
Principal frente de negócios da Louis Dreyfus Commodities (LDC) no mundo atualmente, o Brasil deverá absorver 20% dos investimentos globais de US$ 4 bilhões que a multinacional francesa planeja realizar para fortalecer suas operações nos próximos cinco anos. E, como no caso de concorrentes como ADM, Bunge e Cargill, a maior parte dos recursos destinados ao país deverá ser aplicada em logística, especialmente na região Norte.

“Novato” no grupo, Vidal, que tem 44 anos, evita comentários sobre as inúmeras mudanças na gestão da multinacional nos últimos anos, nos planos global e local. Não considera que tenha sido um período de turbulência, ainda que o grupo tenha sido alvo das mais variadas especulações sobre seu futuro. Muitos analistas chegaram a afirmar que o conglomerado francês só sobreviveria à maior concorrência entre as tradings, inclusive as asiáticas, se fundisse seus negócios com os de alguma rival.

Mudanças aconteceram, é verdade, mas nada tão radical. No Brasil, por exemplo, foi marcante o “spin off” dos negócios de açúcar e etanol que resultou na criação da Biosev, que abriu o capital em 2013. Mas a vida continuou. “As mudanças que aconteceram fazem parte de uma fase normal da evolução do grupo”, afirma Vidal. “O importante, agora, é melhorar nossa comunicação interna, fomentar o trabalho em equipe e entregar resultados, mantendo uma visão de longo prazo”, acredita. E bola para frente.
Aparentemente menos preocupada em ampliar o portfólio de produtos de maior valor agregado do que em ganhar mais eficiência ao longo das cadeias produtivas nas quais atua, principalmente grãos, a LDC Brasil já começou a incrementar os investimentos para expandir cada vez mais o escoamento de grãos destinados à exportação pelo Norte do país.
Em parceria com outras empresas, entre as quais a também multinacional Glencore e a Amaggi, controlada pela família do senador Blairo Maggi (PR-MT), a LDC já opera no porto de Itaqui, no Maranhão, o Tegram, primeiro terminal exclusivo para grãos do Estado. E, paralelamente, começa a avançar o projeto de construção de um terminal de transbordo no rio Tapajós, que corta o Pará. Essa é frente que deverá absorver a maior parte dos investimentos previstos para os próximos anos.
“É um projeto de três ou quatro anos. Depois dos aportes na operação da hidrovia, teremos investimentos portuários a fazer, que ainda estão indefinidos [e dependem do andamento do processo de concessão de terminais à iniciativa privada]”. Em cinco ou seis anos, Vidal estima que a LDC estará transportando cerca de 3 milhões de toneladas de grãos pelo Tapajós. Pelo Tegram, o escoamento dos parceiros poderá chegar a 10 milhões de toneladas até 2022, como já informou o Valor.
Para navegar pelo Tapajós, afirma o CEO, a LDC Brasil provavelmente contará com barcaça e empurradores próprios e aproveitará a experiência que tem a partir de operações na hidrovia Tietê-Paraná – atualmente paradas por conta da estiagem do ano passado – e também no Paraguai. “Ao mesmo tempo, vamos investir para ampliar a originação de grãos e em armazéns. Avançar na cadeia produtiva depende dessa competitividade”, diz Vidal.
Com esses aportes em “negócios que fazem sentido”, como pontua o executivo, a expectativa é que a movimentação de grãos da LDC no Brasil, que em 2014 alcançou cerca de 10 milhões de toneladas (a soja respondeu por 75% do total e o milho pelos 25% restantes), aumente em até 50% nos próximos anos. Na área de grãos, Vidal também realça a expansão das operações no mercado de milho após a aquisição, em 2014, da Kowalski Alimentos, dona de unidades de processamento e produção de itens de maior valor agregado em Apucarana (PR) e Rio Verde (GO).
Ainda sobre os negócios no país, Vidal reafirma o compromisso da LDC de manter uma posição firme no mercado de suco de laranja – a empresa é a terceira maior exportadora do produto brasileiro, atrás de Citrosuco e Cutrale – e acredita que é possível ampliar a participação no mercado de café, no qual já movimenta 250 mil toneladas por ano, boa parte para exportação.
Em 2014, a receita líquida da LDC Commodities Brasil e suas controladas ficou estável em R$ 13,9 bilhões. E, segundo balanço publicado no “Diário Oficial Empresarial de São Paulo”, houve prejuízo de R$ 166,9 milhões, ante perda de R$ 131,6 milhões em 2013. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), os embarques da múlti a partir do país renderam US$ 476,9 milhões no primeiro trimestre, 39,5% menos que em igual período de 2014. Já os resultados globais do grupo melhoraram em 2014.
(Fonte: Valor Econômico)