja atrapalhado pelo que chamou de cartel dos poderosos. Foi uma alusão indireta às nações que demonstram preocupações ambientais e com o futuro da oferta de alimentos frente à expansão do cultivo de canadeaçúcar, como as européias.

E também uma referência aos países produtores de petróleo, como as nações do Oriente Médio e a Venezuela.

Lula chegou a dizer que o Brasil precisa ter consciência de que tem “adversários que vão levantar todo e qualquer tipo de calúnia contra a qualidade do etanol e a qualidade do biodiesel”.

Para Lula, não há risco de etanol invadir Amazônia Ele mostrou-se irritado sobretudo com as críticas de países europeus. Há afirmações de que a plantação de cana-deaçúcar poderia invadir a Amazônia, além de alertas de que o deslocamento da produção de grãos poderia resultar em elevação dos preços dos alimentos na próxima década.

Lula observou que foram os portugueses que introduziram a cana no Brasil e só não a levaram para a Amazônia por uma simples razão: o local não é apropriado para esse tipo de cultivo.

— Esse é um debate que o Brasil não tem que ter medo. O que nós não vamos aceitar, outra vez, é o cartel dos poderosos do mundo tentando impedir que o Brasil se desenvolva, tentando impedir que o Brasil se transforme em uma grande nação.

Lula se disse convencido de que a produção de biocombustível ajudará no desenvolvimento dos países da América Latina e da África, e que é importante avaliar essa política sem mirar somente o mapa da Europa.

— O Brasil não pode abrir mão, em hipótese alguma, de defender a sua matriz energética revolucionária, que são o etanol e o biodiesel — declarou o presidente.

Lula afirmou que o país pretende mostrar ao mundo que essa tecnologia é importante por sua capacidade de geração de empregos e distribuição de renda: — É bem possível que os nossos adversários continuem levantando coisas contra o Brasil, e nós temos que estar preparados — afirmou.

Para o presidente, é descabida a acusação feita por países desenvolvidos de que a produção de biocombustíveis provocará uma falta de alimentos no mundo.

— Ora, seria preciso imaginar que o ser humano é irracional — disse Lula. — A primeira energia de que o ser humano precisa é sua própria, ou seja, é se alimentar para ter forças para produzir a outra energia. Eu acho uma coisa totalmente descabida.

Combustível limpo que polui

Fábrica de biodiesel no Ceará é multada em R$ 300 mil

FORTALEZA. Nem sempre o biodiesel é um combustível limpo, como propagado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em Crateús, município que fica a 354 quilômetros de Fortaleza, a usina Brasil Ecodiesel foi multada em R$ 300 mil pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace), no mês passado, por ter poluído o Rio Poti. A fábrica, inaugurada em janeiro pelo presidente Lula, tem capacidade para produzir 118 milhões de litros por ano de biodiesel e funciona às margens do Poti.

Com orientação de técnicos da Semace e da Petrobras, a Brasil Ecodiesel se prepara agora para realizar um trabalho de limpeza do rio. O Poti é federalizado porque corta dois estados, Ceará e Piauí.

A poluição é anterior ao funcionamento da usina. Mas teria se agravado após a entrada em operação da unidade esmagadora de mamona.

A Semace constatou a piora na qualidade da água por meio de análise de amostras coletadas em 13 diferentes pontos. O órgão também identificou e multou outros dois agentes poluidores: a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (R$ 50 mil) e um posto de gasolina (R$ 5 mil). Mas a Semace garante não ter dúvidas de que a fábrica de biodiesel é a maior responsável pelo aumento da poluição.

A empresa contesta e recorreu da multa com base num estudo encomendado ao professor Raimundo Nonato, PhD da Universidade Federal do Ceará, que comprovaria que a usina não é responsável pela atual contaminação do Rio Poti. A Semace exigiu uma auditoria, e a licença ambiental da usina, hoje em fase de renovação, só será concedida quando o problema for sanado.

Desde maio, a unidade esmagadora da Brasil Ecodiesel em Crateús está desativada, segundo a empresa, devido a uma decisão estratégica.

Este mês, uma liminar da 1ª Vara da Comarca de Crateús determinou a suspensão temporária das atividades de esmagamento da usina, que vai recorrer da decisão.

Há dois meses, um forte odor exalou das águas do Poti, e a população foi surpreendida por uma grande mortandade de peixes. Quem mora mais perto do rio queixou-se de irritação nas narinas e até de coceira na pele. A fábrica passou a ser alvo de protestos liderados pelo padre da cidade, Davi Silva.